sexta-feira, agosto 31, 2007

A morte de quem sou...

Hoje morri para o mundo...
Calam-se as palavras e os dedos são mortalhas apagadas...
Os olhos não olham mais para o céu e o chão só me leva os passos.
Tudo o que sou...e fui morreu.
A alma foi fogo...hoje é cinza
O corpo foi sol...hoje é a sombra de todas as luzes escondidas nos becos escuros.
Não choro..porque querem que não chore.
Não grito...porque querem que não grite
Então, sou uma pedra seca e escura perdida em qualquer caminho
não sinto...não dou...
Cortei os braços e encurtei as pernas para não andar e proibir o sonho de se encontrar em algum pedaço do poema da minha vida.
Não mereço ser poeta,porque nada tenho para cantar no papel...
a minha canção tem pranto
tem lágrimas num pincel..
mas já não a canto pelos jardins
nem me apoio nos beirais dos telhados para caçar borboletas
e soltar papagaios de vinil.
Estou calada para sempre...
Hoje amarro a minha boca e enterro as minhas mãos
cruzadas junto ao meu peito
cravadas no meu caixão.
É de mel esta boca e de esperança viviam as minhas guitarras
Rasguem todas as minhas linhas escritas...
Hoje os meus devaneios chegaram ao fim...

Daniela Pereira

The end

quarta-feira, agosto 29, 2007

O povo é quem mais te ordena!



Imagem in Deviantart- Body I by ~pixieonprozac

Porque pensas tu

Ser mais dono da razão…

Só porque a sorte te sorriu?


Também eu, um belo dia …

Dei o meu olhar de bandeja

com ternura e dedicação

para que todos os cegos

pudessem ver as cores deste mundo

e enterrassem no horizonte

o seu melancólico mar de cinzas.


Julguei ser a mulher mais abençoada do mundo…


Para quê?

Hoje são eles

que solidários com a minha negritude

arrancam-me os olhos

e cruzam os braços quando outros

se divertem a pintar o meu olhar com escuridão .





Hoje, estou aqui …

A despertar de um sonho bom com o coração rasgado

envolta num pesadelo nada cor-de-rosa

Tenho marcas fundas e ensanguentadas

que a pele

por mais que seja espessa

não encobre…

Porque todas as ervas daninhas que abraças
têm os seus espinhos bem afiados e escondidos numa vastidão de verde


E eu… só tenho esta eterna transparência

depositada num peito de papel…


Porque não te cravas em mim sem dó

em nome de uma Força maior

e apregoas protecção divina?

Quando trepas para o meu pescoço

com vontade de me sufocar os gritos

eu juro por Deus

que me arranhas os gestos

e que me congelas as veias

com essas pedras geladas

que agora tens na tua mão!


Pelos vistos, sou eu que tenho o diabo no corpo…

Por isso, vai salvar

todos os teus supostos anjos perfeitos

à custa da minha dor …

E como sabes que as chagas em mim

estão sempre na moda.

Ainda vais poder dizer com toda a certeza

que me estás a fazer um favor

e não te sentirás culpado.


Fico tão graciosa

Assim chorosa e a flutuar mais uma vez destruída nos meus pedaços…


Porque não haveria de ficar?

Alguém te disse que sim..

Porque não irias tu acreditar?


Daniela Pereira
Direitos Reservados

domingo, agosto 26, 2007

Quando os opostos se cruzam...


I don't know by ~1hermanadedexter on deviantART

Quando os opostos se cruzam no caminho...
o inicio dos teus passos soam no fim daquela rua.
A luz enfeita-se de sombras e a escuridão penteia as estrelas
porque o dia ama a lua e a noite tem ciúmes do sol.
Quando os opostos tocam o olhar...
O chão tem nuvens dificeis de lavrar e no céu nascem mantos de tulipas
A chuva chora de luto porque uma lágrima no fogo morreu...
o vento assobia com espanto e jura que o mar se incendiou...
Quando os opostos se abraçam...
anulam-se todas as diferenças
e todas as certezas beijam-se na boca
a troco de um nada.

Daniela Pereira

Direitos Reservados

segunda-feira, agosto 20, 2007

Caprichos


.bury me by *caspell on deviantART

Queria o céu por capricho…
Deram-me as nuvens lá do alto para me compensar
E eu criei as tempestades na terra.

Queria o sol para ser o meu espelho nas manhãs…
Deram-me a lua, mas esqueceram-se de embrulhar o luar
E eu vi a escuridão a fazer-me festas no rosto.

Queria o mar para descobrir novas melodias num olhar calado…
Deram-me o grito das ondas
E eu baixei os olhos na areia só para não o ouvir.

Queria sentir o mundo a fervilhar debaixo dos meus dedos…
Deram-me o amor para guardar junto ao peito
E a noite para sufocar de paixão.

Ficaram com todos os meus desejos…
Queriam-me ver pobre de alma e solitária de corpo
Estes sonhos forretas!
Mas , fiquem a saber
Que é com um coração vazio em cima da mesa
Que me torno mais suculenta.

Daniela Pereira

Direitos Reservados