Improvável..imprevisível...impotente..
Aqui jazem problemas e soluções num trio incoerente..
marcham por caminhos desavindos
e não se abraçam mais
quando o medo
rasga a noite
numa escuridão nua...
Já não cruzam
olhares ao fundo da rua
e as paredes já não lhes sentem
os beijos de gato
segredados à luz da lua...
Foi em granito que te esculpi...
mais duro que o aço..
mais rude que a gralha que ri
enquanto imita a tua canção...
mais cristalino que o sal que me queima a boca.
Tens o ar das serras nos pulmões
e nas costelas que te erguem gigante
tens a dor dobrada
de quem se fez chão
para te ver quebrar mais uma onda...
Colhidos os morangos com a boca...
bebidos os suspiros
e inspirados todos os ramos de alfazema
só uma triste balada ficou
e um mar de órgãos imperfeitos
por transplantar..
Um pulmão que cheira a fumo
por todas as noites cravadas
à tua sã nicotina
que sabia a maçãs...
Um rim que não drena
do sangue as impurezas
e as belezas
injectadas nas veias...
Se eu pudesse tossir
todas as estrelas e as madrugadas
onde me costurei a ti...
Se eu pudesse expelir as lembranças...
as lembranças...
como se fossem corpos estranhos
morreriam-me as fraquezas...
E o coração?
Aquela chama por apagar...
E as pirâmides que desenhei nos teus desertos?
E as rosas com que enfeitei as tuas poeiras?
E as luzes púrpuras que acendi nos teus sonhos?
E os quadros de infância que bordei com risos e tranças?
E...E..E..e um pouco mais de um nada indivisível
a repartir em 3 tempos
nos ponteiros de uma agulha incontinente...
Aqui jazem problemas e soluções
com o verbo respirar
perdido e incerto...
Daniela Pereira
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