quarta-feira, setembro 14, 2005

A minha última gota de sangue



Preguei com pensamentos de aço
o coração aos dedos e fui sangrando por aí...

Deixei uma gota de sangue na praia
quando repousava a inquietude da alma
num chão de areia quente
com os olhos hipnotizados
pela beleza de um silêncio imortal.

A segunda gota caiu no mar
e ali ficou
misturada numa infusão de verde e azul
com sabor salgado.
As veias nem lhe sentiram a falta
imersas naquele liquido multicolor
e ela lá foi
apaixonada por uma alga castanha
que encontrou flutuando à deriva.

Depois de perder a segunda gota
senti uma leve tontura
e as pernas a fraquejar
mas ainda havia muito vermelho
para pintar os meus passos no chão.

Ergui de novo o corpo
e caminhei em direcção à lua sentimental
com a lentidão amarrada ao andar
enquanto salpicava as nuvens
com pingos cor de fogo.
Depois beijei com os lábios palidamente serenos
a pele dos meus dedos
e na sofreguidão daquele beijo
roubei ao peito a última gota de sangue.

Daniela Pereira 29/08/05

4 comentários:

almaro disse...

Agarrei numa lágrima, com todo o cuidado para a esculpir, queria dar-lhe outro sentir, mas era endiabrada, esta minha lágrima.
Sem me olhar escapou-me da mão, a fugir…

Anónimo disse...

Está lindo!

blueiela disse...

almaro,luís e frog


Queria agradecer-vos pela simpatia e carinho das vossas palavras :)
É muito bom receber o vosso apreço...muito obrigado!
Voltem sempre;)

beijos

blue

Fragmentos Betty Martins disse...

Está sublime este poema!

São as palavras que encontro

PARABÉNS!

Um beijo