quinta-feira, março 17, 2011

Com os dedos apenas sou doce e choro...


Dizem que as andorinhas trazem a Primavera mas o meu Inverno está por um fio...


Preso a notas que metem a pedinchar um pouco de sol.

Mas foi que o vi nascer...baloiçando só para si

como se as tempestades me quisessem julgar apenas

mas na verdade não me culpassem de todas as ondas perdidas...

Do mundo inteiro só algumas sei que criei

frutos das minhas mais salgadas tristezas.

Dizem que as andorinhas trazem a Primavera e eu espero-as à janela...

levo-as prateadas penduradas nas orelhas

num silêncio que não é o meu

esperando que a estação das melodias também para mim chegue.

Varro a neve que há em mim para um céu azul mais presente

e aprendo a sorrir com os lábios fechados

porque com os dedos apenas sou doce e choro.

Daniela Pereira

Direitos de Autor reservados


quarta-feira, março 16, 2011

Labirintos...




Escapei à tristeza de ser um pouco de nada e senti-me muito grande.. imensa..gigantesca com a alma baloiçando no pico da montanha. Resistente ao frio e ao vento,sem temer mais um qualquer cair discreto para me derrubar.Presa ali no topo... sou uma bandeira mais forte.

A liberdade é um hino que ainda não aprendi ser...a matéria de todos os sonhos não tem amor à pátria e orgulha-se de ter um pensamento ateu. De ser um labirinto no seu sentir.. um polvo com tentáculos agarrado às pedras desejando que elas fossem corais e um grito mudo sai-lhe das entranhas mas ninguém parece que o quer ouvir e o grito morre com a língua em nós curtos. Há uma melodia distante que substitui o grito, mas quase que nem se ouve.. afoga-se na tristeza daquilo que não compreende mas que já conhece bem no existir. Disseram-lhe que seria mais fácil um dia partir no galope do horizonte... mentiram,esqueceram-se que já não sinto se dou passos ou se me enterro mais fundo...

Daniela Pereira

Direitos de Autor Reservados

sexta-feira, março 11, 2011

A matriz de todos os sonhos




Se hoje o sol não vier para te beijar...
Promete-me que amanhã fazes na lua o teu leito
mesmo que ela te pareça vã e fria..

Terás um milhão de estrelas
para iluminar a chama dos teus sonhos...
Voluntárias a assombrar cada nuvem que tente adormecê-los.

Vais dormir com sonhos de algodão doce ao teu lado
pedindo cultos lençóis e terás mais sede de saber
porque é que a arte veste branco
e o vazio jamais teve qualquer cor.

Se alguma sombra interromper o teu sono
eu enterro-lhe o focinho na mais negra lembrança
até que ela uive de dor e a paz lhe faça a cama só com velas acesas.

Assim, poderás queimar com vontade
todos os medos que a noite à cintura possa trazer...
Para o dia nascer livre de qualquer culpa
quando em ti o sol se sentir de novo a renascer.


Daniela Pereira
Direitos de Autor Reservados

quinta-feira, março 03, 2011

Espumas...

Pequenas memórias na gaveta de espuma que é o tempo...
O tempo que nos afunda no brilho das coisas que já o foram... presos à escuridão do que podia ter sido uma singular fracção de realidade.
Fechar todas as horas que vivi numa só gaveta,com todos os instantes bem alinhados uns em cima dos outros. Com as horas esmagadas por entre os minutos que empurram com força os segundos para terem a cabeça de fora a respirar. Mas o tempo não passa de sombras que os olhos guardam nas visões que os deliciam. Ainda vamos morrer com as ondas que nos batem madrugada adentro... Talvez fiques fechada nas poeiras que alguém varreu das frinchas e o tempo efectivamente passe desigual ao dia de ontem.


Daniela Pereira
Direitos de Autor Reservados