sexta-feira, março 27, 2009

Suicídio imprevisto



Eterna sangria...

Mato o meu amor por ti e fico a olhar para o peito que ainda sangra..lentamente quero esquecer o que os olhos já viram. Talvez se eu fosse uma vez mais cega não me visses rodar os lençóis na cama à procura do teu cheiro no branco.
Tenho que matar o meu amor por ti..ouvir os teus gritos..comer e calar.Fiz um punhal aguçado das palavras que me deixaste nas insónias e é com ele que te mato. Perfuro as memórias vezes sem conta, para ter a certeza que amanhã não haverá restos do teu riso nem pegadas do teu corpo pesado em cima do meu.O anjo perdeu a humanidade e converteu-se numa fera sem perdão...Tiro-te os olhos se voltas a olhar para mim! Mas tu também já não olhas...não me viste chorar nem suplicar ao teu Deus que fosse brando com a minha dor. As lágrimas confesso que durante algum tempo tinham travo a mel...era a saudade a refrescar a loucura..ainda meiga e doce. Hoje as lágrimas não têm sabor, não me sabem a nada e apenas me molham o rosto piedosas. Sinto-te..mato já o meu sentir se me trair a voz e me libertar os dedos...não te quero sentir..dás-me arrepios na alma e ela já tem tanto frio.
Mato o meu amor por ti...e eu não sei matar..
Sei fazer florir rosas nos desertos e erguer escadas para te ver chegar mais longe nos teus sonhos...porque me cortas hoje as pétalas e me esmagas as pernas?Quero caminhar nas brisas mornas das tuas costas...
Mato o meu sonho onde a tinta rosa pingava da tua boca...estranhamente aprendeste a fórmula dos pesadelos e na escuridão me injectas sombras e monstros de fumo negro...
Era tão fácil se tivesses sido apenas um sonho ruim...assim esquecer-te seria uma morte natural e não um suicídio

Daniela Pereira
Direitos Reservados

terça-feira, março 24, 2009

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POSSO GRITAR AO MUNDO INTEIRO QUE JÁ NÃO TE ENTENDO E QUE ISSO FAZ-ME SOFRER?
PRECISO DE VOLTAR A ACREDITAR EM TI...

O ódio odeia-me mais do que tu...




Posso odiar o teu ódio ou estou a ser repetitiva na expressão do meu pensar?
Posso ordenar ao passado que se faça uma pintura invisível ou será que vou quere-lo para sempre pintado de muitas cores?
Hoje lembro-me dos tons rubros e das chamas mal apagadas que ficaram acorrentadas ao teu leito...é vermelha a cor. Estupidamente original recordar-te assim... como uma papoila que fugiu apressada do vento.
Podias ser rosa também....mas as rosas dão-se aos amantes e não aos inimigos sem rosto.A não ser que tu queiras que eu te encha a memória com espinhos... perfurante já é mesmo a dor,para quê fingir que ela não é imutável se ela não se cansa de mudar a pele sem se deformar? Ao menos digo-te que ela pode mudar de rosto...de hora ou de pressentimentos que eu ainda sei senti-la a regressar.
Queres que te odeie? Vais ter que esperar..ainda estou ocupada a recordar como te amei...

Daniela Pereira in O ódio odeia-me mais do que tu...
Direitos Reservados

domingo, março 22, 2009

Poesia Declamada

Carta escrita na areia molhada





Hoje queria vomitar o tempo



Carta a um mundo filho da mãe





Poesia declamada por Daniela Pereira,com poemas extraídos do livro Afectos Obsessivos

sexta-feira, março 20, 2009

O Homem que não usava a cabeça para pensar...




Era uma vez um Homem que não usava a cabeça para pensar... Sabia que a tinha, logo ali acima dos ombros mas não sabia para que é que ela servia. Achava a cabeça, um pedaço de si perfeitamente irritante e pesado. Por isso só a usava quando precisava de contrariar alguém porque sabia que abanando-a com força demonstrava o seu repúdio com um valente Não. Ou então abanava-a mais devagarinho de baixo para cima e dizia que sim as coisas que lhe apetecia ter.
Este Homem, era um Homem como todos os Homens e tinha um corpo igual a todos os corpos ...no entanto achava que era mais perfeito que todos os outros. Costumava mesmo dizer que o mundo a sua volta era desinteressante e que geralmente só olhava para ele porque podia encontrar algo que lhe pudesse servir. De resto o mundo era perfeitamente dispensável e vazio...só servia mesmo para fazer de cenário as suas fantasias.
O Homem que não usava a cabeça para pensar olhava sempre com algum desdém para as pessoas que andavam sempre com os braços abertos preparadas para abraçar. Aquilo metia-lhe uma certa confusão...dar abraços por dar...sem estar à espera de receber algo em troca? É absurdo de mais..os braços são bons é para apertar nas paixões e para agarrar com força um bom prato. O que ele gostava de um bom prato cheio de comida ..mas não uma comida qualquer. Refeições normais, daquelas refeições que alimentam e são saudáveis eram um desperdício...ele gostava era de bolos.
Sim..de bolos e quanto mais doces melhores. Se ele pudesse usava as mãos para pegar em todos os bolos do mundo e metê-los dentro da... barriga. Isso sim, era usar as mãos com inteligência.
Agora usas as mãos para firmar um perdão..para agarrar alguém que estivesse a cair sem salvação..isso seria infantil. Cada um sabe de si e quem não quer males não se mete neles...esta lição aprendeu-a ele com o tempo e só ela lhe interessava quando tinha que colocar as mãos atrás das costas fingindo nem olhar para as desgraças dos outros.
Este Homem achava que não precisava de pensar, porque já tinha nascido um génio e nada mais tinha a absorver para dentro de si... por isso a cabeça era quase só um enfeite. Podia usar um relógio novo e caro ou então um lenço no pescoço de cores berrantes..mas não porque isso seria ser demasiado banal e ele detestava banalidades e ser igual aos outros..aqueles seres hipócritas que caminhavam por ironia à frente dele na rua. Então este Homem usava como enfeite nada mais nada menos do que a sua cabeça. É verdade que ele a estimava bem..penteava-lhe os cabelos, colocava água de colónia no rosto. Queria sempre que ela saísse bem arranjada à rua..já que tinha que a suportar no corpo ao menos que tivesse um bom aspecto. Até porque junto com a cabeça vinha um rosto que tinha uma boca cheia de dentes e sempre que ele abria aquela boca e os dentes vinham espreitar cá para fora as pessoas olhavam com mais facilidade para ele e isso de alguma forma devia ser considerado vantajoso.
Um dia o Homem que não usava a cabeça para pensar decidiu ir dar um passeio até a beira mar. Mas como detestava caminhar sozinho, lembrou-se de convidar a Mulher que não usava as pernas para andar para ir com ele. Na verdade ele queria mesmo era a companhia da Mulher que só usava a boca para beijar, mas ela essa tarde estava muito ocupada a beijar outro Homem qualquer.
Então o Homem que não usava a cabeça para pensar foi buscar a casa a Mulher que não usava as pernas para andar..
Como a Mulher não sabia que as pernas serviam para andar tinha o vicio de se deslocar sempre ao colo dos outros e era assim que ia para onde queria...Por isso o nosso Homem lá teve que pegar nela ao colo e lá foram os dois caminhando..perdão, os dois não...porque apenas ele caminhava arrastando o peso dela. Ele lá treinava o seu poder de conversação falando-lhe da beleza dos pássaros quando a brisa lhes tocava...do brilho que ela tinha no cabelo e da emotividade do seu olhar, sempre com os dentes de fora a endireitar sorrisos. Só que a Mulher que não sabia que as pernas serviam para andar, passava a conversa toda a tentar enrolar as pernas nele e a apertar-lhe o pescoço com medo de cair de alguma altura mais alta.
Que Mulher aborrecida e chata dizia-lhe o instinto, mas a verdade é que tinha umas pernas magnificas dizia-lhe o olhar e geralmente ele ganhava sempre o duelo. É um sacrifício que ainda vai valer a pena decidia o Homem que não usava a cabeça para pensar...não precisava de reflectir sobre a questão porque era mais do que óbvia a resposta. E lá iam eles pela areia com o Homem quase a perder o fôlego de carregar nos braços aquelas pernas pesadas mas compridas.
Finalmente o Homem que não usava a cabeça para pensar e a Mulher que não sabia que as pernas serviam para andar, chegaram a um lado qualquer e o Homem pensou que iria colher o fruto do seu árduo trabalho. Mas qual não foi o seu espanto, quando a Mulher que não sabia que pernas serviam para andar queixou-se do calor e disse que queria ir tomar um banho naquela água imensa que parecia tão fresquinha . O Homem fez-lhe a vontade e preparava-se para pousar a Mulher na areia quando ela de repente começou a resmungar e a dizer-lhe se ele estava louco por querer colocar as suas pernas na posição vertical..posição essa que as pernas dela não conheciam de tanto estarem habituadas a posição deitada. A Mulher não esteve com meias medidas e exigiu que o Homem a levasse ao colo até ao mar para proteger as pernas dela das ondas...ele teria que afastar todas as ondas para ela não ficar com as pernas molhadas mas só com elas refrescadas pela aragem. Que grande chatice para o Homem que não usava a cabeça para pensar, mas como não era Homem de fugir a desafios principalmente quando as recompensas eram altas e esguias, ele avançou com a Mulher ao colo cheio de instinto e de orgulho na sua força.
Inicialmente aquela caminhada pelas águas com a Mulher agarrada a si como uma lapa e aos gritinhos pareceu-lhe fácil de ultrapassar e deliciosamente uma peripécia aventureira.
O pior foi quando o mar se enfureceu com a presença daqueles dois intrusos estranhos agarrados um ao outro como se fossem polvos e decidiu enxutá-los dali com vagas alteradas.
O Homem que não usava a cabeça para pensar começou a sentir dificuldades em se manter erecto com tantas ondas a chicotearem-lhe o corpo e aquela Mulher alta e esguia de repente começou a pesar toneladas e já tinha mais aspecto de baleia do que de sardinha fina.
Mas não a ia largar...se havia coisa que o Homem que não usava a cabeça para pensar sabia ser...era ser teimoso e como rei da teimosia lá continuava com a Mulher colada a si a apertar-lhe cada vez com mais força e desejo as carnes do seu pescoço. Era verdade que ele até já estava a sentir alguma falta de ar, mas em pleno acto todos sentimos alguma asfixia temporária,logo aquela sensação de estar a sufocar era perfeitamente natural para ele e não lhe causava nenhum transtorno.
O mar sentindo a teimosia daquelas pobres criaturas, foi-se tornando mais arrogante e com vontade de lhes fazer frente e resmungou com muito mais força. Com tanta força mas com tanta força que o Homem e a Mulher já andavam aos rebolões no meio das ondas mas sem nunca se largarem, parecia mesmo que as mãos dela se tinham fundido ao pescoço e os braços dele já pareciam prolongamentos exaustivos do rabo dela de tanto a apertar por entre os dedos. Noutra situação aquela sensação “apalpativa” seria até bem vinda, mas numa situação de morte iminente era mais considerada pelo Homem uma sensação aborrecida...Que estranho ele sentir algo assim...
mas as pernas dela..as pernas dela eram hipnóticas e o Homem não conseguia deixar de olhar para elas. Bem, era verdade que estava prestes a afogar-se e a levar aquelas pernas tão fantásticas direitinhas para o cemitério dos Prazeres mas ao menos iria morrer sorrindo. Isso servia-lhe de consolo enquanto a sua vida se extinguia lentamente...
Se ao menos o Homem que não usava a cabeça para pensar tivesse pensado noutra coisa para além de uma belas pernas saberia que o ar faz falta para respirar...


Daniela Pereira in Contos sem pés nem cabeça..
Direitos Reservados

domingo, março 15, 2009

Poema de Domingo à tarde...





Não tenho os dedos sujos de tinta esta tarde...
Só exibo restos de gotas de vinho tinto e de corações enlameados.
As letras foram à rua por instantes...
Pobre poeta que queimou ao sol toda a sua escuridão...
Silenciou a lua só por um dia...dizem os amantes.
Mas todos dizem qualquer coisa quando mais nada têm para dizer...


Daniela Pereira in Em todas as palavras nada te direi...
Foto por Daniela Pereira
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quarta-feira, março 11, 2009

Limonada primaveril



Vamos colher doces frutos com polpa ácida e dizer que o ouro escorre pelas nossas bocas?
Em amarelo pinto os sonhos e as aventuras que abraço...tenho raízes mais fortes nas pontas dos dedos ...

E os limões nas minhas mãos também dançam ao sol...

Daniela Pereira

domingo, março 08, 2009

Mulher




..E sou Mulher..

nos sonhos e nas lembranças...

na pele despida

e na carne tragada...

nos olhos mal chorados

e na escuridão adormecida...

E sou Mulher...

no Amor perturbador e desgraçado

Hoje pela Dor enamorada...

porque sou alma viva ...

E sou Mulher..

nos sonhos e nas lembranças...

nos beijos e esperanças..

sou ave sem destino ..

Curva a 180º numa estrada deformada...

Ângulo recto destemido

que não se perde em promessas obtusas

Porque só com linhas infinitas alguém a cruza...



Daniela Pereira in A Mulher é um mundo maior...
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Foto em blueiela galery in http://olhares.aeiou.pt/curva_a_180o_foto2601975.html

quarta-feira, março 04, 2009

Revista literária- Alterwords





Olá a todos



É com muito prazer que informo que já se encontra disponínel o site da nova revista literária on line, a "Alterwords"...

A "Alterwords" é um projecto que visa dar a voz a todos os que amam as palavras..anónimos e não anónimos...vindos da luz ou da escuridão...

Os autores residentes desta revista são:

Bruno Pereira

Carla Ribeiro

Daniela Pereira

Liliana Duarte

Liliana Lopes

Miguel Pereira

Susana Carvalho Machado

Susana Catalão

Nesta revista as palavras são livres e sem margens a limitar a inspiração...podem saborear contos, poesia, prosa,curiosidades literárias,arte e cinema..porque a cultura não é um vício letal..vamos drogar o mundo com palavras e pensamentos
http://alterwords.webs.com ---Site para download da Alterwords-1º e 2º volume

Daniela Pereira