domingo, fevereiro 20, 2022

Se a vida fosse um poema...

O mundo acorda decidido a respirar melhor
e tu acordas com ele,
partilhando bem fundo a sua decisão.
És feliz na tua insistência de seres quem és,
mas deixando que a vida te molde
e ensine a ser melhor.
Rasgas para isso as dúvidas e os estilhaços do medo
ai e as sombras.. Essas sombras que tantas vezes,
parecem esconder aquilo que és.

O teu coração é sol,
por mais que a vida te empurre
para a frente dos olhos, as nuvens.

Os teus dedos são portas para sonhos
e reflexões interiores,
por mais que as tuas emoções queiram vê-los a naufragar desesperados,
por entre ondas de expectativas e desejos.

És poeta cá dentro e se para fora,
a tua poesia não exala...
Nada te destrói essa conquista.
És mais feliz assim,
quando a tua alma brilha
sem véus negros a cobrir-lhe as estrelas

sexta-feira, fevereiro 18, 2022

Cansaço e meia dúzia de palavras a mais...

Estás cansada e quando te sentes cansada,
tu na decisão mais insensata deste mundo, escreves.
Talvez pretendas encontrar um modo lógico de organizar as tuas ideias

e é quando sentes que o teu corpo,
é uma matéria gelatinosa e já pouco sólida...
Que te aproximas mais dos teus pensamentos.
Dos teus pensamentos e dos sonhos que aderem a eles.
Por vezes, acreditas que a tua mente é uma rua
com uma calçada de pedras infinitas.
Por isso, não lhe encontras nem um princípio,
muito menos um meio e sentes em ti,
a impossibilidade de lhe conhecer o fim.
São linhas extensas que no céu da tua cabeça
se cruzam e te mancham na perpetuidade da ordem.
Ficas cansada da realidade e buscas em ti algo
que a demova de ser tão sacana.
Um sorriso bem posto e bem aprumado
ou uma música tão encantadora, que te faça esquecer,
o quanto pode ser estridente o silêncio.
Geralmente escreves, com uma música de fundo,
que corra pelos teus ouvidos numa maratona aleatória de sons,
que te embalem os sentidos, a começar pela esquerda e atravessando
o teu corpo até morrerem exaustos no ouvido da direita.
Que inveja sentes tu dos girassóis
que não têm mãos nem braços e vivem longe das tuas palavras,
mas sempre imersos num raio de sol.

sábado, fevereiro 12, 2022

Vontade

Aguardas as tempestades por detrás das cortinas...
O sol está lá fora,
cá dentro ainda sentes no teu coração...
a humidade.
Devias prender mais flores nos cabelos,
para a tua alma não perder a Primavera.

domingo, fevereiro 06, 2022

Fico a vomitar por casa...

Estou enjoada da poesia...
Podes não acreditar, mas a poesia também me enjoa
Enjoa tanto, que até chego a vomitar..
Mas não para fora.
Para fora, só consigo vomitar palavras...
Ponho os dedos em cima dos sentimentos que me chegam à boca e vomito.
O pior vómito é aquele que nasce cá dentro, quando escrevo poesia.
Chega a ser verdadeiramente agoniante...
Só a ideia, de ter que andar a remexer na alma as entranhas,
deixa-me a sufocar no meu próprio fôlego.

Às vezes, engulo a poesia sem mastigar primeiro...
Entra inteira, sem cortes nem raspas.
Engulo tudo, porque os poemas dão-me fome.
Há quem diga, que não se deve comer antes de se ir dormir...
Atrasa a digestão.

Esqueço-me sempre desse conselho,
é este e o das laranjas que são comidas à noite e matam.
Com os sentimentos e a poesia, é igual...
Então quando deixo misturarem-se com as emoções do meu peito!!!
Fico mesmo mal disposta.
Sobem-me os poemas até à cabeça e ela começa a doer
com a intensidade com que eles em mim se movem.
Acredita que tenho mesmo que vomitar..
Mas é mesmo para vomitar tudo o que está por dentro.
Se caio na asneira de deixar esquecida, uma letra que seja...
A poesia não me perdoa e vou ficar
a noite toda a queixar-me com insónias.
Falta-me o ar e cai-me a pique o discernimento e a tensão.

sábado, fevereiro 05, 2022

Vamos escrever sobre flores ... ?

Vamos escrever sobre flores?...
Sinto falta de escrever sobre coisas mais bonitas
e hoje estou cansada de chorar pela chuva das memórias.

Vou escrever sobre flores...
Semear mais cor, no frio escuro de um punhado de terra.
Vou escrever sobre rosas vermelhas e
pensar no quanto o meu amor já foi tão belo e perfumado.

Vou escrever sobre as camélias..
As camélias brancas que embelezam com perfeição a última morada
de todas as almas por mim perdidas.

Vou escrever sobre os cravos, sem me importar com a cor...
Porque a minha liberdade de sentir não tem tom de pele
nem conhece outro país ou bandeira
para além do meu corpo nação.

Vou escrever sobre tulipas...
Tulipas negras, só porque são raras e isso
afasta-as de serem flores banais e é isso
que eu desejo encontrar na minha vida... Flores raras e especiais.

Se semeamos um jardim com dedicação e carinho,
não deviam brotar as mais delicadas e generosas flores,
de um ventre aconchegante e quente?
Assim se geram as vidas humanas.
Acho que os meus dedos não nasceram jardineiros,
porque nas minhas mãos todas as flores morrem com frio.

Vamos esquecer como escrever palavras tristes?
Vamos somente dedicar a marcha das horas, à contagem das sementes que ainda
temos para plantar no meu coração Terra antes que ele apodreça?

Vou escrever um pouco mais sobre...
Tulipas.. Sim, sobre a beleza que em si encerram.
Só porque hoje não vejo o mundo tão belo.
Tulipas, sabem? São as minhas flores favoritas.

Quando eu partir...
deixem ao pé de mim um lindo ramo. Todos partem um dia, largando de si a pele e os ossos...
A minha alma sei que perpetuarei num livro de poemas e de algumas tristes memórias.
As memórias felizes não se podem escrever..
Não podem ser em mim eternas.

Mas Hoje e porque ainda respiro, mesmo com os pulmões cheios de sementes vazias...
Escrevo com o coração apertado e planto abertamente no mundo..

flores.

sexta-feira, fevereiro 04, 2022

Oca esperança

Não queria escrever um poema... Mas todas as noites, escrevo um poema para acalmar algum mundo que me possa ter doído durante o dia. O mundo hoje esteve um pouco dorido e machucado. Podia ir para a rua dar pão aos pobres e dar ao mundo algum gesto mais nobre. Podia mas não fui, fiquei sozinha em mim a nutrir a alma. Podia ir ao fundo da terra, levantar o corpo frio aos mortos.. Usar as minhas mãos para os aquecer. Podia, mas escolhi morrer por dentro com saudades.
Não queria escrever um poema, mas ele já rabiscou um sacana de um sentimento nas minhas costas. Podia amordaçar as mãos, para não darem nem mais um passo... Para aguardarem da mente novas e sensatas ordens. Podia, mas o meu coração não tem emenda. Não é um mau coração, posso jurar a pés juntos que só escreve de si, o que de tão profundo sente. Não queria escrever um poema esta noite, mas a poesia não me quer a dormir. Está um pensamento bonito à janela... Já não lhe vejo bem o rosto, porque o tempo desfocou-lhe os traços. Há um vazio que o quer engolir e eu preencho o céu com estrelas e boas memórias. Porquê? Não sei.. Faço poemas que hoje quase ninguém lê... Escrevo palavras que o mundo actualmente, talvez ignore... Mas o meu interior é assim, dissolvido em silêncio numa tijela morna com letras. Que ninguém entende, porque já ninguém o lê. E eu escrevo poemas que já não falam de amores nem de corações quentes.. E eu escrevo poemas que já não relatam o sangue das minhas batalhas nem cicatrizam o sal das minhas lágrimas. E eu escrevo poemas que já ninguém lê e que já nenhuma alma comove. Mas eu tenho esperança de morrer outra vez e renascer na pele crua e pura de um poeta... E eu continuo a escrever histórias de sombras e de luzes em ocos versos .. Que já ninguém entende... Que já ninguém lê.

quinta-feira, fevereiro 03, 2022

Se o mundo inteiro fosse poeta...

Todos os dias escrevo um poema...
Hoje foi mais um dia no calendário
com as palavras a servirem a gula dos meses.
Mas eu também respiro todos os dias e o meu coração neles também bate...

Usar a poesia no canto da boca,
não a torna num gesto mais especial...
é só mais um, no meio de outros tantos
que me empurram para fora de mim.

Talvez eu devesse, plantar um limoeiro no jardim
ou semear tulipas , para colher no meu peito um ramo massivo de flores.
Talvez eu devesse,salvar o mundo da pobreza
e regar as barragens para lhes matar a seca.
Mas não... todos os dias escrevo um poema...
Como se a poesia pudesse matar a fome ou salvar a solidão do mundo...

Podia esculpir o gelo, como se fosse uma delicada e sensível artista...
Fazer nascer corpos nús e formas desconexadas
para confundir e maravilhar as almas.
Podia , mas não o faço, porque só nas palavras me encontro imperfeita e desconstruída...
Pronta a renascer em cada parágrafo.

Todos os dias escrevo a porra de um poema...
Todos...Nem sequer escolho os dias pares ou os impares ...
Podia fazer uma distinção, para organizar por cores as ideias.
Talvez eu devesse; governar o mundo com as minhas próprias mãos
Envergar a bandeira da democracia, quando jorro de mim sentimento,
Como se ele fosse o sangue dos meus erros e omissões.
Podia entender todos os seres e abraçá-los como se fossemos todos irmãos...
Talvez eu devesse,ouvir as mentes caladas e escutar-lhes os silêncios
como canções de embalar que se murmuram baixinho
Para não acordar ressentimentos e iras.
Mas não, todos os dias venho até ti...
Pálida e entristecida, libertar os meus lamentos num parco verso.

Pudesse o mundo inteiro, entender o teu coração
Como tu entendes as reticências que ficam suspensas
depois de sentida no peito
a incerteza do ponto final de uma dor.

Universal

Somos estrelas...
Partilhamos o mesmo céu infinito.
Somos árvores...
Enlaçamos os corpos nos mesmos ramos.

Somos chão e pedras...
Respiramos o mesmo pedaço de pó
em cada inspiração travada.

Tocamos ao de leve o núcleo quente dos planetas..
Somos um único vulcão,
que se alimenta na lava e
se condena em cinzas

Nada mais podemos fazer...
Extinguimos a força do universo
num suspiro mais profundo.

És tu.. Somos e é só uma questão de sermos.

quarta-feira, fevereiro 02, 2022

Dias assim...

Há dias em que não te consegues compreender...
Há dias em que te compreendes demasiado...
Nesses dias, sentes falta da tua doce ignorância de ser.
Demonstras ao mundo os teus olhos de vidro e partes a alma em finos pedaços.
Nos teus olhos guardas as sobras e na tua boca ainda livre
as palavras que restam , são bordadas em completo silêncio.
Há dias assim... incompreensíveis.

Deep