Acordas... pegas no teu corpo como quem transporta um fardo pesado e deixas ir o arrepio que te fez suar a espinha toda a noite. Violas o tempo apressada, ansiosa por chegar a qualquer lado, mas ainda não partiste do teu interior. Promoves o teu coração a um estatuto de brinquedo e ele lá fica pousado em cima da mesa e o destino com vontade de agitá-lo nas mãos. Sacodem-te a alegria como se a alegria fosse um jogo que só alguns podem jogar e o dado fica negro. Deixas o tempo fugir mas ele volta e olha para ti com desdém. As nuvens regressam com o rosto altivo a marcar presença na tua luz.O mundo suga-te a escuridão, parece que tens que alimentá-la num prejuízo sem fim. E as nuvens voltam, negras e sujas como pedras de carvão que te escrevem no peito a cor dos teus dias. Desejas a noite..desejas a noite com fervor. Porque na noite tens instantes em que descansas com o dia abandonado do lado de fora da tua porta. Acreditas nos beijos, nos carinhos e nas palavras que te dizem e lá vais tu outra vez a sorrir montanha acima esquecida de todas as quedas. Protegida por sentimentos temporários pendurados no relógio oscilando o teu calor como se o teu coração fosse uma manta que o frio promete combater. Tens frio... as pedras da tua rua vivem descalças.
Daniela Pereira in O teu acordar tem segredos...
Direitos de autor reservados
quinta-feira, janeiro 31, 2013
terça-feira, janeiro 15, 2013
Por um sorriso .
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Por um sorriso .
As coisas inúteis partiram... Não
disseram adeus. Fizeram as malas e partiram. Não partiram a sorrir,
simplesmente enfiaram os tempos e os momentos numa mala e foram pelo
teu coração acima.
Sem nada dizer...sem nada fazer. As
coisas inúteis partiram.
E tu que sonhavas ter uma casa...não,
duas casas...três...quatro. Todas as casas que fossem necessárias
para alojar os teus amigos. Os que já partiram porque o destino os
levou. Os que não quiseram ficar. Os que ainda cá estão. E tu que
sonhavas ter uma casa...não, duas ou três... todas as que tivessem
espaço para os albergar. Ias desenterrar os mortos, as memórias
mais podres e feias, ias lavar a cara, sacudir o pó e dar-lhes
flores. As flores mais belas e luminosas que pudesses semear em ti.
Ias desenterrar os mortos e cuidar deles, mesmo quando precisasses de
cuidar mais de ti.
Já os vês sentados no sofá, sorrindo
para ti outra vez e tu a sorrir de volta.
Os amigos que partiram... aqueles que
cruzaram oceanos, que foram correr a vida para terras distantes. Os
que partiram carrancudos e sem remorsos... os que viajaram com o
coração saudoso...os que ainda te lembram e te recordam na
melancolia dos dias como uma folha de um livro que dá prazer rever.
As coisas inúteis partiram. Algumas
fazem doer por dentro. Não dói sempre...é só de vez em quando.
Aquela dor fininha, como uma picada e fechamos os olhos esperando
que logo passe. Mas outras coisas inúteis magoam a valer, ficam
feridas que incomodam, que nos desencantam. Mas até essas por perto
queríamos de novo ter. Aquele masoquismo saudoso que só as coisas
inúteis em nós sabem promover.
E nós com as casas de portas abertas,
sempre abertas... Deixamos entrar o vento, o frio.. morremos com as
correntes de ar. Mas nunca fechamos as portas... bater com a porta, é
forte. Ganhamos doenças, latejamos dores de cabeça, mas abrimos as
portas. Sonhamos que é possível...e construímos casas e casas e
deixamos as portas abertas. Novamente abertas... E se fosse realmente
possível? E se abrir as portas e deixar entrar fosse a solução de
todos os nossos problemas? Mataríamos a dor, sem que ela sequer
estivesse à espera. E os amigos que partiram, os amores que
deixaram de ser, as paixões que perderam a chama..tudo ali de novo à
tua porta, sorrindo e pedindo para entrar. E entravam. Sentavam os
corpos e as memórias , ali bem ao teu lado. Sem dor, sem
ressentimentos, sem amarguras...estavam nus de prantos. Límpidos,
transparentes como gotas de água para matar a tua sede. E tu
recebias no teu coração todos... todos e o teu coração
continuava largo com tanto espaço para preencher e tu rias, rias e
eles riam contigo. Davam gargalhadas bem alto, abraçavam-te com
força e tu sorrias e dizias as coisas mais profundas sem abrires a
tua boca. Falavas com o olhar e o teu olhar tinha todas as cores. Nos
teus olhos, os astrónomos descobriam perplexos o habitat de novas e
desconhecidas estrelas e tu rias. Coravas e dizias que os teus olhos
são tão normais...e as coisas inúteis sacudiam a cabeça num gesto
de reprovação. E tu ficavas tão admirada, tão repleta de prazeres
dentro de ti que até a tua pele rejuvenescia. E as coisas inúteis
que tanto amavas continuavam a entrar e perguntavam por ti. Então
como estás? ...e tu abrias os braços com a amplitude maior do teu
ser e abraçavas..abraçavas até ficares com os braços tontos. As
coisas inúteis gostavam de ser úteis em ti outra vez.
Daniela G. Pereira
Direitos de Autor Reservados
P.S: G* T* P* R*
segunda-feira, janeiro 14, 2013
uma vírgula e um ponto.
Dizem que as palavras acordaram
doentes, com uma ilimitada febre de respirar. Respiram sentimentos e
eles, tão severos e malditos, capazes de sufocar.
Dizem que as palavras deitaram-se mais tímidas e que ainda ontem eram de
vidro, tão prontas para quebrar... Mas o mundo diz tanta coisa que bem
podia morrer um pouco e furar as pedras do chão. Há crise...até dos
corações despediram o abraçar.
Daniela G. Pereira
Daniela G. Pereira
segunda-feira, janeiro 07, 2013
Os palhaços da tua alma...
O riso vai longe...
A rua da alegria desertou.
As bocas cheias estão vazias de antigamentes...
A garganta engravidou ainda tão nova
dos teus futuros poluídos.
Canta o sol que estancou na paragem
e a chuva seguiu viagem
calada de esperanças.
O riso saiu da rua
porque os Homens maus
atiravam pedras.
Dizem as más línguas
que as almas dos outros
caíram na desgraça...
De costas voltadas para a lua
aparafusam nervos cerrados entre os dentes.
Fingem melhor alegria
que duas dúzias de palhaços nos sonhos das crianças...
O riso vai longe...
A rua da alegria desertou.
As almas dos outros
guardam balões amarrados na cobardia
das palavras fechadas nos teus dedos.
O riso vai longe...
Descobriu que o medo
estava mais perto.
Daniela G. Pereira
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