quarta-feira, outubro 20, 2004

Palavras rabiscadas no jornal da manhã



Costumava escrever palavras nas costas do jornal
enquanto saboreava as torradas no café da manhã.
Das torradas um pouco queimadas pingava a manteiga derretida
enchiam de gordura as letras de imprensa.
Numa piscina de nódoas mergulhavam as palavras que eu ousava escrever
com as mãos tremidas pelo balançar da mesa da esplanada.
Eram palavras incertas... escritas sem a firmeza da mão do pintor
que contorna a tela num acabamento final .
Virava as páginas do jornal com a agilidade
de uma presa escapando ao seu predador.
Depois levava à boca mais um gole de café
bebido com a pressa de quem tem todo o tempo do mundo.
Estava quente o líquido fumegante...
Queimava os dedos desprevenidos
que seguravam a chávena decorada com imagens abstractas.
Por fim, rabiscava as palavras escritas na ardósia de papel
para apagar os vestígios de alguma história contada .
O relógio marcava a hora da saída
com a pontualidade de quem pica o ponto na fábrica.
Nem um minuto a menos... nem um minuto a mais...
Levantava-me da mesa com o jornal dobrado na mão
enquanto as palavras ficavam trauteando na cabeça.


4 comentários:

blueiela disse...

Olá Vitor!
Gostei imenso da minha visita ao teu "cantinho" e fiquei muita satisfeita por ter a tua presença nos meus devaneios.
Obrigado por leres e comentares os meus poemas...

um beijo
Blueiela

rmf disse...

"Neste abismo é que tu me fazes conhecer a mim mesmo"

casa da poesia disse...

...lindas as tuas palavras...poetiza!..."poeta que inventa o sol...em dias de chuva...mesmo que morra no salgado das lágrimas..."...lindo!...e para ti...

"Abvum d'bashmaia"...!?...

Luís Miguel disse...

é um começo.