Queria escrever-te um poema
ou talvez escrever um poema em ti...
Podias ser uma folha em branco
mas há muito tempo que fiquei sem tinta para te preencher as lacunas.
Palavras cruzadas fiz no teu peito
com soluções por vezes até um pouco imorais...
mas todas as letras faziam sentido
assim escritas para dizer o que sinto
sem moralismos patetas presos ao corpo
nem deveres excessivamente carnais.
Tinha a liberdade de um anjo
que sobrevoa as tardes mais belas
sem nunca temer perder o seu Norte
mesmo rompendo a mais fétida escuridão.
E eu rompi tanta podridão em ti...
Fiz vulcões de cinzas gastas e calei-te as curas
sem me importar com a doença que te gritava na alma.
Queria escrever um poema
ou talvez ser um poema para ti...
Para aquele que ainda me vê de olhos abertos
e não me castra o coração.
E o dia em que eu achei que conseguia gritar mais alto na tua demência?
Era tão louca naquela inocência vã de lamber as feridas dos outros...
Soprava flores nos meus sentidos e sorria
deixando a tempestade ainda mais preta.
Daniela Pereira
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