sexta-feira, junho 07, 2013

Em que pensas... ?

Em que pensas?...




Penso no Amor... naquele vírus estranho que nos consome a alma até fazer sangue. Não o vejo como uma doença, nem um mal fatal mas é certo que às vezes dá com tanta força que no fim até parece que mata. Mas afinal ainda estamos aqui... logo, o Amor morreu mas ele tem muitas raízes, muitos vácuos escondidos onde depositar a sua semente. É como uma roseira... bela, forte e perigosa com o corpo esguio coberto de dolorosos espinhos mas nos nossos olhos há uma beleza que cega. E nós amamos... e há tantas formas de amar que por vezes chega a ser assustador compreender que um sentimento que nasce por dentro, explode para fora se lhe acendemos o rastilho e ao mínimo descuido jamais o paramos. E pensar que o Amor surge de um amontoado de coisas pequenas! Daquelas coisas pequenas.... gestos insignificantes...marcas leves e pormenores que só a ti mesmo interessam. São os teus delicados segredos. Aquela onda no cabelo que dança no vento, aquele sorriso que deita por terra todas as tristezas por mais que elas se debatam, aquele olhar perdido onde vemos tudo..tudo, até mesmo aquilo que não pode existir a não ser que tenhas passado a viver deitada num sonho. Mas tu juras que vês! Sim, naquele olhar..naqueles olhos pretos cabem cidades inteiras..luares de agosto, ruas apinhadas de gente...não importa a multidão que graceja à tua volta. Naquele olhar estás sozinha...é assim que te sentes sozinha, mas com ele, com aquele vírus que sufoca e te enrola o ar porque ocupa em ti todo o espaço. Tens a capacidade de apagar o resto do mundo... não para sempre, mas naquele instante de tempo onde se cruzam olhares cresces em mim viçoso de confiança. E a confiança cresce, cresce dentro de mim devorando medos, alimentando entregas, removendo memórias numa lavagem cerebral de pura amnésia. O sol brilha como se tivesse engolido mil e duas lâmpadas , os passarinhos são tenores e nem por um segundo desafinam, os sorrisos nas nossas bocas são perfeitos e até a chuva por Deus, juro que já não me incomoda.
Em que pensas? ...
Penso no Amor que está doente.

Daniela G. Pereira
Direitos de Autor Reservados

quarta-feira, maio 22, 2013

O despertar da mente...



Há muito tempo que não te escrevo. Não escrevo nem para ti, nem para o senhor que ali vai com passo descansado a descer a rua... nem para o carteiro que tarda sempre a chegar. Simplesmente porque não escrevo. Não, por não ter nada para te dizer... não é isso. Acho mesmo que é precisamente o contrário. Há tanto para dizer e depois nada se diz. É contraditório, mas é realmente assim. Quando as palavras são muitas, a desordem de ideias é total. É um caos assustador e por isso fugimos do mundo num silêncio bem educado. Como se aquela palavra que devia ser exposta em primeiro lugar, ficasse demasiado importante...tão importante, que dela até depende um fim de uma guerra. É assim que eu me sinto, que as minhas palavras podem provocar guerras e mortes. Um valor desalinhado, uma expressão fora de tom e o mundo desaba...o meu mundo cai por terra, castigado pela força dos sentidos. A ironia de se pretender alcançar a paz com as palavras, achar que elas podem abrandar furacões e abraçar estrelas cadentes. Chegamos a um momento em que o tempo já não importa. Os meses não se contam, os anos são apenas mais um amontoado de meses e tudo fica normal, mesmo que essa normalidade seja falível. Por isso, eu não te escrevo. Sofro hoje de uma fobia que todas as minhas letras sentem quando se debruçam nas margens do papel. Depois, é o que se vê... dão saltos no escuro mas não avançam. Não têm por onde avançar, porque o caminho foi cortado e as palavras sem pontes morrem desejosas de alcançar uma estrada.


Daniela G. Pereira
Direitos de autor reservados


sábado, abril 27, 2013

Poema... aquele amor não agradecido.

Olho para o relógio
mas o tempo distorceu a matriz das horas...
Agora só o teu respirar
me condensa as vertigens no peito.
Dobras-me a boca
e os meus beijos rezam alto
todos os seus pecados
ajoelhados na verdade da tua língua.
Desistir da defesa e deixar o teu corpo
acorrentado ao meu...
Desistir adormecida no suor das tuas costas...
Nada tem de mal agradecido.
Há nos teus olhos um azul que transborda a infinito
prestes a desfazer-me na bravura das suas margens.
Avanças-me os sentidos e eu recuo as minhas pernas.

Renegado o amor que me atravessava o tempo ...
Querer-me a pulsar dentro de ti
é morrer em paz.

Daniela G. Pereira

Direitos de Autor Reservados


sexta-feira, abril 26, 2013

Raio x

Nada encontro que me explique...que me resuma em poucas linhas e em delicados traços. Nos meus olhos moram curvas que o tempo não esbate...
Eu sou... e acabo aqui a frase sem nada iniciar porque a promessa de nascer feliz calou-me o crescimento.

sexta-feira, março 22, 2013

Um pensamento pelo caminho...

Em que estás a pensar?
Por onde caminham os teus pensamentos mais profundos e as tuas mais translúcidas incertezas?...
Existe um mar esmeralda onde guardas os segredos que na tua voz ondulam assustados. A verdade é uma gaiola doirada onde prendes o que dizem ser mentira. Acreditar é uma mentira que o destino inventa para seguires em frente de cabeça erguida. E tu cá andas, meio embriagado pela vida que te escorregue por entre os dedos...beber os teus dias é um vício cheio de doçura que te engana os sentidos. Gostos amargos erraram a intensidade da tua boca, como erram sempre aqueles que ao pé de ti lavram ciosos beijos.


Daniela G. Pereira
Direitos de autor reservados

quarta-feira, março 13, 2013

Uma lamparina e um farol...

Tu chegas...
Chegas e fechas-me a garganta
como quem fecha a cor das rosas no fim de uma tarde.
Dizes que nas palavras albergo hinos e que nos silêncios não sobrevivo.
E eu fico de pé...com as raízes enfiadas na laringe e não suspiro.
Mato os ais com uns uis mais enfraquecidos
e o meu grito arrependido não adormece.
Faço de conta que há luz lá fora...
As estrelas são justas lamparinas para os que escrevem escuridão acima.
Para os que servem copos de incertezas com os olhos inundados de espanto.
Guiam-me as memórias... porque elas têm dentes e mordem-me a boca
só para que esqueças as ruas que cruzavas comigo assobiando o teu modo alegre.
Chegas e fechas-me a garganta...
E nos rios correm pérolas sem braços
porque o mar arrancou-lhes a esperança
como quem arranca o coração a um estranho e a si o oferece.
Faltou-lhe a coragem de acreditar em ti
e tu a inspirar a verdade para dentro
como se um ar puro em ti coubesse.

Daniela G. Pereira
Direitos de Autor Reservados



quinta-feira, janeiro 31, 2013

O teu acordar tem segredos... A 1ª noite

Acordas... pegas no teu corpo como quem transporta um fardo pesado e deixas ir o arrepio que te fez suar a espinha toda a noite. Violas o tempo apressada, ansiosa por chegar a qualquer lado, mas ainda não partiste do teu interior. Promoves o teu coração a um estatuto de brinquedo e ele lá fica pousado em cima da mesa e o destino com vontade de agitá-lo nas mãos. Sacodem-te a alegria como se a alegria fosse um jogo que só alguns podem jogar e o dado fica negro. Deixas o tempo fugir mas ele volta e olha para ti com desdém. As nuvens regressam com o rosto altivo a marcar presença na tua luz.O mundo suga-te a escuridão, parece que tens que alimentá-la num prejuízo sem fim. E as nuvens voltam, negras e sujas como pedras de carvão que te escrevem no peito a cor dos teus dias. Desejas a noite..desejas a noite com fervor. Porque na noite tens instantes em que descansas com o dia abandonado do lado de fora da tua porta. Acreditas nos beijos, nos carinhos e nas palavras que te dizem e lá vais tu outra vez a sorrir montanha acima esquecida de todas as quedas. Protegida por sentimentos temporários pendurados no relógio oscilando o teu calor como se o teu coração fosse uma manta que o frio promete combater. Tens frio... as pedras da tua rua vivem descalças.

Daniela Pereira in O teu acordar tem segredos...
Direitos de autor reservados



terça-feira, janeiro 15, 2013

Por um sorriso .

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Por um sorriso .



As coisas inúteis partiram... Não disseram adeus. Fizeram as malas e partiram. Não partiram a sorrir, simplesmente enfiaram os tempos e os momentos numa mala e foram pelo teu coração acima.
Sem nada dizer...sem nada fazer. As coisas inúteis partiram.
E tu que sonhavas ter uma casa...não, duas casas...três...quatro. Todas as casas que fossem necessárias para alojar os teus amigos. Os que já partiram porque o destino os levou. Os que não quiseram ficar. Os que ainda cá estão. E tu que sonhavas ter uma casa...não, duas ou três... todas as que tivessem espaço para os albergar. Ias desenterrar os mortos, as memórias mais podres e feias, ias lavar a cara, sacudir o pó e dar-lhes flores. As flores mais belas e luminosas que pudesses semear em ti. Ias desenterrar os mortos e cuidar deles, mesmo quando precisasses de cuidar mais de ti.
Já os vês sentados no sofá, sorrindo para ti outra vez e tu a sorrir de volta.
Os amigos que partiram... aqueles que cruzaram oceanos, que foram correr a vida para terras distantes. Os que partiram carrancudos e sem remorsos... os que viajaram com o coração saudoso...os que ainda te lembram e te recordam na melancolia dos dias como uma folha de um livro que dá prazer rever.
As coisas inúteis partiram. Algumas fazem doer por dentro. Não dói sempre...é só de vez em quando. Aquela dor fininha, como uma picada e fechamos os olhos esperando que logo passe. Mas outras coisas inúteis magoam a valer, ficam feridas que incomodam, que nos desencantam. Mas até essas por perto queríamos de novo ter. Aquele masoquismo saudoso que só as coisas inúteis em nós sabem promover.
E nós com as casas de portas abertas, sempre abertas... Deixamos entrar o vento, o frio.. morremos com as correntes de ar. Mas nunca fechamos as portas... bater com a porta, é forte. Ganhamos doenças, latejamos dores de cabeça, mas abrimos as portas. Sonhamos que é possível...e construímos casas e casas e deixamos as portas abertas. Novamente abertas... E se fosse realmente possível? E se abrir as portas e deixar entrar fosse a solução de todos os nossos problemas? Mataríamos a dor, sem que ela sequer estivesse à espera. E os amigos que partiram, os amores que deixaram de ser, as paixões que perderam a chama..tudo ali de novo à tua porta, sorrindo e pedindo para entrar. E entravam. Sentavam os corpos e as memórias , ali bem ao teu lado. Sem dor, sem ressentimentos, sem amarguras...estavam nus de prantos. Límpidos, transparentes como gotas de água para matar a tua sede. E tu recebias no teu coração todos... todos e o teu coração continuava largo com tanto espaço para preencher e tu rias, rias e eles riam contigo. Davam gargalhadas bem alto, abraçavam-te com força e tu sorrias e dizias as coisas mais profundas sem abrires a tua boca. Falavas com o olhar e o teu olhar tinha todas as cores. Nos teus olhos, os astrónomos descobriam perplexos o habitat de novas e desconhecidas estrelas e tu rias. Coravas e dizias que os teus olhos são tão normais...e as coisas inúteis sacudiam a cabeça num gesto de reprovação. E tu ficavas tão admirada, tão repleta de prazeres dentro de ti que até a tua pele rejuvenescia. E as coisas inúteis que tanto amavas continuavam a entrar e perguntavam por ti. Então como estás? ...e tu abrias os braços com a amplitude maior do teu ser e abraçavas..abraçavas até ficares com os braços tontos. As coisas inúteis gostavam de ser úteis em ti outra vez.

Daniela G. Pereira
Direitos de Autor Reservados

P.S: G* T* P* R*

segunda-feira, janeiro 14, 2013

uma vírgula e um ponto.



segunda-feira, janeiro 07, 2013

Os palhaços da tua alma...




O riso vai longe...
A rua da alegria desertou.
As bocas cheias estão vazias de antigamentes...
A garganta engravidou ainda tão nova
dos teus futuros poluídos.

Canta o sol que estancou na paragem
e a chuva seguiu viagem
calada de esperanças.
O riso saiu da rua
porque os Homens maus
atiravam pedras.

Dizem as más línguas
que as almas dos outros
caíram na desgraça...

De costas voltadas para a lua
aparafusam nervos cerrados entre os dentes.
Fingem melhor alegria
que duas dúzias de palhaços nos sonhos das crianças...


O riso vai longe...
A rua da alegria desertou.
As almas dos outros
guardam balões amarrados na cobardia
das palavras fechadas nos teus dedos.
O riso vai longe...
Descobriu que o medo
estava mais perto.

Daniela G. Pereira
Direitos de Autor Reservados