segunda-feira, junho 11, 2012

Na minha boca..




Já te amei os dedos
como quem ama o mais perfeito raio de sol
que nos rompe a pele pela manhã...
Foram aves loucas e bravias
e o meu corpo era o céu
que no vazio trespassavam
com os pensamentos mergulhados em escuridão.
Na  minha boca havia luz...
Mil e uma cores perdidas
enroscadas nos teus ossos
desenhavam dentro de mim
uma estrada onde todos os sonhos iam dar.
Já te amei os dedos
como quem ama o luar mais encantador
que transforma a noite das sombras
num jardim de estrelas cadentes...
Fomos serpentes sem cabeça
a rastejar nos lençóis de fumo branco
e o meu corpo foi a brisa
que as tuas dúvidas cuspiu sem hesitar.
Na minha boca havia luz...
No teu coração morava um sórdido pesar.

Daniela G.Pereira
Direitos de Autor Reservados

domingo, junho 03, 2012

Leitores inesperados


"Leitores inesperados"...

Como uma das autoras do livro Contos Do Nosso Tempo, estou a ter o prazer comum a todos os mortais.. o prazer de ler.Quem ama escrever...ama sentir as suas palavras,mas também ama com a mesma intensidade as palavras dos outros.Ler é uma viagem e quando a viagem é saborosa, em pouco tempo estamos de olhos fechados a imaginar que fazemos parte daquele mundo que nos oferecem no virar de cada página.Por isso partilho aqui as primeiras sensações e emoções sentidas ao mergulhar neste livro...


Iniciei a tarde com um pouco de chuva a vibrar na janela do meu quarto.Mas havia luz lá fora e as sombras não me desviaram da vontade de te ler.Abri o teu estômago ainda a saber a fresco sem pó acumulado nas costuras.Estavas novo e cheiravas tão bem a folhas escritas por cem dedos.Conheci a Laura , uma menina frágil abandonada a uma triste, que o mundo parecia não querer mudar... Mas conheci um belo ser que olhou aquela fragilidade esquecida num rosto tão belo de criança com olhos a quererem sorrir e uma nova esperança cresceu no meu peito.Ainda podia acontecer um final feliz e uma mãe que não pariu ia receber aquela doçura infantil como sua. Abraçaria todas as suas dores e o mundo ia dar-lhe um lar como lembrança.Limpei os dedos suados das emoções que me escorriam na hora de partir deste mundo que nos meus olhos se via.Entrei numa casa onde as paredes estavam quietas e os gritos já não se ouviam.A mesa da cozinha já não brilhava com talhares em pares ordeiros e os copos estavam vazios. Dois corpos separavam vidas..recolhiam os despojos das rotinas dos dias e embalavam as memórias sem nada sentir.Talvez, crescia um frio que me perturbava a mente...como se as minhas memórias entrassem porta adentro sem avisar.Mas a direcção do vento mudou e a paixão das noites abriu dois corações partidos de par em par. Chamei pela Tia Graça que senti ser tão ladina e amante das palavras que conheço. Uma criança sonhava em ser mulher e nos seus olhos ,os passos e os risos soltos da tia Graça enchiam-lhe o coração de esperança e de sonhos com gosto a rebuçado.Palavras livres e folhas de papel soltas ao sabor do vento,faziam borboletas no peito de uma menina já tão mulher. E o sol rompeu as sombras do meu quarto e um aroma intenso a Domingo fez-se no meu leito sentir.Paris entrou-me no quarto,com todas as cores e todas as luzes que a noite dos amantes sabe desenhar no papel de parede.Fechei os olhos e deixei-me ficar ali parada,a imaginar o calor que irradiava naquele quarto onde o amor era uma fruta desnudada e os amantes escravos da uma inundada paixão. E assim fiquei,debruçada no precipício que separava os vossos intensos mundos.

Daniela Pereira in Leitores Inesperados

Contos de:

Álvaro Gomes- Laura Pérola

Ana Fonseca da Luz- Só nós três é que sabemos e A minha tia Graça

Ana Maria Domingues - Domingo Mergulhado na Tua Boca