sábado, abril 25, 2009
Ode ao carrasco do amor...
Já respirei!...
Ia jurar que já tinha respirado
mas o sangue ainda ferve
e nas veias corre
sem previsões para abrandar...
É pele que cravas nas unhas ou são máscaras que te caem da carne
agora que despis-te a tranquilidade que te vestia o rosto?
Tens os olhos inchados e o nariz está torto
por tantas verdades em ti suportadas...
Vi-te ontem...trajado de bom menino
chorando aos pés de alguém...
Ajoelhei-me e rezei..
pedi ao infinito para te roubar a leveza da voz...
para que o tempo fosse implacável
a sufocar-te em lembranças..
Por cobardia confesso
que menti em todas as preces
e que ontem pela primeira vez
não pensei em ti...
Não te deixes enganar pelas palavras...
estás calado aqui dentro!
Respira!
Já respirei..
jurou um pulmão
esfomeado por um pouco de ar..
Dou uma gargalhada
e a saliva já me cospe o sangue
do último murro que do meu peito
fez carne ferida...
Que gosto terá o ar quando é puro?
É pele que cravas nas unhas ou o teu choro é de pedra agora...
que me farejas de longe todos os ossos?
Tens a boca grande e os teus dentes trincam sobras
como se o teu estômago fosse a única sobremesa que engoles...
Lá bem no fundo ainda exibes orgulhoso
restos do último piteu
que te jazia no prato aquecido...
Enriqueces pela ponta da língua...
nunca pela ponta dos dedos...
Inspira..
Já inspirei
acena um pulmão
vagamente interessado no meu novo respirar..
Fecham-se as bocas com fome e a sede de sufocar mata-se pelo nariz..
porque das peles expiradas já nada resta...
Foi o carrasco do amor que já me levou a alma
para o cume das montanhas
onde o meu sonho fala sempre mais alto que a dor...
O corpo dorido?..
esse atirei-o ao mar cansada de tantas alianças...
Respira...
Já respirei...
Daniela Pereira in " O amor pressupõe dois lados opostos"
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segunda-feira, abril 20, 2009
Gritar de tras para a frente...
Se eu não disser nada terei no silêncio a contenção de um tudo?
Sinto um amargo na boca e a voz desce dormente para o fundo da garganta...o choro rasga-me todos os gritos e no entanto ainda guardo sozinha um sorriso dentro de mim.
Que bela lutadora eu sou! Já bati nas paredes 4000 vezes e todas as nódoas se voltaram contra mim. Chamam-me estranho ser por querer perto de mim o que me faz bem...
Irreal e sonhadora por acreditar num sentir...estranha forma de vida um dia nasceu em mim.
Pega-me ao colo anjo invertebrado ..pega-me ao colo que estes passos já não me levam a lado nenhum...
Se eu rodopiar um pouco mais devagarinho,alinhas-me a alma que ficou fora dos eixos?
Às vezes posso jurar que vejo o mundo ao contrário...que os rios estão secos e que os jardins são todos de cimento.Que as flores são cinzentas e que as crianças correm apenas porque fogem dos papões...já não trepam às árvores nem fazem desenhos com as pedras do chão...
Que em todas as nuvens existe uma chuva por cair e que em todos os sois se escondem buracos negros para engolir num dia marcado toda a minha luz..
Não existem lágrimas que durem para sempre, nem amores que sejam sentidos em vão...mas existem vazios e corações molhados em todas as ruas do amor.
Há punhais por cima de todas as cabeças prestes a cair e apunhalar-te a beleza das memórias em cada hora que sai do relógio...
Há fitas vermelhas despidas dos cabelos e beijos esmagados nas mãos...
Há um mar que nos quer afogar e uma onda que nos salva incomodada pelo gosto doce que temos na pele..somos cuspidos para fora da revolução como se os lobos pudessem ser cordeiros mansos e as formigas soubessem como trazer a paz às guerras de um gigante...
Ai se os anjos fossem mesmo desprovidos de sexo poderiam viver eternamente a sentir o amor dos humanos..porque só ele em nós é imortal. O corpo é um pedaço de carne que a dor apodrece...imoral é deixar que a alma morra...
Daniela Pereira
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sábado, abril 18, 2009
A fórmula dos amantes
O mundo é um catálogo de relações temperadas às pressas...
Hoje amo-te com cuidado...porque amanhã tu já não prestas!
Não chores à minha frente
nem me cortes o pescoço...
Sabes que a dor não é minha
e o teu sangue suja-me o rosto.
O mundo é um desfile de corpos bem apurados...
então diz-me donzela
porque não tiras já a roupa
nos meus lençóis perfumados?
Já te disse...Je t'aime e ternamente amei-te em francês .
Não te faças de rogada e vem foder loucamente com este belo português!
Tens uns olhos tempestivos e os teus beijos ..até são frouxos..
que importa cinderela...só quero trincar a carne tenra das tuas coxas.
Podes também dar-me os teus seios ,nesta festa o corpo é rei.
Matas-me a fome por gosto
e explorar-te livremente faz parte da minha lei!
O mundo é um catálogo de relações temperadas às pressas...
Hoje amo-te com cuidado...porque amanhã tu já não prestas!
Dar flores e namorar são provas de pouco uso,...
vamos mas é rebolar lá para as dunas do Araújo!
Amo-te tanto que o meu corpo não sabe estar parado à tua beira...
Dizem os astros sabidos que quero lamber-te a pele para a vida inteira!
O mundo é um catálogo de paixões entusiasmadas...
Hoje pinto-te nas paredes
és a mais bela das minhas musas...
Vem deitar-me ao meu lado que esta solidão já arrepia...
Sabes que amanhã já não estou cá
e aproveita porque facilmente desapareço por magia.
O mundo é um catálogo de relações temperadas às pressas...
Hoje amo-te com cuidado...porque amanhã tu já não prestas!
Nesta corrida contra o tempo
O amor já não tem posto...
namorar é solitário,
vamos fazer uma orgia
porque sexo a três é que dá gosto!
O mundo é um catálogo de relações temperadas às pressas...
Hoje amo-te com cuidado...porque amanhã linda menina..
tu já não prestas!
Daniela Pereira
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quinta-feira, abril 16, 2009
Haverá sempre esperança no fim de uma utopia...
Penso que a vida é feita de encontros desnecessários e de desencontros desperdiçados em ruas com cruzamentos mal calculados...
Talvez fosse bom parar um pouco e ficar a olhar apenas para a perfeição das estrelas...
Haverá sempre um sorriso atrás do espelho desejando a eternidade das sombras...
Uma pintura nos lábios que não combina com o desenho idealizado na tela..."falta-lhe algo" pensarás tu quando vês o teu sorriso a desmaiar cansado...
Faço caretas ao espelho..talvez assim ele mude a expressão da sua tristeza para traços menos duros. Vou alugar um palhaço a um circo qualquer que encontre a actuar na estrada...Afinal ter sonhos não é proibido..e o algodão doce não engorda a alma
Daniela Pereira
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terça-feira, abril 14, 2009
Conjunções despropositadas
Tenho tantas palavras entaladas cá por dentro..que o melhor é trincá-las com força quando tocarem nos meus dentes.
Prefiro migalhas a pedras duras..prefiro pão tostado a um pedaço de chão. E as palavras rimam e nada dizem umas às outras...conheço-as assim. Pesadas no toque e doces no olhar..meras palavras.Conjunções despropositadas e pronomes por vezes tão impessoais que de longe não me parecem descrever nenhum pedaço de gente...mas ao perto sou um micróbio debaixo de uma lente que o tempo não consegue ampliar. E fico assim..pequena a abraçar alguma poeira que deixei cair...
Prefiro cravos vermelhos às margaridas amarelas...prefiro um mar resmungão aos calados rios turvos. E as palavras não rimam e tudo dizem umas às outras mas esqueceram-se de aprender a ouvir aquela letra minúscula que ficou presa ao teu rodapé...E ela balança..balança e o vento não lhe pede para voar e ela casmurra vira-se de pernas para o ar só para contrariar...
E as palavras rimam e chocam umas com as outras..acho que querem dançar..mas há quem diga que querem mesmo é fugir da vergonha. De boca fechada sempre serei o vosso destemido ninho...
Daniela Pereira in "Despropósitos aceitáveis"
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sexta-feira, abril 03, 2009
O céu fica ali mesmo ao lado...
.E se todas as escadas tivessem como destino mais próximo o céu...subias mais um degrau ou ficavas parado a pisar a porcaria que brilha do teu chão?
Hoje o céu está mais azul e as nódoas do teu peito têm aroma a limão...
Há uma lua deitada no fundo de um poço..jura a pés juntos que já fez nascer no seu regaço pedaços de luar. Porque dizes que é mentirosa..se quando pedias estrelas ela dava-te imediatamente todas as que tinha na mão?
Hoje o céu está mais azul..eu sei! Pintei-o às pressas antes de adormecer com a tinta desbotada da camisa de dormir...Ontem estavam mais vivas as cores, mas chorei e o veludo enfraqueceu....tenho pena,porque o azul sempre foi a minha cor.
É injusta a chuva que cai quando o sol está farto de esperar para me ver...dá-me raiva ver aquelas nuvens mal paradas que não atam nem desatam no meio do caminho. Lembram-me a inflexibilidade da tua mente.Tenho vontade de lhes dar pontapés até as ver cair de lado...
Há um mar que descansa tranquilo nos meus olhos...são gotas ainda não caídas a aguardarem a sua vez na borda do rio...e a lua lá no fundo a jurar que é verdadeira.
Se eu descer mais um degrau na tua escada,será que o céu ainda se recorda do meu encanto?
Daniela Pereira in "O céu é mesmo ali ao lado.."
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