Abriu o caderno lentamente
mais ou menos no seu meio
e escancarou-lhe as páginas em cima da mesa.
Hoje decidiu rabiscar uma palavra vagabunda
e uma linha escrita ontem
é terminada apressadamente com um ponto final desfocado.
Salta algumas folhas distraídamente
ainda habituada à precisão do toque de um teclado
e com as letras cabisbaixas chora no papel.
Mas no seu pranto não se esquece
de perseguir a fantasia com a mãos sujas de tinta
e vai pintando um mundo que não é o seu
com palavras tímidas expelidas da boca.
Não é uma mulher original...
Nem sequer se distingue das outras
que o homem esculpiu para decorar a monotonia do seu jardim.
Não tem asas de anjo
mas voa rente aos sonhos
e rouba-lhes todas as noites pedaços do seu encanto
apenas porque isso a faz sorrir.
Pega fogo aos olhos com paixão
na certeza de ver o pôr do sol forrado no olhar
e a escuridão da alma reduzida a cinzas.
Perde-se em desejos carnais
deitada num colchão de delírios
com os lençóis cobrindo-lhe os seios apetecidos.
Atinge a lua num grito agudo
enquanto o corpo treme de prazer
aguardando ansiosamente a chegada da próxima onda musculosa.
Mas não se sente segura naquele mar de abraços inconstantes
A pobre mulher docemente sonhadora...
Então, quando a madrugada bate à janela
desce do barco das ilusões
e com as unhas vai abrindo estradas
na esperança de finalmente descansar na segurança
da cama ao lado.
Daniela Pereira 07/08/05
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