Penso no Amor... naquele
vírus estranho que nos consome a alma até fazer sangue. Não o vejo como
uma doença, nem um mal fatal mas é certo que às vezes dá com tanta força
que no fim até parece que mata. Mas afinal ainda estamos aqui... logo, o
Amor morreu mas ele tem muitas raízes, muitos vácuos escondidos onde
depositar a sua semente. É como uma roseira... bela, forte e perigosa
com o corpo esguio coberto de dolorosos espinhos mas nos nossos olhos há
uma beleza que cega. E nós amamos... e há tantas formas de amar que por
vezes chega a ser assustador compreender que um sentimento que nasce
por dentro, explode para fora se lhe acendemos o rastilho e ao mínimo
descuido jamais o paramos. E pensar que o Amor surge de um amontoado de
coisas pequenas! Daquelas coisas pequenas.... gestos
insignificantes...marcas leves e pormenores que só a ti mesmo
interessam. São os teus delicados segredos. Aquela onda no cabelo que
dança no vento, aquele sorriso que deita por terra todas as tristezas
por mais que elas se debatam, aquele olhar perdido onde vemos
tudo..tudo, até mesmo aquilo que não pode existir a não ser que tenhas
passado a viver deitada num sonho. Mas tu juras que vês! Sim, naquele
olhar..naqueles olhos pretos cabem cidades inteiras..luares de agosto,
ruas apinhadas de gente...não importa a multidão que graceja à tua
volta. Naquele olhar estás sozinha...é assim que te sentes sozinha, mas
com ele, com aquele vírus que sufoca e te enrola o ar porque ocupa em ti
todo o espaço. Tens a capacidade de apagar o resto do mundo... não para
sempre, mas naquele instante de tempo onde se cruzam olhares cresces em
mim viçoso de confiança. E a confiança cresce, cresce dentro de mim
devorando medos, alimentando entregas, removendo memórias numa lavagem
cerebral de pura amnésia. O sol brilha como se tivesse engolido mil e
duas lâmpadas , os passarinhos são tenores e nem por um segundo
desafinam, os sorrisos nas nossas bocas são perfeitos e até a chuva por
Deus, juro que já não me incomoda.
Em que pensas? ...
Penso no Amor que está doente.
Daniela G. Pereira
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