Tenho saudades da urgência de querer escrever...
Das dobras no papel e dos dedos já cansados de expressões pedindo guarida na almofada.
Das ideias mal paradas na cabeça e da boca a salivar mais palavras como sobremesa.
Mas sem sentimentos não há palavras...só sobrevivem ecos inseguros
e as palavras que nascem por dentro são como rochas que nem o mar desfaz.
Vale a pena dizer o óbvio?
Vale a pena deduzir o passado numa folha como se o tempo pudesse ser vestido numa pintura?
Tenho saudades da urgência de querer escrever...
Do inclinar perante o peito aberto com os olhos a brilhar
mesmo quando um rio de sal neles se distingue...
O vento limpa-lhes o rosto e os olhos cristalinos por momentos podem ver e chorar ao pé do mundo.
Existem poetas que aprendem a moldar emoções
como se fossem grandes desafios
e existem poetas que vivem nas palavras noites de dor e de puro encanto.
Alguns mais cedo ou mais tarde perdem a voz e recusam a lição dos pássaros mergulhados num silêncio que só o Inverno conhece...
A Primavera deixa de ser bela e todas as estações são frias...
As folhas são como verdades juradas
que se espalham amargas pelo chão
e o Amor morre calado com a boca cheia de formigas.
Rasgamos mais uma folha e os sentimentos caminham sozinhos para o lixo.
Daniela Pereira
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