terça-feira, agosto 29, 2006

Sou filha das palavras que sentem...






Sou filha da noite

e no seu regaço

embalo todas as palavras

que comigo se deitam por prazer.



Não acordo as estrelas

com os meus gritos mudos

nem perturbo o sono da lua

com o meu pranto morno

quando me deito.



Na noite...

sou silêncio na voz

e as palavras que escrevo

com a boca orgulhosamente fechada

respiram pelos meus dedos

enquanto não amanhece no meu rosto.

Mas quando acordo para o mundo

abandonando todos os sonhos na escuridão

sei que estas palavras

que fielmente calo na garganta

gritarão para sempre deitadas no meu leito

por um amor

que a poesia numa noite

quis ver nascer solitário e vagabundo.


Daniela Pereira-29/08/06


 

sábado, agosto 26, 2006

Sorriso chulo




Hoje és musa
da escuridão
e de olhos pintados
invades a noite
com a boca vestida de cetim
beijando passos de seda
no teu caminho de lata.

Sei que amas essa
imagem misteriosa
que o preto dá à tua pele
e por isso
esta noite dele abusas
sem nunca te esqueceres
de salpicar
um qualquer brilho prateado
no teu generoso decote.

Achaste bela assim
quando te olhas ao espelho
maquilhada como uma boneca
e vais demarcando as tuas curvas
com tecidos transparentes
só para aguçar
algum apetite voraz
que te saiba devorar.

Então irrompes
pela noite dentro
e ficas salivando discretamente
por entre risos e copos
a intervalar a língua com os lábios
à procura do encaixe perfeito
enquanto te arrastam
para dançar.


Esta noite
sei que o teu olhar
alugou estrelas ao céu
e que em alguma rua desta cidade
houve alguém que te viu
a querer comprar o mundo
com um sorriso chulo...
E aí o tens
deitado aos teus pés
e como um reles prostituto
a ti se vende.

Daniela Pereira-26/08/06

terça-feira, agosto 22, 2006

Chuva de Verão




Caminho numa praia deserta
e sozinha sinto 
que os meus olhos choram
palavras magoadas
porque
todos os dias
espero pelo eco da tua voz
mas quando a noite chega
só os passos
do teu silêncio escuto.