domingo, outubro 24, 2004

Rasguei o chão do teu pesadelo


Escorrem rios de lava pela navalha esterilizada
com que rasguei o chão do teu pesadelo.
Choro poças de sangue dos meus olhos de sal
manchando a nuvem branca que passou por ti.
Estendo-te um lenço negro para me acenares um adeus
na convicção que não será o último.
Sorris um sorriso amarelo e voas em direcção à estrela recortada
pela lâmina afiada na pele do meu peito.

1 comentário:

blueiela disse...

Kabullow,

Tenho um enorme prazer em receber-te sempre aqui nos meus "Devaneios"!
Dizes que te lembro um pouco Augusto dos Anjos?
Confesso que conheço pouco da obra deste escritor mas existe um poema que gosto particularmente e que deixo aqui para agradecer a tua gentileza.

A máscara

"Eu sei que há muito pranto na existência,
Dores que ferem corações de pedra,
E onde a vida borbulha e o sangue medra,
Aí existe a mágoa em sua essência.


No delírio, porém, da febre ardente
Da ventura fugaz e transitória
O peito rompe a capa tormentória
Para sorrindo palpitar contente.

Assim a turba inconsciente passa,
Muitos que esgotam do prazer a taça
Sentem no peito a dor indefinida.

E entre a mágoa que masc’ra eterna apouca
A humanidade ri-se e ri-se louca
No carnaval intérmino da vida."

"um poema de Augusto Anjos

um beijo para ti
Blueiela