sexta-feira, agosto 19, 2005

Carne licorosa



Da varanda do hotel
vou recolhendo o ontem em lembranças de espuma.
Fundo momentos com o mar
e fico a vê-los morrer na serenidade
de uma onda quebrada.

Viajo quilómetros
com os olhos embarcados na saudade
e vou sorrindo
para o céu azul que espreita
as minhas mãos vazias de suspiros.

Vou perdendo sonhos na areia
como se fossem migalhas.

Depois ao regressar à praia no fim da tarde
já não os encontro
porque partiram à deriva
nas asas de uma gaivota alucinada.

Então...
afogo sentimentos numa taça de vinho
servida bem gelada
para não destoar com o frio cravado no coração.
Perco-me em tradições
que não são minhas
e cultivo sorrisos frágeis
nas folhas de uma videira.

Á noite, deito-me embalada
pelo som de uma gaita de foles embruxada
e não me reconheço
naquele papel de feiticeira.
Não quero acreditar
que seja eu
quem está reflectida naquele espelho...
Mas os olhos não mentem
e naquele momento mágico
sou apenas mais um corpo
bem regado a licor.

Daniela Pereira

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