quarta-feira, março 21, 2012

Dizem que um poema não chora...





Dizem que a poesia da alma

tem um lugar cativo dentro do meu peito

só porque o meu coração o Amor já albergou.

Mas que faço eu agora, com as palavras de antigamente?

Faço flores de papel com as rosas que cravei nos poemas?...

Faço pássaros da lua e bordo-lhes os meus amores no bico?...

Faço rios de sal e invento um mar mansinho para as estrelas mais confusas?...

Dizem que a poesia da alma

tem um lugar cativo dentro do meu peito...

Mas o meu coração tem quatro quartos e meio por alugar.

Também tem janelas que as lágrimas embaciam

e purpurinas que aos sorrisos

com um brilhozinho nos olhos agradecem.

Dizem que sou uma alma triste...

talvez seja apenas uma...triste alma

que nas palavras recita o pensamento de uma vez só.

Não lhe esconde as angústias...

Não vira as costas aos pesadelos...

Nem tão pouco tem coração de rocha

que aos solavancos as tempestades anuncia.

Ah, mas tem os lábios mais claros e os beijos mais lúcidos

que a tua boca jamais numa simples vida encontrou.

Tem nos olhos a terra mais quente e afável

que o teu olhar assim despido para o mundo um dia provou.

Dizem que sou um pedaço de alma

que o corpo um dia poeticamente rejeitou...

Fez-se a mudança e o coração criou letras órfãs do medo e da dor...

Dizem que a tua poesia tornou-se banal e que os sentimentos perderam o dom de palpitarem nas veias...

Mas os teus dedos...

mas os filhos da mãe dos teus dedos...

ainda deixam marcas pretas na areia

e a tua alma sofre o síndrome de inspirar emoções...

Porque a barriga dos sonhos mesmo faminta

na ponta dos teus dedos jamais se esvazia.

Daniela Gomes Pereira

Direitos de Autor Reservados

segunda-feira, março 05, 2012

O sabor de nenhuma lembrança...


O meu corpo pediu licença para aterrar na tua boca

como um beija-flor perdido num só flor...

Despiu-te o ódio de não seres alguém e vestiu-te com o amor mais puro

com botões de rosa sangue latejando nos olhos.

Não vi a tua alma encerrada e por isso abri o teu peito com os dedos em luva...

O teu interior não tinha nada, mas lá eu vi um céu de estrelas claras...

Então entrei na tua mágoa com a dor presa em mim até aos joelhos

e sem medo da escuridão que irradiava no teu quarto

adormeci na curva mais quente da tua pálida história.

Daniela G. Pereira

Direitos de Autor Reservados