terça-feira, novembro 01, 2005

Doença maldita



Vê a noite que rasteja nos meus olhos
e devora-a com a tua boca quente
até que o último pedaço de escuridão
rendido desfaleça na cama.
Deixa ficar o sol colado à porta
porque não precisamos dele
aqui deitados nos lençóis
encadeados pelo brilho dourado do teu cabelo
e deliciosamente aconchegados
pela visão de uma tela colorida que pintamos
quando juntos fundimos os olhares
na ponta do mesmo pincel.

Grita comigo os teus medos
para que fiquem pendurados no tecto
presos nas sombras das nossas almas
e para sempre impedidos de nos tocarem nas costas
com mais um dedo sujo de vergonha.

Apaga todos os nossos pensamentos
com a tua língua de borracha
enrolada na minha boca
e suga todo o fel
que encontrares perdido dentro de mim
sem deixar esquecido nenhum recanto.
Vasculha-me à vontade
e livra-te de fazeres cerimónia
ou de lavares as mãos
antes de as esfregares no meu corpo
porque eu não quero
perder o gosto de sentir o teu cheiro
entranhado na minha pele.

Quero-te assim naturalmente suado
cansado das correrias
e com os joelhos pisados
de tantas quedas no relvado.
Quero ver os restos do sofrimento
estampado no teu rosto
misturado com as gotas de suor
que me darás a beber
num beijo vitorioso.

Não tenhas medo de sofrer novamente
porque eu ensino-te
a curar todas as feridas
e a remendar todos os buracos
que uma paixão involuntária possa abrir no teu peito.
Deixa-me curar-te de todas as doenças
que assolam o teu corpo
injectando o meu amor por ti nessas veias.
Vais ver que não dói nada
porque só em mim poderá doer
se ele não for a tua cura.

Daniela Pereira

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