segunda-feira, janeiro 31, 2005

Voar à chuva


Sobre montanhas salpicadas de branco
e vales cobertos por mantos de flores
estendo as asas moldadas nos sonhos
e flutuo na brisa da tua boca de vento
que me embala num voo sem destino.

Sinto o teu ar quente
acariciando as minhas penas...
apaziguando as minhas mágoas.
Sem olhar a paisagem que me rodeia
com os olhos compenetrados no teu corpo celeste
trespasso o céu com asas de fogo
e encharco as nuvens com o perfume da minha pele.

Sopras um último fôlego
antes que a brisa esmoreça
e aqueces as nuvens frias
formando na terra um rio de água perfumada.
Banhas-te na minha chuva
e eu docemente
pouso no aconchego da tua mão quente e adormeço.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Sambar no silêncio


Mascaro as palavras com cores transparentes
e deixo visíveis os sentimentos que tento esconder.
Como posso camuflar o olhar brilhante que se acende
sempre que um sorriso espreita nas pestanas
e se pendura de cabeça para baixo nas sobrancelhas irrequietas?
Posso ocultar o riso que trepa pela boca apressado
para chegar a tempo de apagar o silêncio que arde no fundo da garganta?
Quem detém os meus dedos saltitantes
que nas negras letras do teclado
escrevem versos enamorados?
Eu não consigo sentir
sem o demonstrar ao mundo
nem que seja por um segundo...
Por isso passo horas com a cabeça curvada
debruçada nos meus longos pensamentos
com a mente fervilhando
e o coração batendo ao ritmo de um samba
dançado com passos bem marcados numa folha de papel.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Incertezas crentes


Se nas palavras pudesse delinear lábios
elas estariam sorrindo para ti
sorrisos rasgados com gosto a madrugada.

Se os olhos fossem tatuados com raios de sol
o meu olhar teria o brilho
das searas de trigo doiradas na terra quente.

Se as mãos fossem elásticas
eu esticaria a ponta dos dedos
percorrendo quilómetros de vazio
até tocar no universo da tua pele.

Se as estrelas pudesse guardar no meu peito
esvaziaria o meu coração numa batida apressada
e roubaria num segundo o luar estrelado à noite.

Se da minha saliva preparasse uma bebida gelada
ela seria doce como o sumo dos morangos
trincados na ternura da paixão com açúcar à mistura
mas deixaria um travo ácido a vodka com limão
nadando no ardor da minha boca despida de beijos.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Suicídio de plástico


Disparo balas com asas de borboleta
em direcção ao meu peito envidraçado
e fico parada a vê-lo estilhaçar ao vento.
Não perco sangue neste suicídio de plástico
as veias não sangram porque o vermelho já não mancha a pele.
É de azul que pinto o corpo desnudado
são os teus olhos que tatuo em mim
com o pincel molhado no teu mar de palavras .