segunda-feira, dezembro 25, 2006

A enciclopédia da saudade


(Mesmo que as palavras sejam tristes não faltará em mim um sorriso para amar com saudade)

DAMIEN RICE- ELEPHANT


As saudades...já ouvi tantas vezes a palavra SAUDADE dita em mil bocas, mas agora que a sinto acho que nunca ouvi ninguém dizer a verdade... Todos falam deste sentimento mas hoje sinto que nunca ninguém o sentiu realmente. Agora que penso na solidão do meu quarto sinto-me no direito de afirmar que a saudade é só minha...foi uma palavra inventada por mim! Existem belas poesias...melancólicas e tristes grávidas de lamentos contando histórias de amores que partiram chorados à beira mar acenando um adeus qualquer... não lhes conhecemos os rostos... sim, porque as saudades têm rosto só que os poetas não o dizem porque recordar fá-los sofrer . Então falam de almas que vivem espetadas no seu peito como se sombras se tratassem e que ferem na escuridão...não lhe dão nome...não lhe descrevem os traços...a alma não se vê por isso talvez se sinta menos que a falta de um rosto bem delineado.
Depois a saudade é um sentimento sem cor nem cheiro mas que se sente... também já ouvi dizer. Mas se eu dissesse que a saudade é negra como a noite e cheira a solidão, acham que estaria a mentir? Porque é assim que eu a pinto nos meus olhos... com um rosto negro sujo de cinzas de olhar sombrio e sorriso desmaiado nuns lábios brancos sem brilhos a adornar. Vejo-a nua e sem pudor da sua nudez imagino-a a dançar num palco iluminado para toda a gente apreciar a sua beleza erudita. Ouço as palmas descrevendo a admiração dos mortais perante a sua graciosidade e delicadeza no ferir... uma verdadeira rainha, majestosa nos gestos lancinantes e nas lágrimas que espalha em seu redor.
Nada a consegue travar e todas as batalhas que enfrenta são vitórias a enumerar....
A saudade é imponente...tem um nariz arrebitado que não torce a qualquer cara feia que lhe surge pela frente. Não se comove com choros a horas adiantadas, nem tão pouco se compadece com os gemidos de dor de um coração destroçado. É implacável no momento de brilhar e brilha como ninguém quando sapateia em cima dos teus sonhos. Até tu te ajoelhas quando a vês assim tão magnifica...confessa!!
Na saudade cabe um mundo inteiro porque o seu corpo alonga-se com o tempo e a cada minuto que passa outro solitário a ela chega sem esperanças de lá sair. O mar conhece-a bem, porque já viu tantas mulheres amarguradas e tantos homens desiludidos nas suas ondas a desfalecer por ela. O sal que ele guarda nas marés ainda tem o odor das suas lágrimas e todos lhe confessaram que vinham ali chorar por ela.
Que não queriam mais sentir a sua ausência a devorar-lhes a carne e soluçavam arrependidos por nunca terem acreditado nos boatos que reclamavam a sua existência. Tinham ouvido histórias de uma musa que encantava os apaixonados com promessas de eternidade e de felicidade sem fim...e tolos amaram-se sem limites até que o sonho fosse só fumo. Porque haveriam de ter medo da saudade? De uma beleza sem par...de um sentimento perturbador e duradouro? A emoção que não seria senti-lo a remoer nas suas entranhas... porquê ter medo se podiam dar as mãos ao outro e sentir que a saída era mesmo ali ao lado?
Não havia razões para temer a saudade, só vontade de a possuir com loucura...
E a saudade é uma dama que não se faz rogada a nenhum convite meloso e em pouco tempo é certo que te abraça o corpo com mil e um braços de ferro forjado....quando dás por ti já não tens forças para dela te libertares. Então conheces de perto o perfume da dor, o som dos ponteiros do relógio que rangem como portas velhas, o teu desenho ao espelho que juras estar distorcido porque o teu rosto parece inchado de tanto chorares, até esqueces a cor do sol e afirmas que ele hoje não é amarelo e inventas um novo tom de cinzento só para não te chamarem de mentiroso por dizeres que ele te faz sentir frio quando vais á janela.
Mas tu sabes que ele não te consegue aquecer por mais que te deites debaixo dele todos os dias...
Depois dizem-te que as saudades passam se pensares noutra coisa... e tu pensas... pensas... e imaginas um jardim cheio de flores em plena Primavera e até parece que sorris de novo, mas quando começas a esboçar um sorriso as flores murcham de repente e o céu enche-se outra vez de nuvens e ameaça chover na tua cabeça porque as nuvens que nela pairam são tão negras e feias. E tu então, foges dali...corres sem cessar para lado nenhum o que te importa mesmo é fugir. Fechas os olhos, respiras fundo porque parece que adivinhas que ainda tens um longo caminho a percorrer e tentas novamente pensar em coisas boas e abandonar a maldita saudade. Esqueces as imagens e concentras-te nos sons à tua volta...carregas o silêncio no teu leitor de cds e aguardas que a música comece a tocar. É claro que esperas ouvir algo novo, um som harmonioso e calmo mas que te encha de boas vibrações... já concentrado ficas à escuta e realmente ouves ao fundo uma melodia quase imperceptível mas por momentos tens a vaga sensação que ela te é conhecida. Sentes que os teus olhos tremem ao ouvir cada nota e o teu coração parece que enfraquece no teu peito... aquela música ..”foi com aquela música que nós ...”e tu bem tentas acabar a frase mas já não consegues porque irrompes num pranto e as tuas palavras já não são mais que soluços. Foi o regresso da saudade que sentiste ali...mas por favor não desistas que um dia ainda lhe vais dizer adeus para sempre...

Daniela Pereira-25 /12/06

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Um cais no teu caminho



Na penúltima lágrima
que por ti chorei
pensei em dizer-te adeus.
Mas quando ao mar cheguei
para acenar os meus lenços brancos...
O mar jurou-me comovido
que todo o sal por ti derramado
só daria mais sabor ao teu regresso ...
Então sentei-me na negra areia do tempo
e na melancolia de um cais de lembranças
esperei que as lágrimas secassem .

Daniela Pereira

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Enterrar os sentidos numa campa de estrelas





Escreve o teu nome a preto e branco
e atrás de cada letra
diz o que ficou por fazer
antes que morras com as palavras presas na tua boca.
Tenta agora pensar um pouco
mas não tentes pensar tudo de uma vez
porque os teus pensamentos podem ser pesados...
Deixa que eles se passeiem livremente na tua cabeça
e em tempo algum não lhes force a saída
porque o teu coração é que tem na mão o comando
e tu aqui não mandas em nada!
Olha para o chão...
Estás à espera de quê?
Que te peçam por favor!!
Eu disse...OLHA PARA O CHÃO...
E não vale a pena tentares desviar o olhar
só porque não te agrada
ver os passos que deixaste ficar para trás
quando perdeste a coragem de seguir em frente
e recuaste no teu tempo.
Agora que já conheces a cor dos passos
com que pintas o teu chão de pedras
dá um passo em frente...
Achas que vai cair
só porque essa vertigem de lamentos que te assola
desequilibra o teu andar
e o corpo abana como se fosse uma boneca de trapos?
Desengana-te... porque ainda não chegou a tua hora
e nenhum buraco espera os teus ossos
com essa capa de carne tenra que ainda tens colada a ti.
Estás demasiado viva
para morreres de dor...
Queres saber um segredo?
Chega mais perto
e ouve bem ...
O teu nome não é JULIETA
e o teu amor nunca se chamou ROMEU.



Então... resta-te descobrir melhor o céu nos teus dias
porque a terra não tem ainda morada para ti.
Por isso esta noite olha para ele atentamente
mesmo que ele não te pareça tão estrelado como sonhaste ontem.
E se alguém te disser que as nuvens cinzentas
que vês pregadas às estrelas
no passado não existiam no teu horizonte...
Podes rir à vontade na sua cara
porque tu sabes
que essas nuvens estiveram sempre guardadas no teu bolso
Hoje limitaste a soltá-las um pouco mais cedo
e foi por isso que o céu chorou por ti antes da hora marcada...

Daniela Pereira-8/12/06

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Numa só palavra...


:) Hoje nesta manhã de feriado deixo aqui no Devaneios uma mensagem um pouco diferente do habitual! Considerem-na um desafio para todos os leitores deste meu pequeno espacinho de poesia...
Por isso, queria pedir-vos para deixarem aqui a vossa definição para a minha poesia...escolham a melhor palavra... aquela com que identificam mais tudo o que aqui sentem.
Pensem... sejam sinceros e partilhem a vossa palavra comigo! :)



beijinhos

blue

terça-feira, novembro 28, 2006

O algodão não engana...




Clara despertou lentamente e olhou de mansinho para o relógio… 9h30 nem mais um minuto porque o tempo tem um passo certo. Enquanto projectava o olhar na mesinha de cabeceira deparou-se com um espaço invulgarmente vazio…o outro lado da cama.
Sim, porque aquela cama de casal tinha dois lados fortemente marcados e independentes.
O lado esquerdo encostado à parede onde os lençóis viviam numa perfeita desordem porque ali o caos era apreciado por ser um sintoma de liberdade. Era o lado do Tony, machista e dominador onde tudo estava a seu gosto…e ela sabia que nem valia a pena contrariar uma força da natureza, por isso limitava-se a sorrir e sempre que invadia temporariamente aquele espaço aproveitava sempre para ajeitar um pouco as rugas da roupa de cama… assim como quem não quer a coisa, com muito jeitinho e discretamente.
Agora, já o lado direito da cama era o oposto…mais arejado sem barreiras e com a luz da janela sempre a incidir na cabeceira. Os lençóis ali eram como cadetes em dia de inspecção na tropa…todos direitinhos e alinhados. Rugas no tecido…nem vê-las…lençóis sempre lisinhos e aprumados. É claro que este lado, só podia ser o lado da Clara, feminino e harmonioso onde a ordem vencia por unanimidade.
Mas hoje o lado esquerdo estava nu e sem exercer o seu direito de voto a ordem comandava aquela cama com maioria absoluta. Clara sentia falta da desordem… dos lençóis pendidos para o chão… do cheiro forte a conhaque que costumava empestar o ar daquele quarto. Até disso ela sentia falta!! Como podia ser, aquele cheiro a álcool costumava deixá-la fora de si… mas não …hoje sentia a sua ausência.
Não havia pó na sala porque todos os objectos estavam limpos e colocados nos lugares exactos. E isso esta manhã irritava-a profundamente, tinha vontade de cuspir para o chão, de abrir todas as gavetas da cómoda e deixá-las assim com a roupa toda de fora… sim isso seria o ideal.
Então sentou-se na cama e endireitou a cabeceira, depois ergueu os olhos e olhou em frente … mesmo em cheio na direcção do espelho. Não se achava feia, era até uma mulher com alguma graça de rosto perfeitinho e uns olhos grandes que o Tony costumava apelidar de pérolas selvagens… só que eles hoje estavam domesticados, sem garra nem ousadia no brilho. De certeza que estavam mortos…
No que diz respeito ao desenho do corpo, também considerava que não se saía mal… as suas curvas estavam bem delineadas e eram generosas mas sem serem demasiado dadas.
Sim ela até que era bonita, então o que tinha falhado ali? Porque é que nesta manhã estava ali na cama estupidamente a falar sozinha?
Então subiu-lhe pelo corpo uma raiva súbita que a deixou em brasa e em poucos segundos um candeeiro voou contra a parede caindo depois rendido no chão.
E lá ficou ele, desfeito em mil pedaços impossíveis de recuperar…
Clara sentia agora o inevitável arrependimento pelo gesto precipitado… sentimento de culpa e remorsos porque não ter sido capaz de respirar fundo antes de agir. PRECIPITAÇÃO!! Aquela palavra ecoava na sua cabeça como louca …
PRECIPITAÇÃO… sim talvez fosse ela a razão de todos os seus problemas. Talvez fosse nela que ela devia despejar toda a sua ira. Afinal ela tem tudo para ser culpada pela sua dor.
Foi ela que a atirou de cabeça para os braços do homem errado… foi ela que lhe mandou dizer sim quando outros lhe diziam não… até foi ela que deu aquele beijo molhado num dia de sol. Sim foi ela… sempre ela!
Palavras ditas cedo demais que bem podiam ter ficado mais algum tempo a marinar e a ganhar gosto antes de serem servidas à mesa.
Noites demasiado fáceis com orgasmos demasiado óbvios sentidos em posições demasiadamente previsíveis… se ela tivesse sido menos precipitada nas suas certezas e tivesse optado pelo e “porque não?” em vez do “gosto mais assim” se calhar ainda estava a dormir com um abraço cortando-lhe a respiração em vez de estar ali sentada com o corpo teimosamente livre e desprendido.
Mas Clara sabe tão bem que nada dura para sempre… nada é eterno para alem da dor. Essa sim! Dá voltas e voltas ao mundo mas regressa sempre algum dia ao ponto de partida… o teu peito.
E a verdade é que hoje são 11h30 menos minuto …mais minuto, a cama dela está imutavelmente perfeita e porque o algodão não engana… ela sente que alguém limpou o seu coração e nem um grão de poeira de recordação nele deixou…hoje ele voltou a ser apenas mais um quarto vazio.


Daniela Pereira-28/11/06

terça-feira, novembro 21, 2006

A solidão da carne




Porque tenho que me sentir assim?
Porque não sou apenas só mais uma pedra
no caminho por onde todos passam…
Porque tenho que sentir na carne
todos os passos que me atropelam a alma?
Se os pássaros quando cantam
ouvissem todos os ruídos do mundo
se calhar não perderiam tempo a inventar seus trinados
mas eles conseguem calar tudo à sua volta
para puderem chilrear no silêncio.
Então…Porque tenho eu que ouvir
o barulho de todas as bocas que se fecham para mim
a ranger prolongadamente nos meus ouvidos?
Não podiam fechar-se lentamente
com gestos suaves
como quando a areia escorre por entre dedos mal cerrados…
Tinha que as ouvir fechar!

Porque preciso de palavras densas
repletas de claridade e lucidez
e não me contento
com as que são ditas pelo meio
só para não dizer que chegou o fim.
Nasci no seio de uma maldição
e abri os olhos pela primeira vez
no berço traiçoeiro da sensibilidade
que hoje me afaga
como se fosse uma segunda mãe para mim.
Beija-me o corpo todos os dias…
Fere-me a alma todas as noites…
Ama-me e odeia-me como ninguém
Morro mil vezes por ela
quando o desespero em mim se instala
de malas e bagagem.
Mas no fundo sei
que será sempre com o seu ar doce
a entrar pela minha boca que voltarei a renascer
de olhos inchados e no rosto um sorriso discreto.
Mas porque tenho eu que sentir?
Não podia ser só mais uma pedra na solidão de uma calçada…
Existem tantas por aí perdidas…
Eu seria só mais uma…

Daniela Pereira-21/11/06

segunda-feira, novembro 06, 2006

Será a presa do predador

"Porque este espaço é tão especial para mim...porque sem ele sou como uma pintora sem tela...voltei :)"

Será a presa do predador?

Será que amo menos o silêncio
só porque ele grita estridente na minha noite?
Será que ainda tenho palavras
que o derrubem
como se ele fosse só mais um castelo de cartas
que ergui numa mesa de uma esplanada qualquer
sem sentir o vento
que rugia no meu rosto?
Será que ainda provo um fruto proibido
e não receio cometer um pecado capital
porque da luxúria
já fui escrava sem cativeiro
e agora sou apenas vítima dos sentimentos?

Será?






Special Needs
By Placebo
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Será que ainda grito livremente o grito das mulheres
ou desta garganta só saem gemidos
que um corpo de homem aprisiona?
Pobres destes murmúrios
que não sabem
que estão destinados a morrer
num beijo cortante
roubado à minha boca de papel
quando o coração
se recusar a bater mais por mim.

Então porque se
escondem as tesouras
dos meus dedos irrequietos
só porque os meus lábios
hoje brilham como papéis de prata
e a língua parece pedir
para ser recortada?
Será que ainda não sabem
que já vivo na ponta de uma navalha
sempre que converto
a minha alma
num predador sanguinário do meu corpo…
Será que o mundo está assim tão cego?

Blue- 4 /11/06

domingo, outubro 29, 2006

Um até breve...ou só um adeus..

Porque hoje as palavras não fazem nenhum sentido...não me dizem mais segredos que eu queira desvendar. Porque o sol brilha sempre na mesma direcção e eu desvio-me sempre do seu caminho,talvez mereça esta escuridão que alastra na minha alma.Não sei,talvez...
Porque os sentimentos não são mais uma certeza da razão,deixem-me apenas duvidar do silêncio porque ele aperece incerto e sem nos dar tempo algum instala-se no olhar e cegamos por dentro.O coração é aquele que menos vê quando a cegueira se instala,porque cego confia na eternidade...como se a eternidade pudesse ser soletrada sempre com flores na boca e escrita num manto de céu azul sem nuvens que a apagassem sem nos lembrar que a eternidade será sempre uma miragem.
Matem-me por dentro...rasguem-me o peito em dois pedaços usados porque eu já dei os primeiros golpes e cravei o punhal bem fundo. Amei um pássaro de asas coloridas e esqueci-me de lhe perguntar se ele gostava da segurança desta prisão que fiz nos braços...esqueci-me que ele nasceu para voar de pele em pele em busca da pele mais perfumada..do ninho mais macio que nos seios mais tenros pode esculpir.Mas a inspiração é uma ave que voa demasiado alto para que eu a consiga alcançar só com a solidão dos meus dedos
Agora morro porque a imaginação já não me faz sonhar...por isso adeus ou até breve meus queridos devaneios azuis...

AQUI ESQUECI O MUNDO POR MOMENTOS E SONHEI...MUSE-CAMPO PEQUENO-26/10/06



domingo, outubro 22, 2006

A fera e o cordeiro




O amor é uma fera
que nos devora a alma ate aos ossos
e é no corpo que jazem os seus restos.
Por isso ,só para ti me dispo
oh minha doce escuridão!
Que venham as feras
pelos caminhos de carne batida
porque o sangue quente marcou a tua hora...

blue-22/10/06

sábado, outubro 07, 2006

Carta escrita na areia molhada





Encontra-me depressa, porque sinto-me perdida na memória dos teus passos que o mar bravio não consegue apagar. Vês-me a caminhar na areia em círculos confusos mas não me deixas pedras a marcar o caminho que devo seguir. Por isso ando...e ando por caminhos de ninguém. Por estradas que não me levam a lado nenhum ou então a lugares exaustivamente explorados. Faço o percurso sozinha ou abraçada aos restos de alguém na esperança que esta peregrinação possa fazer algum sentido. Mas o mundo graceja e chama-me louca só porque te amo assim...porque te quero ver feliz mais do que a mim própria e como dizer-te adeus é definitivo demais os “até breve” vão-se alternando com noites mal dormidas.
A areia está fria porque o sol já não a aquece com o seu calor e os búzios da praia calaram a sua voz para me poderem ouvir chorar de mansinho. Repouso por momentos...talvez esteja cansada...talvez queira simplesmente desistir de te procurar em todos os buracos onde te podes esconder. Sinto que deformo a minha natureza quando escavo a alma com as mãos e nada encontro porque há muito que sei que ela é um vazio maior. São frases confusas as que debito aqui....não faz mal cobras-me uma certeza da próxima vez que me vires sorrindo com um botão de rosa sangrando no peito.
Porque eu sangro ...sim porque eu sangro com as flores que se pintam de orvalho vermelho para sentir o pôr do sol e nas lágrimas que escrevo tenho o retrato mais bonito da dor que nenhum pintor nos teus olhos ousou recriar.


Daniela Pereira-07/10/06

sexta-feira, outubro 06, 2006

As sobras do tempo




Hoje sobra-me tempo a mais
para dizer o que sinto
porque as horas
já conhecem os meus gestos de cor e salteado.
Acabaram-se os segredos
que por ti ainda guardava na manga
e todos os coelhos mágicos fugiram da cartola
vencidos pelo cansaço.
Resta-me os aplausos
De um público
Ludibriado por meia dúzia de palavras
Que ficaram esquecidas
E que o vento não soprou.

Então, acho que ficarei calada...
Unirei os meus dedos
E numa irmandade de sangue
Vou costurar os seus corpos
De costas voltadas
Para que não mais tentem segredar.
Talvez o meu silêncio
Possa gritar mais alto
Que todos os gritos
Que nas paredes deixei por engano.

Mete-me raiva este silêncio...
Tão cheio de tranquilidade
E de certezas falsificadas
Em papéis envelhecidos
Com a tinta demasiado desbotada
Para conseguir ler o que neles ainda dizes.
Prefiro não ver a rapidez da tua boca
Fingindo que vejo
O tempo a passar lentamente
Sem saltos bruscos
Nem espaços vazios
Que se prendam ao infinito no meu olhar.
Mas sei que hoje o tempo sobra...
Sobra-me tempo...
Tempo..
para sentir que todas as palavras de orvalho
têm demasiado tempo para murchar
abandonadas numa madrugada de pele e osso.


Daniela Pereira-06/10/06

segunda-feira, outubro 02, 2006

O início de um fim sem tempo para desvios





Espera...pára de respirar por alguns minutos!
Deixa-me respirar por ti
este ar anestesiante que nos cerca
até sentir que o meu corpo
já não reage ao arfar da tua boca.

Olha bem... penetra com os teus olhos na minha pele
Como se o teu olhar
fosse uma lâmina afiada
e não te desvies do relevo do meu desenho
mesmo que encontres montanhas generosas
palpitando no caminho das tuas mãos.
Sabes bem que em breve
elas poderão ser somente vales
por isso não te distraias com tempos mortos
porque aqui deitado junto a mim
cada segundo conta.


Não peças mais...
Não quero mais sentir que os teus braços são pedintes
por isso sem mais palavras
possui o que é teu por direito.
Não esperes mais que os meus lábios
se precipitem perigosamente nos teus
com voos lascivos de desejo
e ganha coragem neste fértil instante
para mergulhares neles
porque este mar vermelho para ti será pura seda.
Substitui as tuas palavras vãs...

Sim...ouviste bem..
Eu disse as tuas palavras vãs!

Por isso
Substitui essas palavras
pelos meus gritos cheios...
As pedras negras que nos separam
por lençóis mais brancos...
O aroma da chuva nos teus dedos
pelo perfume dos meus cabelos.
Tudo o que tu quiseres ter
desde que sintas que eu quero dar.
Só me importa que troques o vazio que hoje sinto
por uma noite de prazer
mesmo sabendo que ela se escreve
com linhas muito incertas
e que o mais certo
é que amanhã na minha cama sejas uma miragem.

Depois arranca-me um beijo bem molhado...
Mas espera, deixa-me respirar primeiro.


Daniela Pereira-01/10/06

sexta-feira, setembro 22, 2006

Curiosamente obsessiva por afectos







Estás à espera de um afecto?

De um abraço caloroso …

Ou de sentir o toque daquelas mãos nos teus cabelos?

Então sonha acordada

porque todos os teus dias são sonhos despedaçados.



Tens a manhã encravada no teu olhar

e o orvalho ainda goteja nos teus olhos

gotas salgadas

que tu queres compulsivamente mais doces

porque os teus lábios

são por mel eternamente viciados.

Então, ouves melodias repetidamente

para preencher o vazio dessa voz adocicada

que não fica o tempo suficiente

para ecoar nos teus ouvidos.

Não suportas mesmo o silêncio

que a sua ausência deixa em teu redor

e a velha música será sempre o teu escape

minha curiosa obsessiva!



Queres a tua janela pintada de azul…

De um azul que faça inveja a um céu de Verão

mas plantas tulipas brancas na tua varanda

só para as veres crescer sem pecado todas as noites.

Julgas que molhando os dedos nas ondas do teu pensamento

podes salpicá-las de mar

mas ainda saberás

qual o perfume desse azul

que no teu peito encerraste apaixonada?



Deixa-me desconfiar das tuas boas intenções…

És generosa demais no carinho que destilas por amor

para eu acreditar

que por ele nunca pecaste…

que dele nada desejas em troca…

quando te vejo assim

debruçada nessa varanda

despida de flores azuis.

Não

estarás tu à espera de um afecto?


Daniela Pereira-22/09/06














 

sábado, setembro 16, 2006

À luz de duas velas quase apagadas...




Não preciso de olhar
quando quero sentir
porque a dor sente-se no peito
e os meus olhos só sabem chorar por ela.

E se os beijos...
Os doces beijos
são sempre dados de olhos fechados
quando a boca dou a outra boca...
quando os sentidos despertam cegos
nesta cama de veludo vermelho
que nos meus lábios faço.
Então...
Para quê olhar?

Porque teimo ainda em sentir de olhos abertos?

Talvez se fechasse este olhar
numa redoma de vidro
e aprisionasse o pensamento
num nó bem dado na cabeça
saberia de cor que a escuridão
será sempre o cenário perfeito para amar
e deixaria de procurar a verdade
à luz de duas velas quase apagadas.

Daniela Pereira-16/09/06

terça-feira, agosto 29, 2006

Sou filha das palavras que sentem...






Sou filha da noite

e no seu regaço

embalo todas as palavras

que comigo se deitam por prazer.



Não acordo as estrelas

com os meus gritos mudos

nem perturbo o sono da lua

com o meu pranto morno

quando me deito.



Na noite...

sou silêncio na voz

e as palavras que escrevo

com a boca orgulhosamente fechada

respiram pelos meus dedos

enquanto não amanhece no meu rosto.

Mas quando acordo para o mundo

abandonando todos os sonhos na escuridão

sei que estas palavras

que fielmente calo na garganta

gritarão para sempre deitadas no meu leito

por um amor

que a poesia numa noite

quis ver nascer solitário e vagabundo.


Daniela Pereira-29/08/06


 

sábado, agosto 26, 2006

Sorriso chulo




Hoje és musa
da escuridão
e de olhos pintados
invades a noite
com a boca vestida de cetim
beijando passos de seda
no teu caminho de lata.

Sei que amas essa
imagem misteriosa
que o preto dá à tua pele
e por isso
esta noite dele abusas
sem nunca te esqueceres
de salpicar
um qualquer brilho prateado
no teu generoso decote.

Achaste bela assim
quando te olhas ao espelho
maquilhada como uma boneca
e vais demarcando as tuas curvas
com tecidos transparentes
só para aguçar
algum apetite voraz
que te saiba devorar.

Então irrompes
pela noite dentro
e ficas salivando discretamente
por entre risos e copos
a intervalar a língua com os lábios
à procura do encaixe perfeito
enquanto te arrastam
para dançar.


Esta noite
sei que o teu olhar
alugou estrelas ao céu
e que em alguma rua desta cidade
houve alguém que te viu
a querer comprar o mundo
com um sorriso chulo...
E aí o tens
deitado aos teus pés
e como um reles prostituto
a ti se vende.

Daniela Pereira-26/08/06

terça-feira, agosto 22, 2006

Chuva de Verão




Caminho numa praia deserta
e sozinha sinto 
que os meus olhos choram
palavras magoadas
porque
todos os dias
espero pelo eco da tua voz
mas quando a noite chega
só os passos
do teu silêncio escuto.

quinta-feira, julho 27, 2006

Carta a um mundo filho da mãe



THE  FROG  KING-BY  DEVIANTART


Olho para a folha em branco sentindo que tenho tanto para lhe dizer, mas as palavras estão com dificuldade de sair. Parece que estão perras, e como portas velhas e ferrugentas vão rangendo por entre os dentes. Uma folha vazia se calhar saberá dizer mais sobre mim do que uma folha cheia de palavras absurdas e caóticas. Hoje as minhas palavras estão assim...absurdas nas ideias e caóticas nos actos que definem.
Penso e sobretudo penso, para quê pensar? Para quê procurar respostas debaixo dos tapetes empoeirados quando sabemos que as nossas perguntas já não são lógicas.
Acreditar? Em quê e em quem, se todos e mais algum acabam sempre por trair a tua confiança mais tarde ou mais cedo.Porque quer queiramos quer não o egoísmo existe dentro de qualquer ser humano e isso não mudará nunca mesmo que teimes em não sair da tua terra dos sonhos.
Ainda agora comecei a escrever e as palavras já me começam a enjoar, como um prato de sopa que comes a seguir ao outro só porque o servem na tua mesa e tu por educação tens o cuidado de não recusar mesmo tendo a barriga cheia. Enfias uma colherada para a boca e com o ar enjoado disfarçado finges apreciar o seu paladar.
É com esse mesmo ar dissimulado que eu olho para o espaço ainda por preencher nesta folha. Não tenho paciência para escolher as palavras...sinto a mente preguiçosa e são os dedos que comandam o vaivém do teclado. Dançam alucinados num chão pintado de preto e com passos rápidos e precisos marcam o compasso da sua dança.
Que se lixem as formalidades e o pudor, hoje apetece-me ser filha da puta nos gestos e cabra nos pensamentos. Não ter pena de ninguém, porque ninguém merece ser vítima desse sentimento humilhante. Não vou lavar os meus gritos com sabão rosa ,só porque eles me saem sujos e roucos da garganta.Quero-os mesmo assim...porcos e grosseiros porque eles nasceram no berço imundo da frustação e quem estiver na direcção deles que se proteja porque vai levar com eles em cheio na alma.
Vou usar palavras directas e vou cortar nos tempos de espera,como se este dia fosse dominado por um contra relógio de vida ou de morte...ou dizes o que eu quero ouvir ou podes cair fulminado pelos meus olhos porque eu não vou esperar que o meu tempo de sanidade chegue ao fim só porque quero ouvir o teu sim.
Sim...fizeste a escolha certa!...
Sim...esse era o caminho a seguir!...
Sim...fazes-me falta!...
Sim...preciso de ti!...
Porra, será tão difícil assim dizê-lo só porque não o sentes agora?
Tu que encantavas as almas penadas com promessas de um inferno melhor, já não sabes inventar uma chama? Quando é que perdeste esse teu dom?...não me apercebi devia estar distraída a inventar poemas inspirada nos anjos que sobrevoavam as minhas noites.

Ohhh mundo filho da mãe,quando é que desististe de mim?



blueiela-27/07/06

terça-feira, julho 25, 2006

Onde está o beijo que deixei na tua boca?


















Foste embora?
E onde está
o meu beijo de despedida?

Vou ficar
com a minha boca húmida de desejo
com tanta secura
que deixas-te nos meus lábios.
Morrerei de sede esta noite
porque não me deste de beber
das tuas palavras
antes de adormecer.
Não dormirei
e os meus olhos abertos
trespassarão a escuridão
como faróis alucinados
até o dia romper no horizonte.

Porque foste embora
sem me ouvires dizer
que foi bom
estar ali contigo outra vez?
Que por alguns minutos as horas tiveram mais cor...
Que a escuridão que por vezes vive em mim
enfraqueceu com o teu sorriso
e no meu peito
até houve tempo para gozar uma tarde de sol...

Dei-te um abraço
com os braços estendidos
e tu abraçaste-o ...
Foi boa
a ilusão da prontidão daquele abraço.

Mas e o meu beijo...?
Porque não lhe deste
o calor da tua boca
se foi na tua direcção
que ele partiu doce e ofegante?

Não importa o porquê
da falta de um gesto
se ele já não tem a força da ternura que o envolvia...
Por isso
sem explicações
embalo-te com palavras quentes
mesmo sabendo que à tua alma
chegam já geladas.

Boa noite...
Dorme bem
Sempre com o meu beijo ao teu lado
Porque este beijo
não receia mais o teu silencio
e a ti se dá
sem mais palavras...

Blue-24/07/06

sexta-feira, julho 07, 2006

Sussurros e Poesia-Parte IV



Os pássaros não sabem tocar guitarra...


Fecha as luzes...
Porque esta noite quero levitar no escuro
e fazer do meu corpo
carne incognita...

Agora reparo... Ainda tenho a minha pele a descoberto e o seu brilho denuncia a minha presença nesta escuridão fingida. Porque não usas as grutas do teu corpo para me engolires por completo na tua sombra?Assim tu e eu poderíamos ser neste quarto o mesmo nada por momentos...Não existiriam culpas nem arrependimentos se tudo mudasse aqui, se o meu mundo virasse o teu de cabeça para baixo e se esta tontura fosse eternamente sentida. Não me importo que no meu mundo as memórias deixem de caminhar para trás, e que elas mesmo , passem a comandar o meu futuro...porque sei que o farão orgulhosamente de cabeça erguida. Então...puxo-te para os meus braços até sentir que já não receias que te deixe cair e ato-me a ti como se fosse um nó cego para que não possas fugir do meu olhar.

Depois...
Peço-te que
pegues neste pedaço de carvão
e que escrevas a preto nas paredes
NÃO OLHEM!!!
Para que todos os olhares
que desafiarem
a noite curiosa
sejam atraiçoados
e deste festim preparado
apesar das promessas
nada lhes seja revelado.

Gosto de segredos
guardados a dois
E tu...não?




Thumbing My Way
By Pearl Jam
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Fecho os olhos...
Já te encontrei
vagueando neste sonho perfeito
com os olhos cravejados de doçura
e naquele instante
juro por Deus
que a visão é um dom desnecessário para mim...

Sinto que caminhas atordoado na minha direcção...os teus passos estão confusos, como se não percebesses porque estás aqui...
Mas porque tentas tu ainda perceber a razão dos meus sonhos?Nos meus sonhos nada faz sentido porque tudo se entrega sem pensar e o chão que pisas tem a cor que eu escolhi mesmo que não a conheças. Não ouves pássaros a chilrear nesta paisagem,pois não?Porque até a musica que compoe este cenário ideal foi escolhida por mim e como os pássaros não sabem tocar guitarra e o bater dos seus bicos não tem a mesma força de uma bateria eles deixaram de ter importância.Por isso guardei-os nesta gaiola forrada de veludo vermelho que dentro de mim transporto. Quando os quiseres ouvir so tens que encostar o teu ouvido ao meu peito e eu prometo que nas minhas penas adormecerás sempre tranquilo...



Porque resistes?
Porque te debates
agora que sabes
que eu
nunca farei sentido
entendida como um comum mortal...

Tenho demasiados sonhos
Aprisionados na cabeça
para acreditar
que sonhar contigo
nunca será real...
Por isso
esta noite...
só por esta noite
sonhas comigo?


Daniela Pereira-07/07/06

sexta-feira, junho 30, 2006

Extinção



Se o mundo

já não suporta

ouvir-me gritar

o que sinto...

Então,ficarei quieta

num canto escuro qualquer

em absoluto silêncio

até que ele

se digne a estender-me

novamente a mão.

E se DAR

não for mais sinónimo de RECEBER

no dicionário dos mortais...

Então nada darei de mim

enquanto esta alma permanecer vazia.


Daniela Pereira-30/06/06
 

domingo, junho 18, 2006

Sussurros e poesia-Parte III-Respirar num gesto pensado




Inspiro fundo...
E porque já não respirava à tanto tempo
deixo que os meus pulmões
recordem lentamente o gesto.
Sem pressas
deixo o ar suspenso
e não lhe apresso a viagem.
Ouço o mar
ofegando nas paredes do meu quarto
e em silêncio
absorvo o cheiro da maresia impregnado nos lençóis.
A pele fica roxa
enquanto aprisiono o ar
e mesmo que sufoque
sei que não desistirei de dominar
este corpo que é só meu
por uma herança
que a alma deixou na carne.

Sinto que perco as forças
e a vertigem
é um acto pensado
nesta libertação forçada da mente.
Os olhos fecham-se
e o mundo são imagens desfocadas à minha volta
sem rostos cerrados
nem rugas nas palavras
porque o silêncio não envelhece...

Passaram apenas alguns minutos desde aquele momento em que decidi respirar profundamente ao sabor da poesia. Agora que prendi por momentos as palavras com cordas pretas e as esmaguei contra paredes brancas, sinto que chegou a hora de as deixar soltar o ar calmamente enquanto caminham por estas longas linhas sem a poesia pesando nas costas.
Posso então abrir os olhos descontraída e ver que o meu mundo ainda está perfeito mesmo que nunca deixe de ter recantos imperfeitos à primeira vista.
Inspiro...e expiro devagar
E ao sabor desta loucura que é respirar começo-me a sentir como se fosse apenas mais uma onda que o mar alberga nos seus braços numa sintonia perfeita com a natureza. Mas como nada é eternamente perfeito dou por mim a rebentar ilusões contra um muro de areia improvisado à beira mar.
Então dou uma abanadela ao meu corpo para que saia daquele transe e regresso ao sufocar da vida...

Daniela Pereira-18/06/06

domingo, junho 04, 2006

Elogio fúnebre a um NADA...



Não és nada
e nunca foste nada
para os outros
que são tudo para ti.
Nem mesmo aquele ínfimo pedaço
que de ti deste
julgando ser o teu maior pedaço
chegou para preencher
algum espaço no céu com o teu nome.

És um vazio na terra
que nada tem por dentro
para além de sentimentos ocos
e emoções emprestadas .
Não tens vida própria
e vives à custa dos outros
esperando alimentar os teus sonhos
com as migalhas que os outros te dão
em troca do pouco que lhes dás.

Depois é ver-te a escrever como louca
a pensar que alguém escuta as tuas palavras
e só porque as carregas com toda as tuas forças no papel
julgas estupidamente
que podes assim deixar alguma marca.
Mas não...
Digo-te que não deixas nem um traço
porque és apenas pó
e o vento sopra-te rapidamente da folha sem remorso algum.

Não amas
e nem sequer podes mais amar
com esse coração assim desfeito
por tantos medos aguçados.
É que tu sabes bem
que assustas qualquer sentimento
que passeie alegremente pelo teu peito
com todo esse medo que tens colado a ti
e nem sequer te importas.

Já não enfrentas o mundo...
Se é que alguma vez o enfrentaste de frente
porque sempre te vi fugir
como um cachorro assustado.
Já não sabes como se luta
porque te esqueceste como isso se faz
de tanto estares
enfiada nesse teu buraco seguro
cercada de fantasias.

Esperneias...
Gritas e choras
e enquanto te debates sozinha
por entre dúvidas e certezas
nos teus pensamentos mal amanhados
vais suplicando
como um peixe fora de água

que te deixem ao menos respirar.

Então, hoje sei que olhas sufocada
para aquela caneta
que tantas vezes te fez sorrir
e até ela baixa os olhos
perante toda essa tristeza
que adivinha estar estampada nesse teu rosto.
E tal como tantos outros
ela também já se sente enfadada
das tuas lamúrias sem nexo
que esculpes com as tuas mãos
nas curvas da poesia morta.
Agora ela só quer
procurar outros poetas
que saibam celebrar com as palavras
essa vida que tu
já não tens nos teus dedos.

Daniela Pereira-04/06/06

P.S:Imagem by DeviantART

Remendar o frio nas tuas costas...




Ouves-me vento?
Ou será que os meus gritos e lamentos
são tão fracos
que nem com a boca encostada ao teu ouvido
consegues-me escutar?
Se calhar toda a dor
que me tem corroído por dentro
já chegou à garganta
e queimou-a de tal maneira
que nenhum som sai dela
e se a mudez se apoderou das poucas palavras que nela sobreviveram
então o silêncio poderá ser agora a minha voz.

Cruzo os braços mais uma vez
e fico novamente à espera do teu sinal
sossegada no meu canto
aninhada em choros e pensamentos
até sentir a noite afogar-me num mar de papel branco.

Depois abro a janela todas as manhãs
na esperança que o dia esteja diferente
que ele tenha acordado com mais cor para mim.
Mas não...só se eu tivesse sonhado
porque o céu ainda está pintado de negro
e as nuvens permanecem salpicadas de cinzentismos.

Então resignada com o meu triste fado
volto a fechar a janela
com dois murros no vidro
para depois desiludida virar as costas ao mundo
fingindo uma atitude de pura rebeldia.
Mas na verdade...
E o meu mundo sabe-o tão bem...
Apenas desejo que ele me toque
nem que seja ao de leve no ombro
e mostre alguma gratidão
pelos buracos que tantas vezes lhe remendei nas costas
para que nunca sentisse este frio medonho
que em mim hoje sinto.

Daniela Pereira-04/06/06

quarta-feira, maio 10, 2006

Hoje queria vomitar o tempo...




(escrito ao som de “Butterflies and Hurricanes”-Muse)



Butterflies
By Muse
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Passa o tempo devagar
naquele relógio que aparafusei na cabeça
e nada sei ainda...
Então pergunto sem cessar
Se estou certa...
Se este medo tem alguma razão de ser...
Se estas lágrimas ainda fazem algum sentido.
Depois lembro-me dos sorrisos
que já galoparam em cima dos ponteiros
quando os sonhos tinham o aroma dos nossos passos
e não encontro motivos
para que a areia hoje esteja assim tão salgada.
Já nem vejo o mar à minha frente
porque agora os meus olhos
preferem a melancolia de um rio
para pintarem tranquilamente o seu pranto...
Então porque sabem a sal os meus dedos?
Estou enjoada...
E sempre que os meto à boca
apetece-me vomitar com esta caneta seca
todas as palavras salgadas
que me dão a volta ao estômago
porque este silêncio amargo e doce dá-me vómitos.

Daniela Pereira-10/05/06

sexta-feira, abril 28, 2006

“Ao som de Spiralling de Antony and the Johnsons”




Perdoa-me porque consinto
Que estas lágrimas voltem a cair
Mas não consigo ensinar
Ao meu peito
Que a tristeza não tem valor.

Se hoje ouço melodias
Com os olhos molhados
Quero que saibas
Que não culpo a tua voz
Por nenhum momento de silêncio
Porque Só o meu coração
É culpado
Por amar tanto as tuas palavras.

Talvez se não ouvisse
Mais nenhuma música...
Se tapasse os meus ouvidos
Com muita força
Podia ser que estas notas sofridas
Não ecoassem dentro de mim
E que neste relógio
Que trago pregado na pele
Os minutos finalmente deixassem
De caminhar na areia do tempo
Com passos tão marcados.

Perdoa-me por continuar a afogar-me
Em todas as tempestades
Que se abatem na minha mente
Sem nunca tentar nadar
Para atingir a segurança de uma terra firme...
Mas acredita que os meus braços
Já não têm mais forças
E recusam todos os meus pedidos
E eu já não sei mais
Em que direcção
Devo largar os meus gritos de socorro
Porque o meu olhar confundiu o Norte
Ao se perder numa imensidão de estrelas
Todas as noites tentando adormecer
Sem te ter ao meu lado.

Ai, se eu pudesse escolher
Cada palavra que escrevo
Nenhuma soaria com esta dor
E todas estariam sempre
Para ti sorrindo
Com um brilho feiticeiro no olhar
Da primeira até
À ultima linha.

Por isso perdoa-me...

Mas não consigo evitar
Que elas por alguns momentos
Baixem os olhos entristecidas
Mesmo quando eu lhes afago a cabeça.

Só queria saber qual é o segredo
Para se estar sempre a sorrir
Sem fingir que se é feliz...
Como se pode desejar
Um corpo com fervor
Sem lhe poder tocar
Sabendo que só em sonhos
O poderás cobrir de beijos.
Como beijar uma boca
Com os beijos mais quentes
Sem sentir o calor desses lábios
A aquecer os teus.
Como sacudir os pensamentos
Para que eles não fiquem inertes
Seduzidos por um rosto
Que não lhes sai da cabeça.
Como fazer parar
A inspiração que te corre nas veias
Sempre que pensas em alguém.
Como calar nos teus dedos
Todos os sentimentos
Sem os amarrares atrás das tuas costas
Para que possas
Ter sempre as mãos soltas
Para dar uma carícia.

Porque me fizeste assim Meu Deus?
Porque não consigo odiar quem não me ama
E porque amo eu
Quem apenas não me odeia?
Porque vejo magia no brilho de uma estrela
Se todas brilham com a mesma luz?
Porque amo com tanto fogo
Estas palavras
Se na verdade és tu que eu queria poder amar?
De que me serve
Inundar os teus dias e noites
Com beijos e carinhos
Se nunca mais te vou ouvir dizer
Que eles são a tua alegria?


Ao azul deste céu
Não perguntarei mais nada
Porque sei que haverá
Sempre uma nuvem ocultando a resposta
No azul deste mar
Não deixarei flutuar
Mais nenhuma dúvida
E todos os pontos de interrogação
Que surgirem neste peito
Espero bem que as ondas os levem para longe de mim
Porque assim saberei
Que só salvarei as certezas
Quando estender o meu braço.



Talvez se soubesse
Como emparedar
Um coração na carne
Ele já não batesse mais
Sempre que sente os teus passos
E eu não ficasse mais
À espera do teu longo abraço
deitada nesta cama
Com cravos vermelhos
Desfalecidos aos meus pés


Por isso perdoa-me por todas as lágrimas
E por todos os sorrisos
Que trago dentro de mim
Sempre que tocas levemente no meu rosto
Porque não é apenas pele
Que sentes debaixo desses dedos...
É a minha alma que a ti se dá por inteiro com prazer.


Agora que deixei que estas palavras
Vissem a luz do dia
Sei que esta escuridão vai passar...
Por isso perdoa-me
Por não as deixar sempre
no escuro aprisionadas
longe do teu olhar sorridente
mas preciso de ver por momentos o sol
e só assim dissipo as minhas nuvens
para poder renascer para ti sorrindo...

Blue-27/04/06

quinta-feira, abril 20, 2006

O sexo e as palavras




Porque procuras o prazer
em cada canto da noite?
Em cada sombra da rua...
Mesmo sabendo
que elas para ti só se despem
na ânsia de sentir calor
na frieza da cidade.

Porque tens que embriagar
a tua vida errante
com gemidos fáceis
para puderes sentir
que o sol te queima
o corpo mesmo na escuridão?
Não preferes aconchegar essa nudez
no seio de uma alma que em chamas
arda por ti em silêncio?

Apenas te pergunto isto
porque sei bem
que assinas poeta
em todas as palavras apaixonadas
que cospes da boca
e admira-me muito que
ainda não saibas que de madrugada
toda as paixões se desvanecem como fumo.

Tu sabes que faço amor
como ninguém
com meia dúzia de palavras acesas
porque já me ouvis-te gritar louca de prazer
com as pernas escancaradas nesta folha...

Então porque insistes demente
em desejar a noite por inteiro?
se no fundo tu também sabes
que nada dá mais prazer
que amar incessantemente ao luar...


Daniela Pereira-20/04/06

sábado, abril 15, 2006

Sussurros e poesia-Parte II



Se alguém te perguntar se estás triste, sorri e mente. Não mostres os teus olhos vermelhos porque os homens preferem vê-los pintados de outra cor. Quando sentires frio dentro de ti, cobre-te de luxúria e prazer e espera que o teu corpo aqueça. Por precaução, costura o teu passado no decote e espera que num momento mais quente o rasguem de olhos fechados para não o verem...o mundo é mais compreensivo quando é cego.
Depois embrulha o teu corpo numa fita veludo e aguarda que um olhar te deseje como presente, mas não esperes receber flores da mão que te despir. ..porque as rosas são para os contos de fadas e tu perdeste a tua magia quando arriscaste amar a sério alguém. Agora do amor que sentes só mereces uma coroa de espinhos e as flores nunca serão para ti.
Então não chores nessa janela porque ninguém te vê por detrás desse vidro empoeirado , és invisível aos olhos de quem por ela passa . Sempre foste assim, apenas já não te lembravas de como era senti-lo...
É por isso que te refugias nas palavras como um vagabundo que procura abrigo em cada canto da rua? Não encontras palha para fazer o teu ninho e então gritas com elas para libertares toda a tua fúria contida. E porque gostas de manter aquela imagem suave e doce que acalma os outros sorris...e quem te acalma a ti, quando sentes que vais explodir em pedaços? Olhaste bem em teu redor?
Não te admires se não vires ninguém e não te belisques porque não é um sonho...é apenas o teu maior pesadelo.


Rebellion (Lies)
By The Arcade Fire
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Porquê ter medo da solidão
se a solidão é a tua única companhia?
Porque choras quando olhas
Para as paredes vazias?
Foram só recordações que delas arrancaste...
Tens tela e pincéis
Então, porque não pintas novos quadros?
Tens tantas cores nos reflexos das tuas lágrimas
Porque não tentas
pintar um arco-íris nos teus olhos...
Não desistas
De imaginar que salpicas o céu
Só porque Deus
Fez os teus olhos com a cor da terra...
Porque a tua imaginação
Tem asas
Sabes bem que o chão nunca poderá ser a tua casa...

Se tiveres de voar sozinha, então não receies a solidão do teu voo porque os pássaros abrirão caminho por entre as nuvens e o sol não te faltará. Tu és como eles e vives cantando sentimentos por isso nunca te pedirão que silencies a tua dor nem que escondas os teus desejos por conveniência só porque temem as tuas tempestades.
Tens nos dedos a força da liberdade das palavras e a coragem para encher o céu com palavras apaixonadas mesmo que o mundo teime em caminhar com os olhos postos no chão...
Pelo menos tu sabes como fazer dos teus lábios rebuçados e escolhes livremente as bocas que os poderão provar... não te limitas a distribuir a mil porcos os teus beijos como se fossem guloseimas só porque por eles salivam.

Por isso...

Beija estes lábios
que em chocolate
foram moldados
e deixa-te ficar assim
perdido na minha boca
até que o meu corpo
se ofereça a ti como sobremesa.
Depois com o meu coração nas tuas mãos
caminha lentamente
até aquela janela empoeirada onde eu chorava...
Então, abre-a com cuidado
para eu não a ouvir gemer
e solta-me com os olhos fechados
porque eu só
sei voar na escuridão...

Daniela Pereira-15/04/06

sexta-feira, abril 07, 2006

Sussurros e poesia-Parte I




Shiu não digas nada, por favor! Não corrompas a lealdade deste silêncio a dois e escuta comigo o que ele nos segreda enquanto sonhamos...

Não existe mais nada numa paisagem em chamas
para além de sombras e labaredas
que abraçadas com paixão
alimentam um fogo
com sonhos húmidos.

Tens carne que cheira a queimado
cravada na tua pele
e esse odor forte
que sentes quando inspiras
vem dos meus pedaços
que no teu coração arderam.

Espera, não grites ainda ....espera que eles te queimem por completo a alma. Depois sim, grita à vontade mesmo que eu já não te oiça. Porque esse teu grito vai-me encher de prazer enquanto dispo este corpo fútil de todas as sensações humanas para deleitar os teus sentidos com as minhas miragens. Podes vir comigo se quiseres, porque nesta cama vestida com lençóis de carne há sempre lugar para mais um...
Mas não venhas já, dá-me tempo para apagar todas as luzes do quarto porque quero a tua imagem à luz de velas forrando as paredes. Só assim o quarto ficará acolhedor para te perderes em devaneios mais quentes.
E na penumbra apenas te verei a ti porque só para ti farei poesia no escuro... para o resto do mundo estarei cega e muda...

Dois corpos nus
ainda vestidos
contorcem-se de costas voltadas
num êxtase solitário.
Não existe mais nada neste quarto
que deixei em chamas...
Nada mais escuto agora
que a noite se deitou em mim...

Só estes sussurros que escapam da minha boca
tentados pela poesia que declamas com o teu corpo...

Daniela Pereira-07/04/06

segunda-feira, março 20, 2006

Um céu caiado no silêncio


Nas palavras que escrevo
por uma estranha vontade
tenho um grito enjaulado.
À noite é uma fera cativa
que atiço com paixão
acenando com um corpo nu na minha mão.
De dia é um pássaro mudo
com sonhos costurados na alma
que o mundo por compaixão
vai deixando voar livre neste céu
que ainda cheira a silêncio pintado de fresco.

Daniela Pereira-20/03/06

sexta-feira, março 17, 2006

Com raiva me deito e com egoísmo me levanto...



Hoje é raiva que inunda o meu sangue não é mais a tolerância ou compreensão... É simplesmente raiva pura.
É difícil admitir como ser humano que sou, que basta apenas um minuto para destruir toda a sensibilidade de uma pessoa, mas não duvido que as palavras erradas no momento certo são como catalisadores para os maus pensamentos acelerando sentimentos negativos que temos em estado latente espalhados por todo o corpo.
Basta que se faça uma mistura explosiva com duas gotas de egoísmo e três de indiferença para que toda a confiança que temos em estender a mão ao mundo se converta num punho fechado.
Hoje deixei cair a primeira gota desta receita cruel e fi-lo deliberadamente sabendo que muitas outras se irão juntar a esta e numa acidez sem limites vão corroer tudo à sua passagem. Reduzindo até as memórias mais suculentas a uma mera pilha de ossos que até os cães vadios rejeitarão só para não sentir o sabor a podre que elas trarão às suas bocas .

Então, seja feita a Vossa Vontade...

Que a ternura seja enterrada num buraco bem fundo
de onde nunca possa fugir...
Que a doçura se funda
ao mais amargo fel
para que jamais mel pingue da minha boca.
Que as lágrimas não me recordem mais
porque chorei sem culpa nenhuma
para que eu nunca mais me sinta culpada
por ser quem hoje sou.

Que nestas palavras fique carimbado o meu desejo de ser livre e de viver pensando exclusivamente em mim e não nos outros. “Só os meus sentimentos interessam”, vou dizer vezes sem conta enquanto estiver a bater com a cabeça nas paredes tentando acreditar nas palavras que saem da minha boca.
E como crente nesta nova filosofia de vida, não deixarei de rezar todas as noites com imenso fervor
pelo egoísmo que nasce sempre nos ventres desiludidos das mulheres, porque hoje sei que nele encontrarei a derradeira salvação para a minha alma.

Daniela Pereira-17/03/06

sábado, março 11, 2006

A tolice de um sorriso que não queria aprender a chorar...



Tenho sorrisos para quem os pede e tenho sorrisos mesmo para quem não os quer...Sempre fui assim, uma mulher de boca larga. Que me importa que o mundo não os queira ver e prefira um rosto lavado com lágrimas? Eu tenho sempre um sorriso pregado na boca e nem a sujidade agarrada às lágrimas consegue conspurcar a sua inocência.
Que tolo é este meu sorriso! Sempre debruçado à janela olhando sonhador para um céu que nunca muda de lugar e na cor só de tom oscila. Mas ele gosta de sonhar que o mundo ainda tem emenda e que a crueldade das pessoas é passageira. Talvez por isso acredite que o céu não é só pintado de azul e que por detrás de uma nuvem existe sempre um arco-íris que espreita.
À noite olha com admiração para as estrelas ...suas eternas heroínas e inveja a capacidade que elas têm de encher de luz um mundo de escuridão. Também ele queria ter essa magia guardada na ponta dos dedos para dormir sempre aconchegado num abraço luminoso.
Que distraído que é este sorriso! Deixa-se estar ali parado debaixo de tantas nuvens carregadas que daqui a bocado é mais um sorriso encharcado que vem à rua...
Mas ele gosta de chuva e daquela frescura que teima em pingar nos seus lábios sempre que uma nuvem chora com ele. Que lhe importa se as gotas quando caiem do céu são pesadas para a sua pele tão frágil?
Ele quer é sentir que ainda existe vida num mundo de sentimentos mortos e a chuva dá-lhe essa sensação.
Eu tenho sorrisos para quem os quer...tenho este mas tenho mais alguns para escolha.
São doces e amargos...tenros e duros...fortes mas sem perder a fragilidade de serem naturais.
Não usam maquilhagem nem acessórios para ficarem mais vistosos aos olhos de quem os cobiça...
Preferem um sorriso a dois do que dois sorrisos perdidos por momentos numa multidão de risos.
Sorriem com um bom banho de espuma mas também gostam de sentir a secura na boca quando se sentem envergonhados. São sorrisos simpáticos...acho eu que já os conheço bem. Se calhar existem olhos que os olham desconfiados quando eles por vezes se fecham irritados. É normal porque ninguém gosta de ver um sorriso descontente...
Que sinceros são estes sorrisos que mesmo quando mentem ...mentem para fazer sorrir. Pode-se mentir com um sorriso na boca? Acho que sim...a alegria também pode ser um estado de fingimento basta não saber como ser alegre mesmo quando a alegria está colada nos nossos ombros.
Eu também tenho sorrisos tristes para oferecer, daqueles tímidos e encabulados que se movem no silêncio preferindo as sombras para recolher os seus passos quando caminham até ti.
São sorrisos tolos porque nunca aprenderam a chorar e por isso encerram a tristeza dentro de si como se o coração pudesse ser para sempre uma concha...


Daniela Pereira-11/03/06




sexta-feira, março 03, 2006

Filmar retalhos


Tenho saudades...
Saudades de expor apenas para ti
a minha vida em minutos
como se ela fosse uma curta metragem
que gostavas de ver despida na tela.
Não fiz pipocas para esta sessão de cinema
mas as minhas palavras
também estalam nos dentes
basta que as trinques com força.
Nos olhos guardo religiosamente uma pedra de sal
e se hoje não as quiseres tão doces
posso derramar uma lágrima
para as deixar ao teu gosto.

Mas agora não penses nos sabores
que te darei a provar
e deposita apenas na cadeira o teu corpo tenso
que eu vou baixar as luzes
e relaxar-te com carícias nas palavras.
Não temas mais a escuridão que foco no olhar
porque ela nunca será tua
e porque aprendi a afiar os olhos como tesouras
para recortar as nuvens
em mim apenas encontrarás luz.


Estás bem assim?
Ainda te sentes confortável no meu mundo?

Então, deixa-me aquecer os dedos
com o ar quente que me sai da boca fria
e escrever na pele um novo guião
para o filme da minha vida.
Mas não quero que me obriguem
a imaginar finais numa história que se quer infinita
porque só para respirar saudades permitirei intervalos.

Blue-02/03/06

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Condeno-te ao passado...


No tempo fiz-me eternamente passado
e odeio-te mundo por me teres
condenado a viver de memórias.
Por ti maldito
sou um vampiro sedento
que à noite suga momentos da alma
só pelo desejo de sentir
que ainda lhe corre vida nas veias.
Cada gota de sangue que de ti consigo beber
é néctar doce para os meus lábios
e mesmo morta para ti
é nos teus restos suculentos
que me alimento.


Daniela Pereira 20/02/06

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Quem lê poemas tristes com sorrisos na boca?




Hoje sou uma folha solta ao vento
que o amor um dia escreveu por engano.
Sinto-me perdida
assim rasgada em mil pedaços
e num rodopio infernal
deixo-me assolar pela dor
enquanto espalho versos pelo chão
com palavras tristes
que o mundo não lê com o sorriso estampado na boca.

Então, que a poesia
se cale para sempre nos meus dedos
e que a solidão seja a esmola amarga do poeta.

Daniela Pereira-15/02/06

domingo, fevereiro 12, 2006

Escrever poesia no escuro



A noite vai longa debruada pela escuridão
mas não consigo adormecer...
Como posso esquecer um amor tão forte
que até me arranca poemas a sangue frio do peito
conduzindo os meus dedos solitários pelo papel
mesmo com a luz apagada?

Então, escrevo versos no escuro
e engano as sombras do meu quarto
desenhando o teu corpo iluminado nas paredes
com os olhos marejados de desejo.

Depois segredo com a boca na almofada
quase num silêncio sepulcral
sem que me ouças
que ainda te amo
e o meu corpo grita-lhe ao ouvido
que inveja os lençóis deitados na tua cama.

E a noite persiste na minha alma...

Daniela Pereira 12/02/06

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Saudades da inocência



Perco o olhar e deixo-o a divagar solitário como se fosse um vagabundo e nos meus olhos acolho a saudade com carinho. Inspiro fundo e fico prisioneira de um ar doce onde sucumbo numa lenta asfixia que me dá prazer. Já vou longe montada no dorso dos meus pensamentos mas o meu corpo ainda está petrificado numa cadeira de baloiço irrequieta. Embalada nos braços reconfortantes de uma melodia, vou sentindo os músculos sonolentos pedindo para adormecer e hipnotizada pelas emoções que me toldam a alma obrigo-os a ficarem despertos por mais alguns minutos apenas. Porque sabe tão bem sentir este balanço nas nuvens ao som desta música de embalar enquanto viajo no tempo. Fecho então os olhos sem saber mais como posso resistir ao apelo da escuridão temporária que invade a minha tarde triunfante .Mas deixo apenas um grão de areia por escoar nos meus dedos para que a alma tenha tempo para silenciar as batidas do peito e depois sopro o presente da minha pele.Então regressam as tranças negras ao meu cabelo e rebelde faço beicinho limpando o batom dos lábios com a palma da mão enquanto vou dando gargalhadas sem me preocupar que os vizinhos possam ouvir o meu riso e estranhem a falta das lágrimas caindo no meu rosto triste por natureza. Nas mãos acaricio alegremente uma flor e vou brincando com as pétalas invejosa por reconhecer tanta beleza esculpida num único ser terreno. Subitamente dou por mim desejando ter feições de uma deusa só para a humilhar e roubo-a para enfeitar o meu corpo de mulher. Então, cresce-me nas pernas uma vontade de voltar a correr pela floresta só para me esconder das sombras reprovadoras ,que me perseguem ,trepando às árvores para depois atirar-lhes caretas empoleirada nos ramos. Lentamente vai nascendo um sorriso nos lábios despidos de cor e relembro a miúda traquina com mil ideias mirabolantes guardadas nos bolsos que cautelosa e com medo dos olhares curiosos escondia os seus preciosos sonhos nos corações de borracha das bonecas. Numa pura diversão sabia inventar brincadeiras sem fim sentada à porta de casa e rodeada de amigos coloria as horas com os dedos sujos de tinta. Depois deixava a marca da sua alegria estampada nas paredes da rua e partia ao pé cochinho para mais uma aventura com um punhado de terra dourada brilhando nos olhos.

Daniela Pereira

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Rezar com a alma ajoelhada




No corpo gélido abafo o meu amor
com todas as palavras sufocantes que guardo na cabeça
mas mesmo assim
ainda ouço os seus gritos ecoando na alma em carne viva.
Grita por ti ...
e grita por ti com todas as forças que lhe restam
depois de esbofetear as minhas entranhas
durante horas a fio.
E apesar de não acreditar
que a fé consiga trazer-te para mim
do alto dessa tua montanha solitária.
Talvez comece a rezar com a alma de joelhos
pedindo para que pelo menos
nunca faças nevar no meu sorriso
porque eu amo este sorriso quente
que deixas na minha boca.

Daniela Pereira

sábado, janeiro 07, 2006

apenas um pensamento



Cá estou eu novamente solitária apenas na companhia dos meus pensamentos e destes dedos que nunca se calam.
Hoje sinto-me realmente só...como se tivesse morrido para o mundo.Como se eu fosse apenas uma página...mas uma página no meio de muitas outras páginas coladas firmemente num livro muito espesso. Mas eu não sou uma página igual a todas as outras,porque não sei ficar colada com firmeza...solto-me com facilidade porque não quero criar raízes com a realidade. Prefiro os sonhos...prefiro a rebeldia do mar à serenidade de um rio estático.
Gosto de amar os outros, mas por vezes esqueço-me de me amar acima de todas as coisas e talvez por isso seja como aquelas flores que vocês encontram num jardim e que apaixonam ao primeiro olhar.Mas depois de a colherem, percebem que ela não é tão bela assim nem tão pouco possui nenhum tesouro nos seus braços...e quando olham novamente para ela, percebem que ela murchou que perdeu a jovialidade de antes e quando lhe tocam sentem que as pétalas já não têm mais cor .
Hoje estou um pouco assim, murcha e sem colorido na pele e por isso estou aqui mais uma vez na companhia das palavras e dos pensamentos soluçando em silêncio e sem testemunhas.


sempre BLUE
07/01/06