quarta-feira, setembro 26, 2007

Sonho em contra-mão


___ by ~Katarinka on deviantART


Abro os olhos com lentidão
porque ainda abrigo a preguiça nos lençóis
e o nariz sente o frio matinal
equilibrado na ponta.
Tenho a vaga ideia que sonhei...
era de noite...
mas também podia ter sido madrugada...
a escuridão pendurada nos cortinados
baralhou-me o tempo .
Vi flores no papel de parede do meu quarto
e esqueci que as paredes
agora são pedra nua rosada...
Inspirei o aroma da relva molhada
prisioneira no meu tecto
e fiz caracóis no cabelo
que faziam inveja
a qualquer mar turbulento...
Escrevi meia dúzia de livros
com os dedos sem tinta
porque nos lábios usava bâton
e as palavras assim avivadas de vermelho
carimbam-se facilmente em qualquer folha de papel assimétrica...
Joguei às cartas com o tapete
e o candeeiro de areia roubou-me a cor do dinheiro
porque estava cansado de tanto azul
a mergulhar nas suas costas...
Quis fazer bolas de sabão
com a água das garrafas
e pastilhas efervescentes com sabor a laranja...
mas elas não voaram
para fora do copo
e foi mesmo ali
que fizeram todas as manobras arrojadas...
Morreram todas em poucos minutos
mas deixaram no vidro
fortes marcas da sua existência.
Dá-me vontade de rir
quando me lembro da demência deste sonho...
Mas depois ...
pensando bem...
Porque haveria eu de rir
de um sonho tão cheio de sabor...
só porque ele me aparece no cérebro
em contra-mão?
A sensaboria em demasia
na realidade que se apresenta
impecavelmente vestida com linhas rectas
Pode parecer que não...
mas também enjoa!


Daniela Pereira
Direitos Reservados

quarta-feira, setembro 19, 2007

O original sabor do amargo...


EROTIQUE102 by ~luizovega on deviantART


Hoje despertei leve e serena...

Com o olhar sorridente e o peito cuidadosamente escancarado.

Mas a poesia em mim

Não costuma jorrar na tranquilidade.

Não me importa

Que as palavras hoje surjam nas horas mais estranhas

Ou nos momentos mais relaxados.

Estão-me a fazer cócegas nos dedos

Pedindo-me para sair

E eu até sinto

Um friozinho na barriga

Quando elas dão voltas e mais voltas à procura de um buraco...

Não tenho lágrimas nos olhos...

Nem sequer tenho um sorriso especial a cintilar nos lábios...

Mas sinto-me bem assim

Espectacularmente normal e natural...

Deliciosamente doce e amanteigada...

Vigorosamente fresca e regenerada...

Hoje despertei sentindo-me bem na minha pele

Apreciando todas as imperfeições da minha carne

E descobrindo um original sabor em todas as pedras que engulo.


Daniela Pereira
Direitos Reservados

domingo, setembro 16, 2007

Quando se perde um amigo...




"É com uma felicidade imensa k eu partilho este poema...porque apesar de ser um poema feito de palavras tristes, hoje devolveu-me o sorriso pk essa amizade resistiu a mais uma tempestade.E sinto cá dentro k será uma amizade para a vida inteira :)


Quando sentimos que perdemos um amigo

parte de nós é lágrima que cai desamparada...

mas cá dentro, há um sorriso triste

a recordar os bons momentos

que esta amizade nos deu.

Nasce um vazio

de um todo quebrado

e um mar cinzento

chora despedaçado

pelas memórias que perderam a cor.

Abre-se um buraco no peito

e a enxada deve ter lâmina dura

porque nos escava uma ferida tão profunda

que esburaca o corpo só para nos atingir

em cheio o recheio da alma.


Se eu tivesse uma pedra no lugar

onde vi plantado o meu coração

Talvez,soubesse como impedir

que a dor me roube mais esta seara...



Quando sentimos que perdemos um amigo...

as pernas caminham sem destino

porque os passos esqueceram o seu rumo

e dormem sozinhos junto á estrada.

Há braços com frio

porque sonham com um abraço...

Há um pássaro a baloiçar naquele ramo

mas já sem vontade de cantar

para aquele banco de jardim vazio...

Há palavras sem força suplicando vozes na garganta

e restos de gritos que dela saíram altos demais...

Há quadros pintados com os dedos logo pela manhã

e arco-íris que desmaiam lá pela noitinha...

Há lágrimas abençoadas

que se ajoelham fielmente a rezar por nós

e sorrisos danados a rir do desespero das minhas preces.

Há poemas colados ao tecto

porque querem preservar no céu esta história

sem acreditarem que ela chegou ao fim...

Há sonhos por perto rasgados no chão

e folhas de papel tão teimosas que se recusam a voar para longe...


Ai se eu tivesse asas nas costas

para dar utilidade a todas estas penas!

Se eu soubesse o valor da eternidade dos gestos

e das promessas que se proferem sem olhar.


Mas, porque é que a tristeza me faz pensar

que hoje perdi um amigo...

se ainda ontem sorria tão feliz por o encontrar?


Blue