quarta-feira, janeiro 09, 2008

Quando anjos e poetas descem à terra lado a lado...








Se um dia um anjo descer à terra e um poeta o encontrar...

Terá no seu rosto linhas dos teus traços e no olhar essa candura ilimitada que na tua alma não parece conhecer um fim...

Terá braços fortes como os ramos das árvores que enquadras com os teus olhos e com bondade fazes crescer...

E os seus abraços?

Os abraços serão como raízes entrelaçadas à volta de um corpo até sentir a carne presa aos dedos a amadurecer .

Asas deve ter!

Porque todos os anjos têm asas e os poetas já nasceram com uma vontade ilimitada de voar...

Talvez as guarde em segredo às escondidas...

Gentilmente apertadas junto ao peito à espera de uma ave magoada que o queira acompanhar às cegas num voo nocturno...

Talvez não goste de mar por ser revolto demais..

Talvez as tempestades lhe recordem a força dos seus sentidos e isso o apavore...

Talvez ame a lucidez das ondas...que sabem ser infinitas e morrer sem olhar para trás,lamentando o que ficou ainda por fazer numa vida curta.

Se calhar já viveu muitas viagens no corpo com a escuridão mergulhada em si...

Conheço-lhes os passos,porque já ali também andei..meio perdida e sombria caminhando por entre lágrimas e indiferenças solitárias.

E se o sol o encontrar sentado com a solidão num banco velho de um jardim ?

Esquecerá por momentos a lua e toda a imensidão de noite que habita num poeta que anseia florir sem deixar mais pétalas caídas no chão?

Como se quebram dois corações envidraçados sem sentir nenhum estilhaço restando sobre a pele?

Ainda hei-de encontrar uma solução...afinal sou poeta no corpo e da profundidade tenho sobras a jorrar da alma...

E há livros que não li mas quero escrever de mansinho...

E existem horas brancas onde refugiar todas as nuvens cinzentas de um céu menos azul...

E tantos...mas tantos pensamentos que em mim não dormem...

Mas talvez na cumplicidade de um sonho eu consiga imaginar tudo o que o meu coração quiser.

Eu sei que no meu desespero pedi desejos agarrada às estrelas só porque a chuva doía quando caía cá dentro...Sei que pedi que a dor não fosse tão impossível de acarinhar...que os sorrisos não dependessem mais da minha tolerância ao espelho...

Das sombras de uma boca...

Lembro-me de ter lavado a negritude das noites com a acidez do meu pranto...de ter deixado a escuridão tão mais limpa e pura..de ter esfregado os sofrimentos contra os dedos noites sem fim na esperança de os ver trespassados na ponta da caneta.

Tantas folhas ficaram em branco porque a minha mente desmaiou sem forças para seguir em frente...

Talvez seja a sina de um poeta..ter o choro nas palavras e os sentimentos na ponta da letra,até que um anjo estranho às realidades da terra procure num poeta escavar o abrigo de um sonhador...



Daniela Pereira
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