sexta-feira, junho 30, 2006
Extinção
Se o mundo
já não suporta
ouvir-me gritar
o que sinto...
Então,ficarei quieta
num canto escuro qualquer
em absoluto silêncio
até que ele
se digne a estender-me
novamente a mão.
E se DAR
não for mais sinónimo de RECEBER
no dicionário dos mortais...
Então nada darei de mim
enquanto esta alma permanecer vazia.
Daniela Pereira-30/06/06
domingo, junho 18, 2006
Sussurros e poesia-Parte III-Respirar num gesto pensado
Inspiro fundo...
E porque já não respirava à tanto tempo
deixo que os meus pulmões
recordem lentamente o gesto.
Sem pressas
deixo o ar suspenso
e não lhe apresso a viagem.
Ouço o mar
ofegando nas paredes do meu quarto
e em silêncio
absorvo o cheiro da maresia impregnado nos lençóis.
A pele fica roxa
enquanto aprisiono o ar
e mesmo que sufoque
sei que não desistirei de dominar
este corpo que é só meu
por uma herança
que a alma deixou na carne.
Sinto que perco as forças
e a vertigem
é um acto pensado
nesta libertação forçada da mente.
Os olhos fecham-se
e o mundo são imagens desfocadas à minha volta
sem rostos cerrados
nem rugas nas palavras
porque o silêncio não envelhece...
Passaram apenas alguns minutos desde aquele momento em que decidi respirar profundamente ao sabor da poesia. Agora que prendi por momentos as palavras com cordas pretas e as esmaguei contra paredes brancas, sinto que chegou a hora de as deixar soltar o ar calmamente enquanto caminham por estas longas linhas sem a poesia pesando nas costas.
Posso então abrir os olhos descontraída e ver que o meu mundo ainda está perfeito mesmo que nunca deixe de ter recantos imperfeitos à primeira vista.
Inspiro...e expiro devagar
E ao sabor desta loucura que é respirar começo-me a sentir como se fosse apenas mais uma onda que o mar alberga nos seus braços numa sintonia perfeita com a natureza. Mas como nada é eternamente perfeito dou por mim a rebentar ilusões contra um muro de areia improvisado à beira mar.
Então dou uma abanadela ao meu corpo para que saia daquele transe e regresso ao sufocar da vida...
Daniela Pereira-18/06/06
domingo, junho 04, 2006
Elogio fúnebre a um NADA...
Não és nada
e nunca foste nada
para os outros
que são tudo para ti.
Nem mesmo aquele ínfimo pedaço
que de ti deste
julgando ser o teu maior pedaço
chegou para preencher
algum espaço no céu com o teu nome.
És um vazio na terra
que nada tem por dentro
para além de sentimentos ocos
e emoções emprestadas .
Não tens vida própria
e vives à custa dos outros
esperando alimentar os teus sonhos
com as migalhas que os outros te dão
em troca do pouco que lhes dás.
Depois é ver-te a escrever como louca
a pensar que alguém escuta as tuas palavras
e só porque as carregas com toda as tuas forças no papel
julgas estupidamente
que podes assim deixar alguma marca.
Mas não...
Digo-te que não deixas nem um traço
porque és apenas pó
e o vento sopra-te rapidamente da folha sem remorso algum.
Não amas
e nem sequer podes mais amar
com esse coração assim desfeito
por tantos medos aguçados.
É que tu sabes bem
que assustas qualquer sentimento
que passeie alegremente pelo teu peito
com todo esse medo que tens colado a ti
e nem sequer te importas.
Já não enfrentas o mundo...
Se é que alguma vez o enfrentaste de frente
porque sempre te vi fugir
como um cachorro assustado.
Já não sabes como se luta
porque te esqueceste como isso se faz
de tanto estares
enfiada nesse teu buraco seguro
cercada de fantasias.
Esperneias...
Gritas e choras
e enquanto te debates sozinha
por entre dúvidas e certezas
nos teus pensamentos mal amanhados
vais suplicando
como um peixe fora de água
que te deixem ao menos respirar.
Então, hoje sei que olhas sufocada
para aquela caneta
que tantas vezes te fez sorrir
e até ela baixa os olhos
perante toda essa tristeza
que adivinha estar estampada nesse teu rosto.
E tal como tantos outros
ela também já se sente enfadada
das tuas lamúrias sem nexo
que esculpes com as tuas mãos
nas curvas da poesia morta.
Agora ela só quer
procurar outros poetas
que saibam celebrar com as palavras
essa vida que tu
já não tens nos teus dedos.
Daniela Pereira-04/06/06
P.S:Imagem by DeviantART
Remendar o frio nas tuas costas...
Ouves-me vento?
Ou será que os meus gritos e lamentos
são tão fracos
que nem com a boca encostada ao teu ouvido
consegues-me escutar?
Se calhar toda a dor
que me tem corroído por dentro
já chegou à garganta
e queimou-a de tal maneira
que nenhum som sai dela
e se a mudez se apoderou das poucas palavras que nela sobreviveram
então o silêncio poderá ser agora a minha voz.
Cruzo os braços mais uma vez
e fico novamente à espera do teu sinal
sossegada no meu canto
aninhada em choros e pensamentos
até sentir a noite afogar-me num mar de papel branco.
Depois abro a janela todas as manhãs
na esperança que o dia esteja diferente
que ele tenha acordado com mais cor para mim.
Mas não...só se eu tivesse sonhado
porque o céu ainda está pintado de negro
e as nuvens permanecem salpicadas de cinzentismos.
Então resignada com o meu triste fado
volto a fechar a janela
com dois murros no vidro
para depois desiludida virar as costas ao mundo
fingindo uma atitude de pura rebeldia.
Mas na verdade...
E o meu mundo sabe-o tão bem...
Apenas desejo que ele me toque
nem que seja ao de leve no ombro
e mostre alguma gratidão
pelos buracos que tantas vezes lhe remendei nas costas
para que nunca sentisse este frio medonho
que em mim hoje sinto.
Daniela Pereira-04/06/06
Subscrever:
Mensagens (Atom)