domingo, julho 31, 2005

Gritar com os dedos



ESCREVE...escreve todas as palavras
que te assaltarem a mente
e não hesites em prendê-las no papel
se sentires que elas tentam fugir dos teus lábios.

MATA... mata todos os espaços em branco
afogando-os em rios de tinta preta
até deslumbrares algumas letras confusas
boiando nas tuas folhas .

BEIJA...beija todos os teus versos
com a intensidade que te rasga a alma
e mancha as tuas palavras de batom
enquanto o teu coração segura a caneta na boca

CHORA...chora todas as tuas lágrimas
mas não as deites fora num mísero lenço de papel...
Faz delas andorinhas
e deixa-as chocar com o mar salgado
até que as ondas lambam todo o seu sal.

Depois, espera com as mãos bem abertas
que chovam sorrisos
das nuvens que pintaste logo pela manhã
com os olhos vendados.

Daniela Pereira 27/07/05

quarta-feira, julho 13, 2005

Pensamentos ainda em branco...




Não consigo escrever um poema que abranja tudo o que sinto... faltam-me as palavras de um novo dicionário inventado ao luar.
Foram cem, provavelmente seriam talvez duzentas as folhas que escrevi agarrada a um coração entorpecido de paixão.
Saltei as noites com os olhos abertos e os pensamentos girando na cabeça roubaram-me o sono .
Preguei os dias no peito e fui cravando os desejos incessantes cada vez mais fundo para não os perder enquanto caminhava numa estrada vazia algures no tempo.
Amei com uma garra que julgava já não possuir, porque alguém a teria arrancado à força durante a minha última queda. Amei?...Não amei, amo e amo cada vez mais num silêncio que me trespassa e corta –me o corpo em finas fatias de pele suada. Respondo à sua chamada com os braços abertos sempre prontos para aquele abraço esmagado de ternura. Sempre com sorrisos despidos nos lábios num strip lento e os beijos quentes ardendo no céu da boca.
Dispo-me para ti... lavo dos olhos as lágrimas ácidas com a suavidade de um óleo de rosas e percorro o rosto com uma fina camada de creme hidratante para ocultar o deserto traçado na cara pelas mãos secas da saudade.
Escolho aquele perfume que sei que anestesia os teus sentidos e enrolo-me no teu corpo como um animal assustado pedindo abrigo.
Sinto o teu calor aquecendo cada pedaço nu que aconchegas e converto-me numa fera com os olhos fulminando a escuridão e rasgo a tua alma com os meus dedos.
Depois não me recordo de mais nada...calo os sons da noite , engulo os gemidos com água na boca e adormeço tranquila com uma folha de papel na mão ainda em branco.

Daniela Pereira- 13/07/05

segunda-feira, julho 04, 2005

Na calada da noite



Tenho saudades...
Do meu todo
Do teu nada
Daquele tempo que eu parava
sem precisar de abanar o relógio
retorcido na apressada caminhada dos minutos.
De tatuar mais um beijo abafado
numa almofada de palavras aconchegantes
escritas no silêncio de uma noite de cetim.

Da lua a rasgar o céu
com lâminas de prata
deixando desejos fragmentados
incorporados nas estrelas
que brilhavam solitárias
no vazio do meu regaço.

Dos meus olhos escuros
projectando sombras na parede
na presença de um sol
encalhado nas pestanas
e repartido com generosidade
numa pele morena arrefecida
na frieza de uma solidão.

Tenho saudades...
De sorrir
com a boca enfeitada de rosas rubras
e a satisfação
espelhada nos lábios
pintados de fresco.
.
Do aroma
a maresia
que os teus olhos
espalhavam nas tardes partilhadas
na transparência de uma tela de vidro.

Da onda de calor invadindo o inverno dos nossos corpos
deitados numa lareira imaginada por mim
com a chuva pingando dos dedos
sempre pronta a apagar alguma chama esquecida por ti
antes de partires para o teu mundo real.

Tenho saudades
e este sentimento não me abandona nem por um segundo
mesmo depois de ter tentado mil vezes
na calada da noite
afogá-lo num imenso mar de lágrimas sorridentes.

Daniela Pereira 04/07/05