domingo, julho 26, 2009

No teu encontro existe um Eu estranho...





quando a alma transborda...

No teu encontro..entre os espelhos e os canaviais da mente existe um Eu tão estranho para mim...
Tens o meu rosto, mas não és igual ao meu pensamento...tens fagulhas nos olhos e cinzas ruivas por apagar...
És a minha gema ao contrário...mas eu sou mais clara por dentro do que a galinha dos ovos de ouro que te habita os gestos...
Burros são os trapos que já foram vícios luxuosos mas baixaram as costuras só para que os visses com a cara em farrapos e por isso rasgaram a seda que traziam no pescoço...
Toco-te... prevejo tudo o que não vejo mas sinto..
Bola de cristal adormecida que o destino deu guarida só para adivinhar o teu futuro e tu foges para trás?
Sei que tens a mão do outro lado...no infinito e nas três dimensões onde foste feliz...
Queima a tua transparência quando voas com chamas na boca...lavei os ventos e as poeiras

Daniela Pereira
Direitos Reservados

sábado, julho 11, 2009

A escuridão também sonha com estrelas..




Foto da autoria de Daniela Pereira
(c) Direitos Reservados

"Não é permitida a sua reprodução sem autorização prévia da autora"


Fecho os olhos...por pouco via a lua nos meus olhos..bastava-me estender-lhe a mão.
De prata era o teu luar..de ouro a tua melodia...
Tenho uma teia presa aos meus cabelos de tanto unir pontas e nós no mesmo espaço de terra ...e poeira nos ouvidos que o silêncio cimentou numa só tecla tocada...
E o amor é um ponto de fuga para onde todos fogem com ilusões pintadas no olhar sempre de veias acesas e um coração por velar..
E matam-se as paixões com almofadas brancas que lhes abafam os gritos e renascem as escuridões e o luar fica à espera que o céu alise as pestanas para puder de novo deslizar na pele dos amantes e fazer-lhes um filho...
Boca seca...coração molhado..malmequeres sentados nas cadeiras e tulipas negras que te comem o pé da mesa...
Caracois no peito a rastejar e asas nas costas ..és um pássaro de fogo..fénix a festejar
Olhos abertos..coração parado no meio da sala..braços estendidos dançando num chão com todos os passos dados à volta do tapete..és uma borboleta com cores espalhadas no rosto...há flores no meu jardim e elas sonham
Fecho os olhos..por pouco era apenas Mulher...abro os olhos..ainda sou pedra de olhos posto na água que no rio é sempre tão doce...

Daniela Pereira
Direitos reservados

sexta-feira, julho 03, 2009

Liberdade denunciada




Cansa-me a incerteza dos poetas na doação ao mundo...
Os dedos por onde escorrem corações enlameados e outros tantos cobertos de laços e de promessas com calda de açúcar...
Se eles tivessem um punhal seria para cortar as veias ou as margaridas rasteiras no campo logo pela manhã...
São eternamente descobridores que não darão novos mundos ao mundo..apenas o olharão de forma diferente descobrindo-lhe os jeitos e os trejeitos com ganas de saber.
Cansa-me a irmandade dos Deuses e dos Anjos...sempre abraçados aos sonhos de alguém sentindo que os sonhos dos mortais serão sempre inferiores aos seus. E nós que queremos ser apenas perfeitos, porque as imperfeições condenam os desperdícios daquilo que falta sempre... suspiramos de mais..nós os que pertencemos à raça dos poetas! Imploramos até ao vento que passe que leve a brisa para outra direcção quando ela golpeia vendavais... esquecendo de pedir licença até para voar.
JUlgamos-nos livres de asas nas canetas com o peito a soletrar baixinho aquilo que não conseguimos dizer alto com medo que metade do mundo nos julgue almas amargas. E então lembramos amores e os aromas dos rosmaninhos como se cheirassem ao mesmo e ficamos podres quando a pele que se deita ao nosso lado teima em cheirar a papoilas...que injustiça. Dá vontade de esfregar a pele até lhe ver os ossos e apertar com força a medula para ver se ainda temos algo nosso para doar.
Cansa-me a incerteza dos poetas na doação ao mundo...
Por vezes parece que nos estendem esmolas..outras vezes parece que o mundo nos cobre de ouro e somos mesmo ricos. Ricos na dor sentida...ricos nas paixões incendiadas..ricos no amor carpido..ricos nas despedidas inesperadas...tão ricos e tantas vezes apenas nos sentimos sós. Às vezes só queria poder andar de alma rasgada pelas ruas ...sem ninguém a olhar...livre das minhas poeiras ..

Daniela Pereira in Liberdade denunciada
Direitos reservados