Sou filha da noite
e no seu regaço
embalo todas as palavras
que comigo se deitam por prazer.
Não acordo as estrelas
com os meus gritos mudos
nem perturbo o sono da lua
com o meu pranto morno
quando me deito.
Na noite...
sou silêncio na voz
e as palavras que escrevo
com a boca orgulhosamente fechada
respiram pelos meus dedos
enquanto não amanhece no meu rosto.
Mas quando acordo para o mundo
abandonando todos os sonhos na escuridão
sei que estas palavras
que fielmente calo na garganta
gritarão para sempre deitadas no meu leito
por um amor
que a poesia numa noite
quis ver nascer solitário e vagabundo.
Daniela Pereira-29/08/06
3 comentários:
A Tua Gruta
Palavras tuas, devaneios teus,
qual gruta escura,
que anseia a pedra ruir.
No chão amargo, húmido, discreto,
esperas longe, no velho túnel,
olhas inerte a luz a sorrir.
Cantas palavras de rubro,
em timbre grave de solidão.
Percebe tu, amiga nua,
que só os passos contam,
na rua da imaginação.
Não é destino, nem paragem.
Não é passagem, nem retiro.
Passos são os que entendem
o caminho que tomamos,
e as escolhas que bebemos.
Eu cá, amiga nua,
não preciso de motivos,
não preciso de razões.
Vou onde me sinto estar,
estou onde me leva o calçado.
Fujo e avanço quando preciso,
volto a trás, se for caso disso.
Vamos! Vamos lá!
Nasce de novo, amiga nua,
sai de tua gruta, escondida, segura...
Vem pensar sorrisos.
Vem amar de sol ao peito.
Vem contar-nos a história,
de escuro outrora vestida,
que por reparo de ligeiro passo,
rumou de negro, por pouco tempo...
Cícero
Setembro/2006
Cícero....
Obrigado poeta :)
beijinhos
blue
Fiquei com a impressão de termos muitos pontos em comum para além de formas de encarar a escrita como forma de dar alento e significado ao sangue que não se esvai quando as palavras crescem vindas da "noite"!
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