terça-feira, novembro 21, 2006
A solidão da carne
Porque tenho que me sentir assim?
Porque não sou apenas só mais uma pedra
no caminho por onde todos passam…
Porque tenho que sentir na carne
todos os passos que me atropelam a alma?
Se os pássaros quando cantam
ouvissem todos os ruídos do mundo
se calhar não perderiam tempo a inventar seus trinados
mas eles conseguem calar tudo à sua volta
para puderem chilrear no silêncio.
Então…Porque tenho eu que ouvir
o barulho de todas as bocas que se fecham para mim
a ranger prolongadamente nos meus ouvidos?
Não podiam fechar-se lentamente
com gestos suaves
como quando a areia escorre por entre dedos mal cerrados…
Tinha que as ouvir fechar!
Porque preciso de palavras densas
repletas de claridade e lucidez
e não me contento
com as que são ditas pelo meio
só para não dizer que chegou o fim.
Nasci no seio de uma maldição
e abri os olhos pela primeira vez
no berço traiçoeiro da sensibilidade
que hoje me afaga
como se fosse uma segunda mãe para mim.
Beija-me o corpo todos os dias…
Fere-me a alma todas as noites…
Ama-me e odeia-me como ninguém
Morro mil vezes por ela
quando o desespero em mim se instala
de malas e bagagem.
Mas no fundo sei
que será sempre com o seu ar doce
a entrar pela minha boca que voltarei a renascer
de olhos inchados e no rosto um sorriso discreto.
Mas porque tenho eu que sentir?
Não podia ser só mais uma pedra na solidão de uma calçada…
Existem tantas por aí perdidas…
Eu seria só mais uma…
Daniela Pereira-21/11/06
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1 comentário:
Sento-me e escrevo-te,
como se colocasse em cada letra, em cada linha, o meu grito calado!
Retiro uma a uma as letras de dentro de mim,
misturando-as na minha boca e deixando-as escapar por entre os meus lábios!
Reservo-as e adiciono-lhes o calor que me diz bom dia pela manhã,
a aragem que me levanta o lençol da cama à noite...
Simplesmente escrevo-te...
Nos meus olhos, outros olhos,
a minha mão guiada guia a caneta
e desenha, como uma pena, como um lápis de carvão, como um pincel!
Sabes...
às vezes é difícil sonhar,
mas continuo a fazê-lo,
porque cá dentro ainda há alguém que consegue voar com as aves,
tocar com os dedos no branco da lua,
parar a ver passar as nuvens,
os toques, os abraços, todas as palavras ditas, todos os traços escritos!
Neste mundo há sempre pressa para tudo
mas a única pressa que tenho é a de viver
e mesmo para viver tenho tempo...
Há sempre tempo para tudo...
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