quinta-feira, março 25, 2010

O peixe riscadinho e o gato sem riscas...





Era uma vez um peixe riscadinho e um gato preto sem nenhuma risca no pêlo...
O peixe riscadinho vivia num lago e passava os dias a nadar feliz no seu cantinho de águas limpas.Algumas vezes ele gostava de mergulhar bem fundo e ir ter com as pedras ou com as algas que encontrava sempre agarrada a elas.Nas tardes com sol a água aquecia e o peixinho fechava os olhos e flutuava contra o vento.
Nessa casa mas afastado do jardim vivia também um gato..um gato preto de gestos ágeis e pêlo brilhante.O gato sem riscas gostava de ficar até bem tarde na cama..era muito friorento e preferia o quentinho dos cobertores da dona ao ar frio das manhãs.Por vezes também gostava de ficar à janela, a olhar para os amigos vizinhos que o cumprimentavam de longe.
Um dia o peixe riscadinho estava a gozar uma tarde de sol no seu lago,livre de pensamentos quando ergueu os olhos para o céu e viu uma grande mancha negra e uns grandes olhos verdes a olhar fixamente para ele.Assustado deu um enorme pulo e o gato preto num reflexo inesperado esticou a pata na sua direcção mas não agarrou o peixinho. O pobre do peixe ficou com o coração aos saltos depois daquele grande susto e o gato ao vê-lo em tamanha aflição apressou um pedido de desculpas...
- Mil perdões companheira,foi mais forte do que eu..é que ao olhar para si imaginei-a com ares de uma apetitosa sardinha.Mas deixe-me que lhe diga,que a senhora para sardinha é um pouco estranha com essas riscas pretas nas costas.
O peixe foi lentamente recuperando o fôlego e logo deu resposta ao gato preto atrevido...
-Pois fique sabendo que não sou sardinha nenhuma,mas sim um peixe de linhagem asiática e de paladar refinado,digo-lhe eu!Disse o peixe riscadinho ofendido pelo desconhecimento da sua classe...
-Mais uma vez desculpa,mas não digas que tens paladar refinado,porque aviso-te que ainda não meti nada nesta barriguinha hoje e as tuas palavras estão a aumentar-me a fome...disse o gato preto salivando sem se aperceber.
-Bem,senhor gato é melhor mudarmos de assunto realmente...achou melhor dizer o peixinho,já a imaginar-se na boca daquele grande gato preto esfomeado e o gato assim fez.
-Não tinha reparado que moravas aqui neste lago e passo tanto tempo neste jardim...
-É natural,quando a água está mais fria eu prefiro ficar escondido debaixo das pedras onde está mais quentinho,por isso nunca deves ter reparado em mim durante os dias de Inverno..explicou o peixe ao gato curioso.O gato piscou um olho porque um raio de sol tinha entrado demasiado fundo e lhe ofuscado a visão...
-Mas olha que eu no Inverno,também não ando muito cá pelo jardim...primeiro porque está frio..segundo porque odeio molhar as patas quando chove e terceiro não há muito para se ver em dias de tempestade para além de um vento irritante a zumbir-me nas orelhinhas.
O peixe explicou-lhe que também não era adepto dos dias frios e que era normal hibernar no fundo do lago até a água aquecer...
O gato achou estranho e imaginou-se no fundo do lago de patas para o ar sem mexer um músculo...mas quando pensava nisso mais se lembrava que assim iria parecer que estava morto.
-Ai,que estranho essa coisa do hibernar...mas tu não tens fome,nem ficas com dores no corpo por estares tanto tempo parado no fundo da água?E os teus donos nunca pensaram que estavas morto ao ver-te assim?Aquela história do fingir de morto durante o Inverno ultrapassava a sensatez do gato preto,que não consegui ver vantagem nenhuma em poder ser confundido com um animal moribundo e ser atirado para uma cova cheia de terra ou então no caso do peixinho ser descartado para o esgoto ou para a boca do cão da casa o que seria um cenário ainda pior para imaginar.


Daniela Pereira
Direitos de autor reservados

quarta-feira, março 24, 2010

Seda...




A seda de todos os sonhos não se tece em vasos partidos...

Foto @ Daniela Pereira

http://olhares.aeiou.pt/seda_foto3562065.html

domingo, março 21, 2010

Ao acaso...




Quero gritar bem alto...
Projectar as palavras
para longe da garganta.
Libertá-la deste nó
que a sufoca
sempre que abro a boca.

Escrever frases sem nexo
sem conexão com os sentidos.
Cortar ligações entre palavras
e os sentimentos enlouquecidos .
Amachucar as letras
como se elas fossem apenas desperdícios.
Juntá-las por brincadeira
e como uma criança
construir palavras sem pensar.

Respirar lentamente
este ar doce que me envolve
enquanto a noite acaricia
a minha pele com mãos de veludo.
Olhar em frente
mas com o coração debruçado
nas curvas do silêncio
que ecoa no quarto.

Respirar profundamente
e asfixiar-me de desejos.
Rasgar os lençóis da cama
com os dentes trilhados na seda.
Quero rir bem alto...

Pregar os sorrisos à parede
como se fossem quadros.
Ensurdecer o silêncio
com gargalhadas sonoras.
Mergulhar numa banheira
encharcada de perfume
e fazer inveja às rosas.

Quero sonhar que ainda estou viva
enquanto caminho nas nuvens
e deixar morrer suavemente nos meus braços
todos os desejos sonhados contigo ao acaso.

Daniela Pereira in "Cortar as Palavras num só Golpe,Corpos Editora 2005"
Direitos de Autor Reservados

sábado, março 13, 2010

Façam festas às paredes como se elas fossem de veludo...





Soltem-se os braços porque as minhas mãos já não são roseiras com espinhos e os abraços são para se dar até ao último fôlego da tristeza que se quer raio de sol...
Corações ao alto...porque um coração de rastos não sabe bater ao som do compasso...
Almas ao vento....porque uma alma amarrada não tem vida de borboleta e é um sopro sem voz...
Beijem as nuvens que passam..porque ontem eram trovoada e hoje já só sabem ser nuvens cinzentas ,ai como é bom saber que nenhuma chuvada ficou por cair nos teus ombros molhados!
Ai como é bom sentir que acidez que sentias no teu peito já não vence a doçura que sempre pingas na tua boca quando sorris para o vazio sentindo-o cheio de espuma branca...
Corações ao alto...porque os corações não são pedras para amontoar num só chão à espera que os pisem de novo..
Almas ao vento..porque o poeta já não tem cordas na língua nem cravos pregados nas prosas...
Façam festas às paredes como se elas fossem o pedaço mais suave que as vossas mãos podem sentir...
Depois carimbem estrelas em cada passo que passe por vós para retribuir até os momentos de escuridão com luas maiores...
Ai como é bom sentir que ainda temos um coração capaz de apaziguar todos os nossos monstros de cartão...


Daniela Pereira
Direitos de Autor Reservados

terça-feira, março 09, 2010

Para as Mulheres da minha vida....


8 de Março de 2010-Dia Internacional da Mulher




Para as Mulheres da minha vida deixo um sorriso colorido e o abraço mais apertado que nos braços posso conter....
Para as Mulheres da minha vida..que são mães,doces e protectoras...
Que são fadas sem asas mas sempre me aconchegam os sonhos se na noite passada tive pesadelos...
Que me escutam,mesmo quando digo disparates ou encho os olhos com lágrimas salgadas e perco a força que em mim procuram ver..
Que são amigas...ternas,fieis até quando não consigo ser perfeita e lambem as minhas imperfeições até sentirem que já não há ferida...
Para as Mulheres da minha vida roubo pedaços ao céu..sopro nuvens negras...pinto o sol em tons de mel...perco o calor do meu peito se no coração de alguma entristeço...
Pelas Mulheres da minha vida perco a voz..solto o grito..atravesso o escuro porque no fundo do corredor elas trazem-me sempre uma nova luz à minha escuridão...

Às Mulheres da minha vida..Obrigado por serem tão Mulheres....
Um beijo nos gestos*

Daniela Pereira

quinta-feira, março 04, 2010

O Inferno fica sempre à escuta...






Se todos os seres tivessem alma em vez de dois neurónios certeiros...
não existiriam rios manchados de impurezas nem vagabundos perdidos na rua à espera que a chuva fosse feita de gordos tostões para puderem encher os bolsos vazios..

Se as mãos do Homem fossem mãos de pescadores a fome do mundo morreria no fundo da barriga de um peixe e o pão dos pobres teria fermento...
De magras carcaças o Céu
já está tão cheio!
Mas a Natureza parece que nos quer engolir num leito de terra e pastas de lama
e o Céu hoje é pasto de anjos...

E o Homem grita que tem fome de calmaria e pede uma chuva branda e mares adormecidos... mas o Inferno fica sempre à escuta com as mãos a tremer de frio.


Daniela Pereira
Direitos de Autor Reservados

Foto by @Daniela Pereira

segunda-feira, março 01, 2010

Ainda fico de braços abertos...

Goldfrapp-It's Not Over Yet(Grace & Klaxons Cover)






Ainda não terminei as lágrimas e os laços desapertados
que me deixam solta nos vazios temporários...
Não posso entristecer..porque estar triste é perder forças..
Porque estar cansada...
ser flor cortada ao meio é dispensável num mundo que se quer inteiro.
Ainda não terminei as lágrimas e os cansaços...
Ontem vi um sorriso à espreita e pedi-lhe um abraço parada junto à porta..
mas ele não me viu ..
acho que se esqueceu que eu costumo estar ali de braços abertos...

Daniela Pereira
D.R