segunda-feira, março 21, 2022

Faço-me...

Faço-te um poema...
Hoje, prometo que te faço um poema até o sol se pôr.
Não tenho mais folhas nuas na gaveta...
Vesti-as todas com lágrimas e preconceitos.
Não te comovas logo, porque também lhes bordei nas bainhas alguns sorrisos.
Mas faço-te um poema..
Não te prometo versos apurados...
Nem sentimentos despidos e raivas desmedidas a cortar os pulsos com lâminas.
Não vou desencadear tempestades ou trepar de desejo na cultura dos teus ossos...
Tenho os dedos ocupados a tirar o resto da tua carne, que ficou presa aos meus dentes.
Hoje faço-te um poema que te diga muito..
Que te diga tudo o que ficou por dizer.
Às vezes roubas - me a língua ao céu da minha boca e calas-me a coragem.
Fico muda na ponta dos dedos e os meus olhos cegam com a tinta da caneta.
Faço-te um arranjo de palavras, só porque esqueci de colher a frescura das flores.
Faço-te uma letra de vidro, moldada no calor do meu gosto...
Há poesia nas coisas pequenas, se as souberes silenciar com o fogo dos teus sonhos gigantes.

quinta-feira, março 03, 2022

Regressão e um punhado de nuvens

Hoje não sinto evolução na humanidade... Sinto regressão, nestas nuvens cinzentas que se manifestam a favor do movimento do vento. Só vejo nuvens e tempestades numa fuga acelerada, cortando a garganta da paisagem. Deitam abaixo as folhas cansadas e amachucam com força, as mais ténues esperanças. A humanidade regressa à violência do Homem das cavernas.. O cérebro tem as sinapses cortadas, porque o pensamento está num beco sem saída. Brutos são os Homens, desde o primeiro choro com que se apresentam ruidosamente ao mundo, até aos gritos de poder que os moldam no futuro. Talvez se escutassem o silêncio que se ouve hoje nas ruas e no coração dos seres. .. A tristeza que tudo invade, até as flores no seu desabrochar trémulo de primavera. Se as nuvens fossem mais lentas nos gestos... Menos apressadas e cruéis. As folhas no chão não seriam tantas.