terça-feira, setembro 29, 2009

Vasos (des)comunicantes


Se cada gesto mudado fosse a primeira pedra para construir a diferença..o mundo saberia que muros inflexíveis não prendem pensamentos com cimento fresco...


Daniela Pereira in Vasos (des)comunicantes
Direitos de autor reservados

segunda-feira, setembro 21, 2009

Mornas intenções





Quero andorinhas nos beirais do telhado
e folhas secas caídas aos pés da mesa...
Rostos para expor nas varandas,bem regados
para os ver a crescer nítidos e formosos..
Como os lírios selvagens que rompem raízes nos vasos
para por de pé as flores....

E o meu tapete de folhas secas para cobrir-me de chá de hortelã
até cheirar a pimenta nas mãos a arder.
Ardem luas no meu vestido
e há sois a pé coxinho inquietos nos meus seios.
Tenho sangue a saltar à corda nas minhas veias
e o coração parece estar concorrido com filas nas portarias.

Vou já!Não me esqueço de dizer...
Quero foguetes a estoirarem-me os olhos...
quero ver todo o fogo que tenho no meu olhar bem preso.
As estrelas levo-as pela mão até encontrar na escuridão
emprestada a luz própria do meu caminho.
Ainda escrevo mais um poema um poema para adormecer...
depois dispo-me de poeiras e fujo do ninho.

Daniela Pereira in Mornas intenções
Direitos Reservados
Fotografia @ Daniela Pereira

sexta-feira, setembro 11, 2009

Capas negras e um fado mal amado...




Improvável..imprevisível...impotente..

Aqui jazem problemas e soluções num trio incoerente..
marcham por caminhos desavindos
e não se abraçam mais
quando o medo
rasga a noite
numa escuridão nua...
Já não cruzam
olhares ao fundo da rua
e as paredes já não lhes sentem
os beijos de gato
segredados à luz da lua...


Foi em granito que te esculpi...
mais duro que o aço..
mais rude que a gralha que ri
enquanto imita a tua canção...
mais cristalino que o sal que me queima a boca.
Tens o ar das serras nos pulmões
e nas costelas que te erguem gigante
tens a dor dobrada
de quem se fez chão
para te ver quebrar mais uma onda...

Colhidos os morangos com a boca...
bebidos os suspiros
e inspirados todos os ramos de alfazema
só uma triste balada ficou
e um mar de órgãos imperfeitos
por transplantar..

Um pulmão que cheira a fumo
por todas as noites cravadas
à tua sã nicotina
que sabia a maçãs...
Um rim que não drena
do sangue as impurezas
e as belezas
injectadas nas veias...
Se eu pudesse tossir
todas as estrelas e as madrugadas
onde me costurei a ti...
Se eu pudesse expelir as lembranças...
as lembranças...
como se fossem corpos estranhos
morreriam-me as fraquezas...
E o coração?
Aquela chama por apagar...
E as pirâmides que desenhei nos teus desertos?
E as rosas com que enfeitei as tuas poeiras?
E as luzes púrpuras que acendi nos teus sonhos?
E os quadros de infância que bordei com risos e tranças?
E...E..E..e um pouco mais de um nada indivisível
a repartir em 3 tempos
nos ponteiros de uma agulha incontinente...

Aqui jazem problemas e soluções
com o verbo respirar
perdido e incerto...

Daniela Pereira
Direitos Reservados

terça-feira, setembro 08, 2009

Juras drogadas...







Não há mar
numa fogueira à deriva...
nem brasas acesas
que sobrevivam
no fundo de um poço...
Porque não se queima o sal
com o calor de uma maré...
nem se incendeia a tristeza
só porque ateamos
uma chama mais profunda.

Não existem estrelas apagadas
a espiar-nos os olhos nas varandas...
nem um luar esperto
que no peito
da escuridão não se divida...
Porque a melancolia
guarda punhais adormecidos
a reluzir das lembranças...

Não há um rio licoroso
a boiar nas bordas do meu corpo...
nem beijos de moscatel
para afogar no perfume de um jardim...
Se na minha boca
não vieres beber
rosas com gosto...

A droga da solidão
já jurou que
não tem mais veias
por onde escorrer
com liberdade...
Mas não pode haver
mais juramento
sem videiras fartas por colher...
E sem céus dourados para caminhar...
todas as promessas
estão drogadas...

Há uma alucinação por desprender
da mente mal passada
e um sonho por remendar
no coração mal rasgado...
Depois...
há um poema abençoado
e uma lágrima que fica por tingir...

Daniela Pereira
Direitos Reservados

terça-feira, setembro 01, 2009

6 em linha...





O que me faz falta é limpar as sombras do sorriso e todas as lágrimas que me sujavam o vestido...
Atirar com os arco-íris contra os lagos e beber água de todas as cores...
Pôr a terra no seu chão e escavar as montanhas à procura de mais nada recebendo com as mãos sujas mais um pouco de tudo o que dei...
O que me faz falta é deixar as estrelas a passearem radiosas por aí..um dia serei uma delas e terei uma imensidão de poeiras para contar...


Daniela Pereira
Direitos Reservados