sexta-feira, fevereiro 27, 2009

O primeiro olhar..um ultimo amor-IV parte




O primeiro Olhar


Ele e Ela...Ela e Ele...


Depois de rostos difusos e palavras sem som, Ele quis ver-lhe os contornos..a cor dos olhos quando o sol os iluminava..Ela quis ver se o sorriso dele era mesmo tão doce como ela imaginava...
Já tinha sonhado com Ele, com palavras animadas a bailar na escuridão..com olhos parados num ponto só cruzando desejos. E Ele? Onde a guardava nos seus sonhos? Seria em abraços de espuma ou em abraços de chumbo com o corpo pesado em cima do dela?Existiria tempo para decorar-lhe os gestos e a altura dos ombros..ou seria tudo tão fugaz que só de suspiros viveriam todas as lembranças?
Ela arriscou conhecer aquela alma que tanto a fascinava pela diferença que dotava na humanidade que nele parecia existir...Tinha doces palavras...ternas preocupações...meigas dores e um vazio que nada parecia conseguir extinguir...metia-lhe pena mas ao mesmo tempo sentia carinho por aquela alma que parecia caminhar sem direcção. Então,Ela abriu-lhe o coração de par em par.. limpou poeiras passadas que por lá ainda andavam...encheu de flores todos os vasos de sangue que jaziam nas mesas...desenhou floreiras para encaixar nas varandas...lavou do chão as lágrimas...rasgou da carne todas as amarguras e acreditou que ia ser feliz fazendo sorrir aquele anjo de asas pendidas.
E Ele veio até Ela, vestindo preto na pele e cuspindo fumo nervoso pela boca com um olhar cabisbaixo surgiu por detrás das sombras e Ela sentiu que as palavras lhe iam fugir na garganta como loucas...que os braços iam ser meigos demais e que o seu sorriso ia ficar muito exposto naquela tarde de chuva adocicada...e assim foi. Ela sorriu..ela abraçou..ela deixou sair todas as palavras que molhou no mel, só porque o queria ver a sorrir.
E eles falaram dos seus feitos..dos seus defeitos também e as mãos procuravam agarrar o que ambos já tinham perdido como se o outro pudesse ter algo melhor do que o seu sonho, se pelo menos sonhassem juntos...todos os sonhos seriam possíveis.
E os dedos dela sentiam-se macios enrolados nos dedos dele...e o corpo dela sentia-se protegido amparado na sombra dele...e os olhos dela esqueceram a chuva que neles ontem caía e viram o sol a aquecer-lhe a testa e o coração dela sabia que os seus corações antes de anoitecer iam conhecer-se num mesmo beijo...


Era tarde...mas não tão tarde
para a lua acordar por entre as nuvens
Era cedo..mas não tão cedo
para dois estranhos não se abraçarem
numa tarde de chuva...
E o medo?
Onde ficou o medo de sofrer outra vez?
E a razão?
Onde esconderam a razão...?
Talvez debaixo do vestido
no meio do veludo tremido...
ou no bolso da camisa
encostada ao corpo humedecido...
Era cedo..
era cedo para alma se despir...
mas despiu-se e a nu deixou todos os beijos
que por respeito a dor passada
do mundo Ela escondia...

Daniela Pereira in Poeticamente falando de corpos para prosear a alma
Direitos Reservados

sábado, fevereiro 21, 2009

Infinita....fusão



Já nada me separa do frio das pedras e da negritude das sombras....
No meu corpo já se fundem as dores e o musgo dos meus passos...

Daniela Pereira
D.R

Foto por Daniela Pereira in www.olhares.com/blueiela

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Rostos



Rostos



Ele e Ela..Ela e Ele...


Buscavam nas sombras descobrir os seus traços...

Ele pediu para ver se o rosto dela hoje brilhava como em todos os retratos e se os seus olhos ainda sonhavam...

Ela achou que ele ia achar que ela não estava bela..que a simplicidade do seu sorriso ia deixá-lo desiludido..apeteceu-lhe dizer que não. Que hoje tinha a pele sem cor...que a luz do candeeiro a deixava coberta de manchas e tons incandescentes...mas em vez disso passou as mãos pelos cabelos e compôs o sorriso com medo de ele lhe falhar a qualquer momento...

E Ele viu-a sorrindo...e disse que ela tinha uns olhos bonitos..cheios de alma no olhar. Que ela era bela... que o coração dele ia saltar do peito..que sentia um impulso de correr até encontrar o seu rosto esperando por ele...

E ela sorriu com um sorriso corado e pintado com girassóis amarelos e tulipas vermelhas...

Ele perguntou-lhe se ela queria conhecer o rosto do patinho feio que ele era...Ela sorriu e disse que o achava bonito..que não acreditava que ele era um patinho feio e que o imaginava com contornos de cisne.

E ele surgiu no meio da escuridão com um rosto marcado de cinzentismo mas com um olhar repleto de um brilho que ela não sabia de onde nascia...Ele disse que era feio...que tinha um rosto cansado...olheiras pintadas nos contornos dos olhos ..a boca torta e o nariz era grande.

Todos os defeitos sairam da boca dele como se a quisesse convencer que ele tinha perdido toda a beleza perante a beleza dela...mas todas as perfeições nela ficaram marcadas.

Ela olhou para o rosto dele...e o seu olhar perdeu-se a decorar cada curva..e desenhou-o em metades e em rosto inteiro na sua cabeça para não mais esquecer aquela visão misteriosa que se erguia no nevoeiro.

Ela disse que ele era belo...ele sorriu fingindo corar envergonhado e foi mostrando todos os quadrantes que lhe moldavam a face e toda a escuridão ficou pequena para tanto sol...

E ali ficaram os dois a olhar um para o outro..sem se verem..sem se tocarem mas prisioneiros das palavras e das sombras despidas em cada olhar...



Hoje são apenas flores mortas pelo chão....

o patinho feio tirou as penas macias que faziam dele cisne e a bela continua com os seus olhos de cristal tristemente humedecidos...



Daniela Pereira in "Poeticamente falando de corpos para prosear a alma"
Direitos Reservados

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Poeticamente falando de corpos para prosear a alma





A descoberta



Ela e Ele...Ele e Ela...


Ela quis conhecer o mundo dele e ele envergonhado foi-lhe dizendo que era apenas vapor no toque.

Falou-lhe de sonhos que gostava de construir com as suas mãos e de almas perfeitas que aprisionava apenas com o olhar. Ela achou fascinante o modo humilde como ele lhe abria a porta do seu mundo e quis saber mais...

E ele então falou-lhe do gosto que sentia quando lia os sentimentos que ela bordava a fogo no papel. Que se reconhecia em tantos deles, que já tinha sentido aquele sabor que ela dava ao beijo...que já tinha visto em alguma esquina a mesma lágrima que ela fizera cair delicadamente no seu rosto .Que era apaixonante como os seus dedos despiam facilmente os corações e confessava que também ele tinha vontade de no coração dela entrar.

E ela estranhamente tão dotada nas palavras, via nascer cordas na garganta que lhe amarravam as palavras atrás das costas e onde um rio geralmente fluía restavam apenas algumas gotas que jorravam de mansinho.

Então ele sorriu inspirado e colou asas nos corpos e estendeu ideias luminosas com a mão e mostrou a ela como era encantado o mundo que moldava com a sua mente criativamente esfomeada.

E as palavras correram perante os olhos dela criando cenários tão belos de tão simples que eram...

Ele contou-lhe segredos...desejos escondidos no fundo da alma..casas brancas erguidas por entre azuis celestes e as ondas de mares temperados. Terras quentes, onde até a chuva era dourada porque sol nunca partia no seu horizonte. Jardins de mil cores semeados em varandas e baloiços no jardim para conchegar tanta vontade de voar.

Ela confessou-lhe que tinha medo do mar..que um dia o mar a quis levar para longe e ela não queria ainda partir. No entanto lembrou-se que nem o medo a impedia de amar olhar o mar e de escrever na areia muitos dos seus segredos...Ele sorriu e disse-lhe que o mar o fazia sentir mais leve naquele seu corpo de gigante e que quando entrava para o explorar todos os seus pensamentos ganhavam vida...disse-lhe que um dia a queria levar para dentro do mar...Iriam de mãos dadas e ela iria sentir-se segura porque ele jurou que nunca a iria largar..e ela sorriu confiante.

E enquanto bailavam naquela dança de palavras e de mundos a descobrir, a chuva caía lá fora e o frio era tanto que fazia chorar os vidros das janelas,mas por um motivo qualquer naquela noite havia calor para dar.



Existem mundos encantados

a surgir na palma de uma só mão..

existem mãos abertas que os querem sentir...

Olhos que cativam palavras

e dedos que fascinam as curvas perdidas no tempo...

E o tempo ali não passa...

e os retratos são feitos de cera

e os corações são todos marmoreados ..

Os sonhos são de areia...

ternamente temperados

colhem conchas nos ouvidos

e o mar mete medo

mas existem gigantes sempre prontos para a frágil donzela salvar...

Existem mundos enfeitiçados

com a magia de uma varinha de condão...

existem fadas de olhar doce e abraços amendoados

anjos com asas coladas

e lâmpadas infinitas iluminando toda a escuridão...

Torres de carne que rompem excitadas das ondas do mar

em busca de uma paixão

e com os olhos brilhando sonham

com amores entranhados na pele

que lhes matem a fome

de uma estranha solidão...

Daniela Pereira in Poeticamente falando de corpos para prosear a alma

Direitos Reservados

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Poeticamente falando de corpos para prosear a alma




"A aproximação"....


Ele e Ela..Ela e Ele..

Ele sorriu para ela e ela sorriu para ele e como duas crianças sorriram os dois.Ele deu-lhe palavrinhas doces e desenhou-lhe flores no papel,dizendo que o coração dele batia mais alto.

E Ele chorou dizendo a Ela que o mundo só lhe queria fazer mal..que todas as almas que encontrou lhe pareciam vazias e que estava cansado de falhar...

Ela achou tão bonito que todos os gestos dele lhe pareciam especiais..e lá ficaram eles de mãos dadas mesmo com elas separadas por duas telas envidraçadas trocando sorrisos envergonhados à espera que um milagre molecular acontecesse...

E Ela achou que era bom voltar a ser criança,para acreditar em histórias de encantar e em promessas feitas com a cabeça encostada nos ombros e os olhos a brilhar.

E Ele prometeu que ela ia sonhar e ele ia pintar-lhe o retrato com a tinta negra que lhe escorria dos olhos..fez-lhe festas nos cabelos e enrolou-se no corpo dela como se ela fosse uma onda que o iria tragar...e Ela abraçou-o despida de preconceitos e plena de sentimentos jurou que o ia amar...e amou..

Doces são as palavras...

e doces foram as verdades não contadas

para a magia não fugir...

Belos foram os dias percorridos de mãos dadas

e com sorrisos acabados de tingir...

Belas foram as noites e as madrugadas

com o peito inocentemente a sorrir..

Doces são as palavras..

e doces são os malmequeres que desfolhamos a preceito

saltando pétalas só para ouvir "que bem que me queres"

da flor mais querida que apertamos com carinho nos dedos...

E as doces palavras sobem-nos à cabeça como nos sobe o espumante para nos apagar as memórias e as tristezas...

E o mundo mais uma vez é lindo..e tem estrelas que nunca mais acabam traçadas nas caudas dos cometas...e o mar imponente deixa de meter medo e inspira-nos a mergulhar...e os pudores deixam de existir e o nosso corpo já se despe rotineiramente até ao topo da alma..e até o pó nos cheira a rosas e as pedras da calçada posso jurar que cheiram a jasmim...

Vamos falar de amor nas próximas linhas?...

Não..vamos falar de corpos e de sedes avultadas ..

Daniela Pereira in Poeticamente falando de corpos para prosear a alma