terça-feira, janeiro 15, 2013

Por um sorriso .

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Por um sorriso .



As coisas inúteis partiram... Não disseram adeus. Fizeram as malas e partiram. Não partiram a sorrir, simplesmente enfiaram os tempos e os momentos numa mala e foram pelo teu coração acima.
Sem nada dizer...sem nada fazer. As coisas inúteis partiram.
E tu que sonhavas ter uma casa...não, duas casas...três...quatro. Todas as casas que fossem necessárias para alojar os teus amigos. Os que já partiram porque o destino os levou. Os que não quiseram ficar. Os que ainda cá estão. E tu que sonhavas ter uma casa...não, duas ou três... todas as que tivessem espaço para os albergar. Ias desenterrar os mortos, as memórias mais podres e feias, ias lavar a cara, sacudir o pó e dar-lhes flores. As flores mais belas e luminosas que pudesses semear em ti. Ias desenterrar os mortos e cuidar deles, mesmo quando precisasses de cuidar mais de ti.
Já os vês sentados no sofá, sorrindo para ti outra vez e tu a sorrir de volta.
Os amigos que partiram... aqueles que cruzaram oceanos, que foram correr a vida para terras distantes. Os que partiram carrancudos e sem remorsos... os que viajaram com o coração saudoso...os que ainda te lembram e te recordam na melancolia dos dias como uma folha de um livro que dá prazer rever.
As coisas inúteis partiram. Algumas fazem doer por dentro. Não dói sempre...é só de vez em quando. Aquela dor fininha, como uma picada e fechamos os olhos esperando que logo passe. Mas outras coisas inúteis magoam a valer, ficam feridas que incomodam, que nos desencantam. Mas até essas por perto queríamos de novo ter. Aquele masoquismo saudoso que só as coisas inúteis em nós sabem promover.
E nós com as casas de portas abertas, sempre abertas... Deixamos entrar o vento, o frio.. morremos com as correntes de ar. Mas nunca fechamos as portas... bater com a porta, é forte. Ganhamos doenças, latejamos dores de cabeça, mas abrimos as portas. Sonhamos que é possível...e construímos casas e casas e deixamos as portas abertas. Novamente abertas... E se fosse realmente possível? E se abrir as portas e deixar entrar fosse a solução de todos os nossos problemas? Mataríamos a dor, sem que ela sequer estivesse à espera. E os amigos que partiram, os amores que deixaram de ser, as paixões que perderam a chama..tudo ali de novo à tua porta, sorrindo e pedindo para entrar. E entravam. Sentavam os corpos e as memórias , ali bem ao teu lado. Sem dor, sem ressentimentos, sem amarguras...estavam nus de prantos. Límpidos, transparentes como gotas de água para matar a tua sede. E tu recebias no teu coração todos... todos e o teu coração continuava largo com tanto espaço para preencher e tu rias, rias e eles riam contigo. Davam gargalhadas bem alto, abraçavam-te com força e tu sorrias e dizias as coisas mais profundas sem abrires a tua boca. Falavas com o olhar e o teu olhar tinha todas as cores. Nos teus olhos, os astrónomos descobriam perplexos o habitat de novas e desconhecidas estrelas e tu rias. Coravas e dizias que os teus olhos são tão normais...e as coisas inúteis sacudiam a cabeça num gesto de reprovação. E tu ficavas tão admirada, tão repleta de prazeres dentro de ti que até a tua pele rejuvenescia. E as coisas inúteis que tanto amavas continuavam a entrar e perguntavam por ti. Então como estás? ...e tu abrias os braços com a amplitude maior do teu ser e abraçavas..abraçavas até ficares com os braços tontos. As coisas inúteis gostavam de ser úteis em ti outra vez.

Daniela G. Pereira
Direitos de Autor Reservados

P.S: G* T* P* R*

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