O amor brinca num baloiço
onde rodopia ou avança
Daniela Pereira
A porta está aberta...
Mas o sol não vai entrar
onde há um vinho alado pousado sobre a mesa
e dois copos de cristal por servir...
Estão nas paredes os novos quadros
que o rosto da rosa na tela pintou...
O tempo assinou a obra que o teu olhar por moeda alguma vendeu...
As cortinas choram lágrimas de renda
e a janela escreve notas de orvalho
como uma escrivã solitária que a luz das sombras o corpo seduz.
A porta está fechada...
A página passou dois minutos em branco
e aquecida na lareira
nasceu mais uma hora
e uma palavra morreu vestida de chamas.
Daniela Pereira
Direitos de Autor Reservados
Porque ainda me escrevo por palavras vãs
como se a negritude das minhas linhas fosse capaz de montar uma estrada?...
Vivo de moldar a matéria com que se fazem os sonhos
no entanto passo os dias acordada
a sentir quem se faz à vida com a força de um gigante
e deparo-me com as incertezas de uma formiga
com o chão fugindo por entre as marcas dos dedos.
Melancolicamente recordo os dias em que os sonhos faziam sentido
e dou por mim a desenhar as histórias dos outros...
a remendar-lhes os cacos e a tirar-lhe os espinhos
como se a ferida que arde em mim sarasse.
Porque ainda me escrevo em folhas soltas
se o tempo teima em apagar-me em todos os caminhos
para onde o vento livre um dia me levou? ...
Daniela Pereira
Num mundo de fast food, de conversas virtuais, relações apressadas, podemos falar de quê?
De amores sinceros? De amores eternos? Provavelmente não... o mundo gira com demasiada rapidez até para nos lembrarmos do nome da pessoa com quem dormimos na noite anterior.
Somos 3 homens e uma mulher e nesta aventura de dedos cruzados e pensamentos em alvoroço, pensámos falar das relações actuais... de pessoas... de encontros e desencontros... de homens correctos.. de traições... de mentiras... de desejos... de desilusões.
Temos fantasmas num palco... um casal perfeito que, na verdade, esconde defeitos... temos homens que querem tudo ao primeiro olhar e mulheres que sonham com o homem ideal. Queremos rir... queremos fazer pensar... talvez queiramos mesmo um olhar diferente para este mundo tão actual que esmaga os sentimentos com camiões de areia.
Vamos espreitar a felicidade dos outros?
"Já não se fazem Homens como antigamente" é um mundo que todos conhecem... é uma visita a uma mudança dos comportamentos humanos... é um Big Brother dos tempos modernos.. onde nem os sonhos mais íntimos escapam a esta janela aberta.
"Já não se fazem Homens como antigamente" , um livro editado pela Esfera do Caos... o mundo das relações humanas dissecado pelas mãos de Pedro Miguel Rocha... Daniela Pereira... João Pedro Duarte e Miguel Almeida..
Tenho saudades da urgência de querer escrever...
Das dobras no papel e dos dedos já cansados de expressões pedindo guarida na almofada.
Das ideias mal paradas na cabeça e da boca a salivar mais palavras como sobremesa.
Mas sem sentimentos não há palavras...só sobrevivem ecos inseguros
e as palavras que nascem por dentro são como rochas que nem o mar desfaz.
Vale a pena dizer o óbvio?
Vale a pena deduzir o passado numa folha como se o tempo pudesse ser vestido numa pintura?
Tenho saudades da urgência de querer escrever...
Do inclinar perante o peito aberto com os olhos a brilhar
mesmo quando um rio de sal neles se distingue...
O vento limpa-lhes o rosto e os olhos cristalinos por momentos podem ver e chorar ao pé do mundo.
Existem poetas que aprendem a moldar emoções
como se fossem grandes desafios
e existem poetas que vivem nas palavras noites de dor e de puro encanto.
Alguns mais cedo ou mais tarde perdem a voz e recusam a lição dos pássaros mergulhados num silêncio que só o Inverno conhece...
A Primavera deixa de ser bela e todas as estações são frias...
As folhas são como verdades juradas
que se espalham amargas pelo chão
e o Amor morre calado com a boca cheia de formigas.
Rasgamos mais uma folha e os sentimentos caminham sozinhos para o lixo.
Daniela Pereira
Direitos de Autor Reservados
E agora,José?
O céu perdeu a cor
e as curvas do caminho já se encontram baças....
Morres-me primeiro ou suicido as aves sem penas que tentam em vão voar?
E agora, José?
Perdeste a voz de rouxinol
e ainda ontem dizias ser cantor
reclamando que os silêncios da rua te eram nefastos.
E agora, José?
Ficas a rir das tuas desventuras ou vais à deriva procurar novas conquistas?
Ainda ontem colhias maçãs no pomar e hoje plantas rugas na varanda
E agora,José?
Morres-me primeiro ou suicido as aves sem penas que não te ensinaram a voar?
Daniela Pereira
Direitos de Autor Reservados
Dizes sofrer de uma paixão avassaladora por letras e reticências imprevistas
mas só te vejo comer palavras em sopas frias...colherada após colherada num exercício de concentração forçada.
Fazes gemadas com o amarelo dos ovos e podias pintar canários nas pontas do sol...
depenar os pavões e substituir o orgulho das penas por credos de papel.
Dizes ser portadora de emoções profundas mas nunca te vi cavar um poço em terras de poucas águas...talvez sintas que o mar é uma cama maior para as tuas insólitas paixões.
Fazes borboletas de papel mas nunca te senti presa nos braços do vento que as fazem voar... Dizes ser alheia aos prazeres terrenos porque insistes sonhar acordada e nos teus sonhos há sempre um pedaço de nuvem a rematar as fragilidades das tuas fantasias.
És para além de seres...pedaços daquilo que não dizes, nem tão pouco murmuras nas brumas dos teus passos...és muda acima do teu coração porque jamais engoles aquilo que sentes. És uma cascata onde só mergulham aqueles que em ti flutuas.
Depois existem as palavras cruzadas..aquelas que teces na boca.
Mas dessas já não falamos... um dia ouvi dizer que só querias sentir o silêncio outra vez a caminhar feliz na tua rua.
Daniela Pereira
Direitos de Autor Reservados
Já não sei o que dizer...se é que alguma vez soube o que as palavras significam quando se desprendem dos meus dedos como borboletas suicidas que embatem contra as paredes com a força que carregam nas asas.
São como lendas que se libertam ao vento para as histórias encaixarem nos momentos e não ficarem à deriva,porque o mundo já é um buraco negro que nos engole o corpo até às sombras e nem a alma escapa aquela fome que nasce no profundo de um povo que quer liberdade para amar.
E eu já amei...já amei com tudo o que tinha para respirar...com tudo o que tinha para repartir quando tudo era exclusivamente meu e o sol dizia-me em segredo: Não te percas que as nuvens ficam no teu horizonte e depois tens chuva todos os dias quando abrires a medo os olhos inchados! Tens nevoeiro atrás das tuas costas e nos teus cabelos já vi tantas vezes orvalhar...Precisas de sol para amadureceres mais colorida...
E eu amei as pedras da rua porque me levavam até ti..religiosamente até ti e o caminho era perfeito.Se existiram muros para transgredir,nunca me importou, saltei sempre para a frente. Às vezes parecia uma leoa a defender-te dente por dente da escuridão que te fazia adormecer sem expressão no olhar.Eras um autêntico fantasma de memórias desfeito..moldado nas intelectuais margens de um rio culto que nada sabia para além de uma ida ao espelho para ver se algo mudou.
E hoje ainda amo... não te amo a ti.E ainda pergunto como é que um dia te amei.. como se fosse o meu erro mais divino...uma crosta numa ferida que sempre foi mentira.
E amo...amo-me a mim em algum pedaço de tempo onde me suporto..onde me entendo e admiro. Mas há horas onde sou mais escura que aquele buraco negro que o mundo transformou num lar...
Aí rasgo as palavras..rasgo-as em letras miúdas para ninguém as conseguir ler,nem mesmo o coração que já conhece os meus silêncios gestuais e no meu murmurar hesita ,recomenda que remende os gritos já ditos e eu nem te sinto...
Os meus dedos escorregam no teclado, sem vontade ou paixão..escorregam apenas e como quem segura o chão depois de uma queda suspiram até que o pensamento acabe.
Daniela Pereira
Direitos de Autor Reservados
Somos o pão que não apodrece
na boca de qualquer um
e mesmo que o resto do mundo
nos suplique com fome...
À tirania de um desejo não me rendo!
Somos a liberdade aquecida
que num copo nu a memória esfria
e mesmo que a recordação
queira o teu cheiro com ardor...
Num raio de sol não te queimo
porque cinzas velhas não guardo!
Somos o vento que varre as paixões
como se elas fossem folhas de Outono
e mesmo que a palavra
exija algum retorno
das noites de Verão onde tão pouco dormi...
Não ficarei de boca aberta
à espera que riquezas doces
me apurem a saliva.
Somos a vida que o amor merece
e mesmo que o coração
ao longo dos anos arranhe a dor...
Na carne fica sempre um buraco
por onde o sofrimento escorre
porque na alma se esgota.
Daniela Pereira
Direitos e Autor Reservados
A liberdade já não se escreve
com o perfume dos cravos...
andam à solta rosas carpideiras
que pedem pão para a boca
porque os filhos têm fome.
Nas paredes permanecem gritos de revolta
que a geração de hoje
carimba com frases curtas.
Na garganta as palavras não escorrem
falta água para as levar livremente
até ao fim da rua.
Não há religião que salve o ladrão
que te vai roubar...
Há dinheiro nos sonhos de quem trabalha
mas alguém fez buracos nos bolsos
e não há migalhas para distribuir
pelos que suplicam uns míseros tostões
porque há frio na rua.
Há quem queira correr o mundo por aventura...
e quem já não encontre no seu país uma porta aberta para o futuro...
Morremos longe
porque a pátria já não nos acolhe de braços abertos e com comida na mesa.
Somos o manjar da bela Europa....
A liberdade tem no pensamento a sua maior força...
e os novos cravos que supostamente nos querem salvar da bancarrota
enchem a barriga com caviar antes de apregoar a sua revolta.
Daniela Pereira
Direitos de Autor Reservados
Dizem que as andorinhas trazem a Primavera mas o meu Inverno está por um fio...
Preso a notas que metem dó a pedinchar um pouco de sol.
Mas foi lá que o vi nascer...baloiçando só para si
como se as tempestades me quisessem julgar apenas ré
mas na verdade não me culpassem de todas as ondas perdidas...
Do mundo inteiro só algumas sei que criei
frutos das minhas mais salgadas tristezas.
Dizem que as andorinhas trazem a Primavera e eu espero-as à janela...
levo-as prateadas penduradas nas orelhas
num silêncio que não é o meu
esperando que a estação das melodias também para mim chegue.
Varro a neve que há em mim para um céu azul mais presente
e aprendo a sorrir com os lábios fechados
porque com os dedos apenas sou doce e choro.
Daniela Pereira
Direitos de Autor reservados
Escapei à tristeza de ser um pouco de nada e senti-me muito grande.. imensa..gigantesca com a alma baloiçando no pico da montanha. Resistente ao frio e ao vento,sem temer mais um qualquer cair discreto para me derrubar.Presa ali no topo... sou uma bandeira mais forte.
A liberdade é um hino que ainda não aprendi ser...a matéria de todos os sonhos não tem amor à pátria e orgulha-se de ter um pensamento ateu. De ser um labirinto no seu sentir.. um polvo com tentáculos agarrado às pedras desejando que elas fossem corais e um grito mudo sai-lhe das entranhas mas ninguém parece que o quer ouvir e o grito morre com a língua em nós curtos. Há uma melodia distante que substitui o grito, mas quase que nem se ouve.. afoga-se na tristeza daquilo que não compreende mas que já conhece bem no existir. Disseram-lhe que seria mais fácil um dia partir no galope do horizonte... mentiram,esqueceram-se que já não sinto se dou passos ou se me enterro mais fundo...
Daniela Pereira
Direitos de Autor Reservados
Queria escrever-te um poema
ou talvez escrever um poema em ti...
Podias ser uma folha em branco
mas há muito tempo que fiquei sem tinta para te preencher as lacunas.
Palavras cruzadas fiz no teu peito
com soluções por vezes até um pouco imorais...
mas todas as letras faziam sentido
assim escritas para dizer o que sinto
sem moralismos patetas presos ao corpo
nem deveres excessivamente carnais.
Tinha a liberdade de um anjo
que sobrevoa as tardes mais belas
sem nunca temer perder o seu Norte
mesmo rompendo a mais fétida escuridão.
E eu rompi tanta podridão em ti...
Fiz vulcões de cinzas gastas e calei-te as curas
sem me importar com a doença que te gritava na alma.
Queria escrever um poema
ou talvez ser um poema para ti...
Para aquele que ainda me vê de olhos abertos
e não me castra o coração.
E o dia em que eu achei que conseguia gritar mais alto na tua demência?
Era tão louca naquela inocência vã de lamber as feridas dos outros...
Soprava flores nos meus sentidos e sorria
deixando a tempestade ainda mais preta.
Daniela Pereira
Direitos de Autor reservados
Declaração nº1 – Patricia Dias
Amar é querer ser mais que eu própria
Embriagar-me de estrelas
Subir ao cume do céu
É querer ser o teu sol
Dormir sob o teu lençol
Encharcar-me no teu "eu"
É ter sede de te amar
Loucura de te abraçar
Oferecer-te o Mundo e a Lua
E nos meus sonhos te sentir
Ver teus olhos a sorrir
Sentir-te meu e ser tua
É queimar-te de paixão
Ter um nó no coração
Querer ver-te todo o tempo
É chorar sem ter razão
Sentir quente a tua mão
Querer ser teu pensamento...
Patrícia Dias nome e seguidora
Declaração nº2 – lilia gomes
Quando te conheci
Olhei nos teus olhos e vi
A alegria e vontade de viver
O desejo de dar e querer amar
Olhei para ti sorri e descobri
Que nasci, voltei a existir
Quando reparaste em mim
Descobri no teu jeito a saudade
Que a ternura tem um jeito sábio
De leveza nobre nos teus lábios
No teu sorriso e olhar encantador
O brilho da luz que se fez amor
No universo dos mil sentimentos
Nos teus braços belos momentos
A felicidade em todo seu esplendor
Minha paixão do meu coração
Recebe esta minha declaração
De quem te ama com devoção
Declaração nº3-Rosa Margarida
Fazes-me falta! Tu, minha confidente, companheira, amiga...minha cúmplice. Não nos cruzámos na rua, não fomos nunca apresentadas, não foi uma casualidade: crescemos juntas! O sangue que nos une basta para que sejas uma das pessoas mais importantes da minha vida.
Não pude escolher-te, mas se tivesse hipótese de fazê-lo, serias tal qual a pessoa que és hoje e enches-me de orgulho...tanto orgulho!
A distância que nos separa, motivada pelas circunstâncias da vida, não poderá nunca diminuir o Amor que sinto por ti. Aliás, é provavélmente essa distância, que me fez perceber o quanto és importante para mim (Daremos apenas valor ao que não temos???).
Hoje, continuamos a crescer (não tão juntas), mas muito mais unidas.
És perfeita, com as tuas qualidades e os teus defeitos (sim, porque todos temos coisas menos boas), com os quais aprendemos a viver e a conviver. Não será isso um verdadeiro Amor?
Percoa-me as traquinices, as batalhas infantis, as palavras crueis de uma criança, mas não mudaria nada... foi o nosso passado que nos trouxe até aqui e valeu a pena! Sempre!
Voámos em direcção a outros ninhos, percorremos caminhos diferentes, mas continuamos a saber onde nos encontrar nos momentos mais fulcrais e basta um olhar para caírmos nos braços uma da outra e saber que estamos no lugar certo com a pessoa exacta.
Amo-te (tanto)... Minha querida irmã!
Declaração nº4- Adorno (Sara Oriana)
Como a areia e o mar,
A nós ninguém nos vai conseguir separar,
Apesar de a maré recuar,
Para a sua areia acaba sempre por voltar!
É assim que a nossa relação consigo imaginar,
Com altos e baixos, mas com força para tudo ultrapassar!
Agora que tive a sorte de te encontrar,
De ti nunca mais me quero separar!
Sinto-me segura quando nos teus braços me posso aconchegar,
E é essa tranquilidade que quero sempre valorizar,
E é por ela, que para sempre, vou lutar!
Sara Oriana
Declaração nº5 – Flávio Pereira
Oh amada, declaração de amor
Oh meu coração que de ti quer estar mais perto
Quero sentir o teu perfume esvoaçando pelo ar
Deixando que o mundo nos une
Para nunca mais te deixar
Os meus braços tremem de tanto te querer ver
Os meus sentidos reclamam de não te poder tocar
Quero estar perto de um bom sentir
Quero perder a cabeça com o teu beijar
Se o mundo nos juntar deixarei mais cedo
O meu trabalho físico para te ver
O meu coração sofre em segredo
Por este pedido de amor que te quero oferecer
Declaração nº6 -Rute Almeida
Ca vai minha declaração:
Sem você...
Sou poesia sem poeta
Sou uma canção sem melodia
Sou um mar sem ondas
Sou primavera sem flores
Ah! Sem você...
Meus sonhos se perdem dentro de mim
Meu mundo se desfaz buscando o amor que só encontrarei...
Em teu olhar!!!
Declaração 7- Lobo Das Estepes
A doçura que lambo com saudade
Uma tarde, plantado numa sombra do quintal, vivia eu — página após página — uma das mais belas histórias de amor, quando o meu cão se veio ancorar aos meus pés descalços. Deitei o livro na relva e ficámos namorando-nos em surdina: a cauda — vestida de farrapos de neve — tamborilava-lhe ao compasso do meu coração.
Salpicado pelas vagas de ternura que aqueles olhos — castanhos e pestanudos — me assopravam,
peguei-o ao colo e beijei-o na boca. Ele usava uma mancha preta numa das orelhas, que lhe caiu quando os meus lábios tocaram os dele. Desde esse dia que uso a mancha ao pescoço, pendendo dum fio de algodão.
Tem o doce das amoras silvestres, a mancha preta e arredondada do meu cão. Sei que é doce porque às vezes a lambo — sempre que a saudade se vem ancorar a meus pés. Aqueles farrapos brancos, depois de pincharem sorridentes pela casa, pingam-me no peito — e eu regresso àquela tarde, àquela sombra, àquele beijo.
Declaração nº8 – Tertúlia ( Dinora Alves)
"Não foi paixão.
Não foi amor à primeira vista.
Mas conheci-te e algo mudou. Bem no fundo. E eu sem ver.
Foi crescendo e mudando.
as células do meu corpo contaminando.
Até que chegou à alma.
E aí eu vi. E aí eu senti.
Agora, sorrio sozinha ao pensar em ti.
Coro ao lembrar o que vivemos.
E não posso viver sem ti. Sem nós."
Hoje acordei com pensamentos de gente pequena. De gente que não ambiciona o céu porque outros já tiveram a mesma ideia e sente que juntar o seu corpo ao caminhar simples das estrelas é um desperdício que nada acrescenta à solidariedade dos astros.
Que bom que é ser um mortal rotulado com prazo por expirar mas pouco consumido. É como se fossemos um produto gourmet que não se prova porque tem um gosto diferente daquilo que geralmente deixamos no prato numa refeição normal. Não é que tenha mau gosto, mas tem um gosto que não se define e isso é um pouco constrangedor para a alma habituada a paladares pouco profundos.
Olho-me como uma sopa... uma sopa de legumes com textura aveludada. E quando passo pelo dia sem imprimir às pernas passos apressados como numa garfada as inquietudes à solta pelos quintais. Dizem que são aves de penas duvidosas aquilo que saboreio sem cessar... a mim sabem-me a frango do campo com aromas de alguidar.
Hoje acordei com pensamentos de gente pequena, não mais que um metro e meio de altura sem comprimento ideal para abrir uma cova no chão e sem elasticidade facial para sorrir rasgado até atingir o sol em cheio no olho. Não faz mal, faço-lhe carinhos até ele fechar os olhos por sua própria vontade e não por me ouvir rezar por alguma escuridão porque a saudade ofusca-me o peito.
E o tempo hoje está tão politicamente correcto que até enjoa os sentimentos... é absurda esta monotonia na descrição humana das coisas que acontecem ou de tudo o que fica por acontecer.
Como se a veia triste pudesse ser um vaso impossível de romper porque o sangue desgostoso flui com gosto e a veia cava da alegria fosse só um caminho ténue para furar alguma angústia.
Enfim, sabemos que até no coração da gente pequena o amor bate com todo o vigor...
Daniela Pereira
Direitos de Autor Reservados
Não existem aves lá fora...
apenas voam gotas de chuva atravessando o silêncio numa valsa muda...
Não existem flores nos jardins...
recolhemos as pétalas na última ventania que passou...
Não existem gritos a sacudir as janelas...
hoje escrevi no coração com as pedras gastas da calçada
e surpreendentemente ele não se riscou...
Não existem pensamentos aos pontapés nas ideias...
está selada a ordem das coisas
e o meu caos restaurado
como lenha fresca que se deita na fogueira
para o lume não partir...
Não há tempo para dizermos o que sentimos
quando o vazio nos envolve..
Somos borboletas em flor..prontas para parir a luz
mas em tantos momentos abrigamos o peito na mais pura escuridão...
Não existem aves no céu...
porque só rente ao coração sobrevivem as tuas penas...
Então soltamos os teus loucos sentidos e assim fugimos dos Homens normais.
Daniela Pereira
Direitos de Autor Reservados
A solidão é um caminho de cabras por onde os rebanhos de sonhos não passam...
É uma casa sem janelas forrada a cetim onde o sol não entra e só um leve nevoeiro paira.
A solidão é uma realidade que devia ser miragem para facilitar as contas que nos trancam os olhos a uma parede reflectida no chão onde a luz bate e volta ao inicio da escuridão.
A solidão...a solidão é uma palavra amarga que nos prova a boca quando nada temos para dar..para fazer crescer sem regar o momento com alguma tristeza que afoga qualquer semente que tentamos cultivar.
Depois choramos porque sentimos que as flores partem e só as silvas frutificam porque usámos as lágrimas para abençoar o dia e esquecemos que só a sorrir o mundo agradece.
A solidão é uma faca de estrutura romba que nos consegue ferir com a ferida mais fina e mais profunda.. não deita sangue..sangra com sal..é uma hemorragia silenciosa que termina sem uma gota derramada mas que afecta todos os nossos mares.
Um dia vai haver uma onda silenciosa que varrerá tudo e tu vais chorar o ontem como se ele ainda estivesse ali espetado contra o teu peito..cravado no teu intimo como uma marca intemporal que nada derruba ou diminui.
Faz o teu mundo... põe-lhe flores nos canteiros..pinta-lhe arco-íris nas paredes..prende o céu cinzento sozinho lá no escuro de um canto..desenha um sol que não se deite nem por um segundo...sacode a chuva dos teus cabelos porque a solidão sempre volta à tua boca e como um filho que regressa a casa leva-te nos braços.
Daniela Pereira
Direitos de Autor Reservados