quarta-feira, maio 22, 2013

O despertar da mente...



Há muito tempo que não te escrevo. Não escrevo nem para ti, nem para o senhor que ali vai com passo descansado a descer a rua... nem para o carteiro que tarda sempre a chegar. Simplesmente porque não escrevo. Não, por não ter nada para te dizer... não é isso. Acho mesmo que é precisamente o contrário. Há tanto para dizer e depois nada se diz. É contraditório, mas é realmente assim. Quando as palavras são muitas, a desordem de ideias é total. É um caos assustador e por isso fugimos do mundo num silêncio bem educado. Como se aquela palavra que devia ser exposta em primeiro lugar, ficasse demasiado importante...tão importante, que dela até depende um fim de uma guerra. É assim que eu me sinto, que as minhas palavras podem provocar guerras e mortes. Um valor desalinhado, uma expressão fora de tom e o mundo desaba...o meu mundo cai por terra, castigado pela força dos sentidos. A ironia de se pretender alcançar a paz com as palavras, achar que elas podem abrandar furacões e abraçar estrelas cadentes. Chegamos a um momento em que o tempo já não importa. Os meses não se contam, os anos são apenas mais um amontoado de meses e tudo fica normal, mesmo que essa normalidade seja falível. Por isso, eu não te escrevo. Sofro hoje de uma fobia que todas as minhas letras sentem quando se debruçam nas margens do papel. Depois, é o que se vê... dão saltos no escuro mas não avançam. Não têm por onde avançar, porque o caminho foi cortado e as palavras sem pontes morrem desejosas de alcançar uma estrada.


Daniela G. Pereira
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