domingo, outubro 29, 2006

Um até breve...ou só um adeus..

Porque hoje as palavras não fazem nenhum sentido...não me dizem mais segredos que eu queira desvendar. Porque o sol brilha sempre na mesma direcção e eu desvio-me sempre do seu caminho,talvez mereça esta escuridão que alastra na minha alma.Não sei,talvez...
Porque os sentimentos não são mais uma certeza da razão,deixem-me apenas duvidar do silêncio porque ele aperece incerto e sem nos dar tempo algum instala-se no olhar e cegamos por dentro.O coração é aquele que menos vê quando a cegueira se instala,porque cego confia na eternidade...como se a eternidade pudesse ser soletrada sempre com flores na boca e escrita num manto de céu azul sem nuvens que a apagassem sem nos lembrar que a eternidade será sempre uma miragem.
Matem-me por dentro...rasguem-me o peito em dois pedaços usados porque eu já dei os primeiros golpes e cravei o punhal bem fundo. Amei um pássaro de asas coloridas e esqueci-me de lhe perguntar se ele gostava da segurança desta prisão que fiz nos braços...esqueci-me que ele nasceu para voar de pele em pele em busca da pele mais perfumada..do ninho mais macio que nos seios mais tenros pode esculpir.Mas a inspiração é uma ave que voa demasiado alto para que eu a consiga alcançar só com a solidão dos meus dedos
Agora morro porque a imaginação já não me faz sonhar...por isso adeus ou até breve meus queridos devaneios azuis...

AQUI ESQUECI O MUNDO POR MOMENTOS E SONHEI...MUSE-CAMPO PEQUENO-26/10/06



domingo, outubro 22, 2006

A fera e o cordeiro




O amor é uma fera
que nos devora a alma ate aos ossos
e é no corpo que jazem os seus restos.
Por isso ,só para ti me dispo
oh minha doce escuridão!
Que venham as feras
pelos caminhos de carne batida
porque o sangue quente marcou a tua hora...

blue-22/10/06

sábado, outubro 07, 2006

Carta escrita na areia molhada





Encontra-me depressa, porque sinto-me perdida na memória dos teus passos que o mar bravio não consegue apagar. Vês-me a caminhar na areia em círculos confusos mas não me deixas pedras a marcar o caminho que devo seguir. Por isso ando...e ando por caminhos de ninguém. Por estradas que não me levam a lado nenhum ou então a lugares exaustivamente explorados. Faço o percurso sozinha ou abraçada aos restos de alguém na esperança que esta peregrinação possa fazer algum sentido. Mas o mundo graceja e chama-me louca só porque te amo assim...porque te quero ver feliz mais do que a mim própria e como dizer-te adeus é definitivo demais os “até breve” vão-se alternando com noites mal dormidas.
A areia está fria porque o sol já não a aquece com o seu calor e os búzios da praia calaram a sua voz para me poderem ouvir chorar de mansinho. Repouso por momentos...talvez esteja cansada...talvez queira simplesmente desistir de te procurar em todos os buracos onde te podes esconder. Sinto que deformo a minha natureza quando escavo a alma com as mãos e nada encontro porque há muito que sei que ela é um vazio maior. São frases confusas as que debito aqui....não faz mal cobras-me uma certeza da próxima vez que me vires sorrindo com um botão de rosa sangrando no peito.
Porque eu sangro ...sim porque eu sangro com as flores que se pintam de orvalho vermelho para sentir o pôr do sol e nas lágrimas que escrevo tenho o retrato mais bonito da dor que nenhum pintor nos teus olhos ousou recriar.


Daniela Pereira-07/10/06

sexta-feira, outubro 06, 2006

As sobras do tempo




Hoje sobra-me tempo a mais
para dizer o que sinto
porque as horas
já conhecem os meus gestos de cor e salteado.
Acabaram-se os segredos
que por ti ainda guardava na manga
e todos os coelhos mágicos fugiram da cartola
vencidos pelo cansaço.
Resta-me os aplausos
De um público
Ludibriado por meia dúzia de palavras
Que ficaram esquecidas
E que o vento não soprou.

Então, acho que ficarei calada...
Unirei os meus dedos
E numa irmandade de sangue
Vou costurar os seus corpos
De costas voltadas
Para que não mais tentem segredar.
Talvez o meu silêncio
Possa gritar mais alto
Que todos os gritos
Que nas paredes deixei por engano.

Mete-me raiva este silêncio...
Tão cheio de tranquilidade
E de certezas falsificadas
Em papéis envelhecidos
Com a tinta demasiado desbotada
Para conseguir ler o que neles ainda dizes.
Prefiro não ver a rapidez da tua boca
Fingindo que vejo
O tempo a passar lentamente
Sem saltos bruscos
Nem espaços vazios
Que se prendam ao infinito no meu olhar.
Mas sei que hoje o tempo sobra...
Sobra-me tempo...
Tempo..
para sentir que todas as palavras de orvalho
têm demasiado tempo para murchar
abandonadas numa madrugada de pele e osso.


Daniela Pereira-06/10/06

segunda-feira, outubro 02, 2006

O início de um fim sem tempo para desvios





Espera...pára de respirar por alguns minutos!
Deixa-me respirar por ti
este ar anestesiante que nos cerca
até sentir que o meu corpo
já não reage ao arfar da tua boca.

Olha bem... penetra com os teus olhos na minha pele
Como se o teu olhar
fosse uma lâmina afiada
e não te desvies do relevo do meu desenho
mesmo que encontres montanhas generosas
palpitando no caminho das tuas mãos.
Sabes bem que em breve
elas poderão ser somente vales
por isso não te distraias com tempos mortos
porque aqui deitado junto a mim
cada segundo conta.


Não peças mais...
Não quero mais sentir que os teus braços são pedintes
por isso sem mais palavras
possui o que é teu por direito.
Não esperes mais que os meus lábios
se precipitem perigosamente nos teus
com voos lascivos de desejo
e ganha coragem neste fértil instante
para mergulhares neles
porque este mar vermelho para ti será pura seda.
Substitui as tuas palavras vãs...

Sim...ouviste bem..
Eu disse as tuas palavras vãs!

Por isso
Substitui essas palavras
pelos meus gritos cheios...
As pedras negras que nos separam
por lençóis mais brancos...
O aroma da chuva nos teus dedos
pelo perfume dos meus cabelos.
Tudo o que tu quiseres ter
desde que sintas que eu quero dar.
Só me importa que troques o vazio que hoje sinto
por uma noite de prazer
mesmo sabendo que ela se escreve
com linhas muito incertas
e que o mais certo
é que amanhã na minha cama sejas uma miragem.

Depois arranca-me um beijo bem molhado...
Mas espera, deixa-me respirar primeiro.


Daniela Pereira-01/10/06