terça-feira, agosto 29, 2006

Sou filha das palavras que sentem...






Sou filha da noite

e no seu regaço

embalo todas as palavras

que comigo se deitam por prazer.



Não acordo as estrelas

com os meus gritos mudos

nem perturbo o sono da lua

com o meu pranto morno

quando me deito.



Na noite...

sou silêncio na voz

e as palavras que escrevo

com a boca orgulhosamente fechada

respiram pelos meus dedos

enquanto não amanhece no meu rosto.

Mas quando acordo para o mundo

abandonando todos os sonhos na escuridão

sei que estas palavras

que fielmente calo na garganta

gritarão para sempre deitadas no meu leito

por um amor

que a poesia numa noite

quis ver nascer solitário e vagabundo.


Daniela Pereira-29/08/06


 

3 comentários:

António Sanches disse...

A Tua Gruta

Palavras tuas, devaneios teus,
qual gruta escura,
que anseia a pedra ruir.
No chão amargo, húmido, discreto,
esperas longe, no velho túnel,
olhas inerte a luz a sorrir.

Cantas palavras de rubro,
em timbre grave de solidão.
Percebe tu, amiga nua,
que só os passos contam,
na rua da imaginação.

Não é destino, nem paragem.
Não é passagem, nem retiro.
Passos são os que entendem
o caminho que tomamos,
e as escolhas que bebemos.

Eu cá, amiga nua,
não preciso de motivos,
não preciso de razões.
Vou onde me sinto estar,
estou onde me leva o calçado.
Fujo e avanço quando preciso,
volto a trás, se for caso disso.

Vamos! Vamos lá!
Nasce de novo, amiga nua,
sai de tua gruta, escondida, segura...

Vem pensar sorrisos.
Vem amar de sol ao peito.
Vem contar-nos a história,
de escuro outrora vestida,
que por reparo de ligeiro passo,
rumou de negro, por pouco tempo...


Cícero
Setembro/2006

blueiela disse...

Cícero....


Obrigado poeta :)


beijinhos

blue

zharpah disse...

Fiquei com a impressão de termos muitos pontos em comum para além de formas de encarar a escrita como forma de dar alento e significado ao sangue que não se esvai quando as palavras crescem vindas da "noite"!