quarta-feira, setembro 28, 2005

Deixa-me só escrever estas linhas antes de voltar a sorrir...



Deixa-me só escrever estas linhas no papel antes de esboçar o meu sorriso rotineiro...

Estava aqui a pensar, que não é fácil olhares para o lado e não veres ninguém por perto. Parece que dói aqui dentro, quando pedes ajuda e nenhuma voz ecoa uma resposta. Tens aquela sensação dolorosa, e eu acho que ainda te lembras dela se te esforçares um pouco...daquela sensação imensa de vazio.
Pois é, meu caro amigo, estás simplesmente sozinho! E não tens como o negar, porque toda a gente o vê.
Olhas para aquilo que tens de teu e chegas à brilhante conclusão, que não tens nada. Uma vida própria é uma miragem, porque o destino te pregou uma partida e tu não soubeste vencer o desafio. Então achas preferível esconder a cabeça num buraco bem fundo e enterrar o teu mundo ainda a esbracejar.
E as pessoas que sempre estiveram sentadas contigo prontas para uma boa gargalhada onde estão agora?
Estão a viver porque foi para isso que foram feitas...para viver de cabeça bem erguida.
E tu, onde estás tu? Preso naquele quadradinho que tu chamas de vida, naquele quadradinho tão pequeno que dá para conhecer todos os cantos num passo apressado em apenas um minuto.
Até que essa caixa onde vives não é feia! Todos te dizem que é bem simpática, acolhedora, sempre bem arranjada e aquela jarra de plástico que tens na mesa com o formato de um coração dá-lhe sempre um ar primaveril. Mas fazes bem em esconder sempre as tuas lágrimas no teu peito de cinzeiro, quando chegam os teus convidados. Assim não os assustas logo e eles ainda permanecem no teu lar durante algum tempo. E tu gostas de os ter ali, não gostas? Sei que sim, não adianta negares porque tu não te dás bem com a solidão mesmo que insistas em te isolares nos teus sonhos.
A solidão causa-te arrepios nas costas porque tens o frio colado na pele e o calor da recordação daquele abraço já arrefeceu. Recordação... que engraçado usar esta palavra, até porque é a palavra que melhor te define agora. Tu não passas de uma eterna recordação na vida dos outros!
Eles recordam o teu sorriso esculpido para a fotografia, a tua graciosidade a dançar e a exibir o corpo, a chama dos teus beijos quentes, a metamorfose da menina docemente romântica numa gata com as garras cravadas na cama ...pensando bem, até que não és uma recordação má de todo.
Estás a ver? Não percebo porque é que ainda te queixas com tantas palavras azedas na boca...

Daniela Pereira 28/09/05

quarta-feira, setembro 14, 2005

A minha última gota de sangue



Preguei com pensamentos de aço
o coração aos dedos e fui sangrando por aí...

Deixei uma gota de sangue na praia
quando repousava a inquietude da alma
num chão de areia quente
com os olhos hipnotizados
pela beleza de um silêncio imortal.

A segunda gota caiu no mar
e ali ficou
misturada numa infusão de verde e azul
com sabor salgado.
As veias nem lhe sentiram a falta
imersas naquele liquido multicolor
e ela lá foi
apaixonada por uma alga castanha
que encontrou flutuando à deriva.

Depois de perder a segunda gota
senti uma leve tontura
e as pernas a fraquejar
mas ainda havia muito vermelho
para pintar os meus passos no chão.

Ergui de novo o corpo
e caminhei em direcção à lua sentimental
com a lentidão amarrada ao andar
enquanto salpicava as nuvens
com pingos cor de fogo.
Depois beijei com os lábios palidamente serenos
a pele dos meus dedos
e na sofreguidão daquele beijo
roubei ao peito a última gota de sangue.

Daniela Pereira 29/08/05

domingo, setembro 04, 2005

Consciência muda




Se estou a escrever estas palavras, então é porque perdi o juízo de vez! Só alguém completamente enlouquecido pela dor, tem a capacidade de desabafar para uma plateia vazia.
Eu, até já representei algumas vezes no palco... já fingi mágoa com o coração transbordando de felicidade fingindo ser outra pessoa ,mas nunca tive a inteligência de ocultar o meu sofrimento na vida real.
Acho sempre que depois de o partilhar ele diminui de intensidade e vai perdendo a força... e julgo, que quase sempre é assim...mas é este QUASE que nos fere mais quando com ele chocamos de frente.
Sempre disse que as palavras são poucas para tantos sentimentos espalhados... elas contam-se pelos dedos da mão e repetem-se, repetem-se incessantemente atiradas de uma margem para a outra no papel.
As palavras cansam e também se sentem cansadas quando percebem que só constróem frases sem sentido. Alguém tapou os ouvidos ao mundo e já ninguém te consegue ouvir mesmo que tu grites em cima da ponta do seu nariz. Estão todos surdos à tua volta, pensas tu magoada... mas estarão mesmo surdos? Já pensaste que essa surdez pode ser intencional e que eles apenas não te querem ouvir porque o resto do mundo tem uma voz mais bonita do que a tua? Não , claro que não pensaste!!! És orgulhosa demais para pensares que não passas de um grão de terra igual a tantos outros que pisas todos os dias quando caminhas.
Gostas de acreditar que és especial, que és única nessa tua maneira de ser eternamente sonhadora.
Mas, deixa-me que te diga e faço-o de cabeça fria sem estar drogada por emoções...NÃO ÉS!!!
Existem muitos mais iguais ou bem melhores do que tu e nem precisas de procurar muito...abre os olhos por uma vez que seja na tua vida.
Se estás a escrever estas palavras é porque te sentes novamente sozinha no mundo. Tu sabes que esse sentimento faz doer, até já conheces com precisão o volume das lágrimas que derramas sempre que esse momento chega.
Então, porque tentas encontrar sempre um culpado para as feridas que tu mesma reabres quando te deixas afogar na dor! Não faz sentido... tenta não pensar nela talvez ela assim desapareça.
As nuvens não se afastam sempre depois da chuva cair e não é sempre um sol radioso que recebes como prémio de consolação pelos dias cinzentos? Claro que sim, pelo menos até que outra tempestade se instale no teu horizonte.
Mas se é realmente assim, porque é que ainda tens os olhos inchados e vermelhos? Onde é que está esse sol que te prometeram com um sorriso rasgado na boca? Não o consegues ver, pois não?
Nem sequer entendes, porque é que não consegues apagar da folha as inúmeras interrogações que não param de aparecer na tua cabeça!
Como tu gostarias de ter todas as respostas para os teus medos guardadas na palma da tua mão...Era bom, não era?
Não sofrias ao tentar adivinhá-las nas noites em claro, nem tão pouco irias sentir esse vazio que te incomoda a crescer dentro de ti.
As palavras não deixam de fluir nos teus dedos e ainda escorrem na pele porque sentes que tens muito para dizer e já não consegues estar calada.
O silêncio sempre te incomodou e encerrares a alma numa gaveta nunca fez parte dos teus planos.

Então ,fica para aí a chorar e a rabiscar folhas de papel no escuro se achas que isso te acalma.... se calhar é o melhor que fazes.

Daniela Pereira