Se chegou o momento em que não
entendes mais o ser humano
então chegou o momento de fechares o
teu coração com tudo o que ele já tem por dentro.
Se já não entendes... chegou o
momento de esvaziar pensamentos...de premir o botão do off interior.
A queda já existe dentro de ti, então
porque ainda te angustia o caminho que te leva até ao precipício.
Se as palavras que fugiam de ti com a
alegria de uma flor a despertar pela manhã …
hoje são palavras que sentes que têm
em ti a força de pedras que regressam sem pensar e te destroem as
pétalas...e te desnudam os sentimentos como se o teu íntimo fosse
algo banal.
Então chegou o momento de tu mesma não
existires... deixou de ser tempo para abrir o coração, para ser o
momento de te revelares para dentro. A rua é hoje um mundo cinzento,
repleto de sombras e esquinas com desencontros. Envergonham-te as
tuas ideias...até os teus pedidos te fazem sentir menor do que
aquilo que tu realmente és. Envergonha-te o medo, que te distorce as
entranhas. Envergonha-te a incapacidade de demonstrares o quanto
amas. Envergonha-te a necessidade de te sentires amada e um pedaço
de alguma coisa importante, porque és incapaz de te sentires
reduzida a cinzas. Dizes que estás cansada de renascer do pó e
mesmo assim tu renasces e lambes incessantemente as tuas feridas.
Se chegou o momento em que não
entendes mais o ser humano...então, chegou o momento de te
entenderes a ti mesma como um ser assustado e não ter mais vergonha
de o admitir.
Chegou o momento de reservar emoções
e de usar a folha de papel como o único mundo que te aceita, tal e
qual como tu és.
Admito que não entendo mais o ser
humano..admito que daria tudo para o conseguir entender ou pelo
menos para o conseguir preservar até ao dia em que tudo fizesse
novamente sentido.
Admito que sou frágil perante a
grandiosidade do ser humano da mesma forma em que sou submissa e
rendida perante a dor.
Se chegou o momento em que não
entendes mais o ser humano, então chegou o momento de desistires de
o entender. Se o destino te moveu para outras paragens...deixa que o
vento te leve para onde quer, até porque estás demasiado cansada
para te debateres. Deixa que no chão o teu corpo repouse, surdo e
mudo para todos os silêncios e para todas as vozes que para ti se
calam por um motivo qualquer que não conheces, mas que desejas que
seja só uma brisa enganada no caminho que tem que percorrer para
chegar a ti. Talvez se tenha perdido dos teus passos... talvez os
teus passos não fossem os mais certos porque temias cair e sabias
que não terias forças para recuperar.
Envergonha-te o passado que te
apedrejou … orgulha-te o passado que te mostrou que mereces ser
forte e que não desistes por fraqueza mas sim por necessidade
humana.
A rua é hoje para ti um mundo estranho
e frio... aqui dentro ainda há calor.
Daniela G. Pereira
Direitos de Autor Reservados
Sem comentários:
Enviar um comentário