quinta-feira, janeiro 31, 2013

O teu acordar tem segredos... A 1ª noite

Acordas... pegas no teu corpo como quem transporta um fardo pesado e deixas ir o arrepio que te fez suar a espinha toda a noite. Violas o tempo apressada, ansiosa por chegar a qualquer lado, mas ainda não partiste do teu interior. Promoves o teu coração a um estatuto de brinquedo e ele lá fica pousado em cima da mesa e o destino com vontade de agitá-lo nas mãos. Sacodem-te a alegria como se a alegria fosse um jogo que só alguns podem jogar e o dado fica negro. Deixas o tempo fugir mas ele volta e olha para ti com desdém. As nuvens regressam com o rosto altivo a marcar presença na tua luz.O mundo suga-te a escuridão, parece que tens que alimentá-la num prejuízo sem fim. E as nuvens voltam, negras e sujas como pedras de carvão que te escrevem no peito a cor dos teus dias. Desejas a noite..desejas a noite com fervor. Porque na noite tens instantes em que descansas com o dia abandonado do lado de fora da tua porta. Acreditas nos beijos, nos carinhos e nas palavras que te dizem e lá vais tu outra vez a sorrir montanha acima esquecida de todas as quedas. Protegida por sentimentos temporários pendurados no relógio oscilando o teu calor como se o teu coração fosse uma manta que o frio promete combater. Tens frio... as pedras da tua rua vivem descalças.

Daniela Pereira in O teu acordar tem segredos...
Direitos de autor reservados



terça-feira, janeiro 15, 2013

Por um sorriso .

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Por um sorriso .



As coisas inúteis partiram... Não disseram adeus. Fizeram as malas e partiram. Não partiram a sorrir, simplesmente enfiaram os tempos e os momentos numa mala e foram pelo teu coração acima.
Sem nada dizer...sem nada fazer. As coisas inúteis partiram.
E tu que sonhavas ter uma casa...não, duas casas...três...quatro. Todas as casas que fossem necessárias para alojar os teus amigos. Os que já partiram porque o destino os levou. Os que não quiseram ficar. Os que ainda cá estão. E tu que sonhavas ter uma casa...não, duas ou três... todas as que tivessem espaço para os albergar. Ias desenterrar os mortos, as memórias mais podres e feias, ias lavar a cara, sacudir o pó e dar-lhes flores. As flores mais belas e luminosas que pudesses semear em ti. Ias desenterrar os mortos e cuidar deles, mesmo quando precisasses de cuidar mais de ti.
Já os vês sentados no sofá, sorrindo para ti outra vez e tu a sorrir de volta.
Os amigos que partiram... aqueles que cruzaram oceanos, que foram correr a vida para terras distantes. Os que partiram carrancudos e sem remorsos... os que viajaram com o coração saudoso...os que ainda te lembram e te recordam na melancolia dos dias como uma folha de um livro que dá prazer rever.
As coisas inúteis partiram. Algumas fazem doer por dentro. Não dói sempre...é só de vez em quando. Aquela dor fininha, como uma picada e fechamos os olhos esperando que logo passe. Mas outras coisas inúteis magoam a valer, ficam feridas que incomodam, que nos desencantam. Mas até essas por perto queríamos de novo ter. Aquele masoquismo saudoso que só as coisas inúteis em nós sabem promover.
E nós com as casas de portas abertas, sempre abertas... Deixamos entrar o vento, o frio.. morremos com as correntes de ar. Mas nunca fechamos as portas... bater com a porta, é forte. Ganhamos doenças, latejamos dores de cabeça, mas abrimos as portas. Sonhamos que é possível...e construímos casas e casas e deixamos as portas abertas. Novamente abertas... E se fosse realmente possível? E se abrir as portas e deixar entrar fosse a solução de todos os nossos problemas? Mataríamos a dor, sem que ela sequer estivesse à espera. E os amigos que partiram, os amores que deixaram de ser, as paixões que perderam a chama..tudo ali de novo à tua porta, sorrindo e pedindo para entrar. E entravam. Sentavam os corpos e as memórias , ali bem ao teu lado. Sem dor, sem ressentimentos, sem amarguras...estavam nus de prantos. Límpidos, transparentes como gotas de água para matar a tua sede. E tu recebias no teu coração todos... todos e o teu coração continuava largo com tanto espaço para preencher e tu rias, rias e eles riam contigo. Davam gargalhadas bem alto, abraçavam-te com força e tu sorrias e dizias as coisas mais profundas sem abrires a tua boca. Falavas com o olhar e o teu olhar tinha todas as cores. Nos teus olhos, os astrónomos descobriam perplexos o habitat de novas e desconhecidas estrelas e tu rias. Coravas e dizias que os teus olhos são tão normais...e as coisas inúteis sacudiam a cabeça num gesto de reprovação. E tu ficavas tão admirada, tão repleta de prazeres dentro de ti que até a tua pele rejuvenescia. E as coisas inúteis que tanto amavas continuavam a entrar e perguntavam por ti. Então como estás? ...e tu abrias os braços com a amplitude maior do teu ser e abraçavas..abraçavas até ficares com os braços tontos. As coisas inúteis gostavam de ser úteis em ti outra vez.

Daniela G. Pereira
Direitos de Autor Reservados

P.S: G* T* P* R*

segunda-feira, janeiro 14, 2013

uma vírgula e um ponto.



segunda-feira, janeiro 07, 2013

Os palhaços da tua alma...




O riso vai longe...
A rua da alegria desertou.
As bocas cheias estão vazias de antigamentes...
A garganta engravidou ainda tão nova
dos teus futuros poluídos.

Canta o sol que estancou na paragem
e a chuva seguiu viagem
calada de esperanças.
O riso saiu da rua
porque os Homens maus
atiravam pedras.

Dizem as más línguas
que as almas dos outros
caíram na desgraça...

De costas voltadas para a lua
aparafusam nervos cerrados entre os dentes.
Fingem melhor alegria
que duas dúzias de palhaços nos sonhos das crianças...


O riso vai longe...
A rua da alegria desertou.
As almas dos outros
guardam balões amarrados na cobardia
das palavras fechadas nos teus dedos.
O riso vai longe...
Descobriu que o medo
estava mais perto.

Daniela G. Pereira
Direitos de Autor Reservados