sexta-feira, abril 28, 2006

“Ao som de Spiralling de Antony and the Johnsons”




Perdoa-me porque consinto
Que estas lágrimas voltem a cair
Mas não consigo ensinar
Ao meu peito
Que a tristeza não tem valor.

Se hoje ouço melodias
Com os olhos molhados
Quero que saibas
Que não culpo a tua voz
Por nenhum momento de silêncio
Porque Só o meu coração
É culpado
Por amar tanto as tuas palavras.

Talvez se não ouvisse
Mais nenhuma música...
Se tapasse os meus ouvidos
Com muita força
Podia ser que estas notas sofridas
Não ecoassem dentro de mim
E que neste relógio
Que trago pregado na pele
Os minutos finalmente deixassem
De caminhar na areia do tempo
Com passos tão marcados.

Perdoa-me por continuar a afogar-me
Em todas as tempestades
Que se abatem na minha mente
Sem nunca tentar nadar
Para atingir a segurança de uma terra firme...
Mas acredita que os meus braços
Já não têm mais forças
E recusam todos os meus pedidos
E eu já não sei mais
Em que direcção
Devo largar os meus gritos de socorro
Porque o meu olhar confundiu o Norte
Ao se perder numa imensidão de estrelas
Todas as noites tentando adormecer
Sem te ter ao meu lado.

Ai, se eu pudesse escolher
Cada palavra que escrevo
Nenhuma soaria com esta dor
E todas estariam sempre
Para ti sorrindo
Com um brilho feiticeiro no olhar
Da primeira até
À ultima linha.

Por isso perdoa-me...

Mas não consigo evitar
Que elas por alguns momentos
Baixem os olhos entristecidas
Mesmo quando eu lhes afago a cabeça.

Só queria saber qual é o segredo
Para se estar sempre a sorrir
Sem fingir que se é feliz...
Como se pode desejar
Um corpo com fervor
Sem lhe poder tocar
Sabendo que só em sonhos
O poderás cobrir de beijos.
Como beijar uma boca
Com os beijos mais quentes
Sem sentir o calor desses lábios
A aquecer os teus.
Como sacudir os pensamentos
Para que eles não fiquem inertes
Seduzidos por um rosto
Que não lhes sai da cabeça.
Como fazer parar
A inspiração que te corre nas veias
Sempre que pensas em alguém.
Como calar nos teus dedos
Todos os sentimentos
Sem os amarrares atrás das tuas costas
Para que possas
Ter sempre as mãos soltas
Para dar uma carícia.

Porque me fizeste assim Meu Deus?
Porque não consigo odiar quem não me ama
E porque amo eu
Quem apenas não me odeia?
Porque vejo magia no brilho de uma estrela
Se todas brilham com a mesma luz?
Porque amo com tanto fogo
Estas palavras
Se na verdade és tu que eu queria poder amar?
De que me serve
Inundar os teus dias e noites
Com beijos e carinhos
Se nunca mais te vou ouvir dizer
Que eles são a tua alegria?


Ao azul deste céu
Não perguntarei mais nada
Porque sei que haverá
Sempre uma nuvem ocultando a resposta
No azul deste mar
Não deixarei flutuar
Mais nenhuma dúvida
E todos os pontos de interrogação
Que surgirem neste peito
Espero bem que as ondas os levem para longe de mim
Porque assim saberei
Que só salvarei as certezas
Quando estender o meu braço.



Talvez se soubesse
Como emparedar
Um coração na carne
Ele já não batesse mais
Sempre que sente os teus passos
E eu não ficasse mais
À espera do teu longo abraço
deitada nesta cama
Com cravos vermelhos
Desfalecidos aos meus pés


Por isso perdoa-me por todas as lágrimas
E por todos os sorrisos
Que trago dentro de mim
Sempre que tocas levemente no meu rosto
Porque não é apenas pele
Que sentes debaixo desses dedos...
É a minha alma que a ti se dá por inteiro com prazer.


Agora que deixei que estas palavras
Vissem a luz do dia
Sei que esta escuridão vai passar...
Por isso perdoa-me
Por não as deixar sempre
no escuro aprisionadas
longe do teu olhar sorridente
mas preciso de ver por momentos o sol
e só assim dissipo as minhas nuvens
para poder renascer para ti sorrindo...

Blue-27/04/06

quinta-feira, abril 20, 2006

O sexo e as palavras




Porque procuras o prazer
em cada canto da noite?
Em cada sombra da rua...
Mesmo sabendo
que elas para ti só se despem
na ânsia de sentir calor
na frieza da cidade.

Porque tens que embriagar
a tua vida errante
com gemidos fáceis
para puderes sentir
que o sol te queima
o corpo mesmo na escuridão?
Não preferes aconchegar essa nudez
no seio de uma alma que em chamas
arda por ti em silêncio?

Apenas te pergunto isto
porque sei bem
que assinas poeta
em todas as palavras apaixonadas
que cospes da boca
e admira-me muito que
ainda não saibas que de madrugada
toda as paixões se desvanecem como fumo.

Tu sabes que faço amor
como ninguém
com meia dúzia de palavras acesas
porque já me ouvis-te gritar louca de prazer
com as pernas escancaradas nesta folha...

Então porque insistes demente
em desejar a noite por inteiro?
se no fundo tu também sabes
que nada dá mais prazer
que amar incessantemente ao luar...


Daniela Pereira-20/04/06

sábado, abril 15, 2006

Sussurros e poesia-Parte II



Se alguém te perguntar se estás triste, sorri e mente. Não mostres os teus olhos vermelhos porque os homens preferem vê-los pintados de outra cor. Quando sentires frio dentro de ti, cobre-te de luxúria e prazer e espera que o teu corpo aqueça. Por precaução, costura o teu passado no decote e espera que num momento mais quente o rasguem de olhos fechados para não o verem...o mundo é mais compreensivo quando é cego.
Depois embrulha o teu corpo numa fita veludo e aguarda que um olhar te deseje como presente, mas não esperes receber flores da mão que te despir. ..porque as rosas são para os contos de fadas e tu perdeste a tua magia quando arriscaste amar a sério alguém. Agora do amor que sentes só mereces uma coroa de espinhos e as flores nunca serão para ti.
Então não chores nessa janela porque ninguém te vê por detrás desse vidro empoeirado , és invisível aos olhos de quem por ela passa . Sempre foste assim, apenas já não te lembravas de como era senti-lo...
É por isso que te refugias nas palavras como um vagabundo que procura abrigo em cada canto da rua? Não encontras palha para fazer o teu ninho e então gritas com elas para libertares toda a tua fúria contida. E porque gostas de manter aquela imagem suave e doce que acalma os outros sorris...e quem te acalma a ti, quando sentes que vais explodir em pedaços? Olhaste bem em teu redor?
Não te admires se não vires ninguém e não te belisques porque não é um sonho...é apenas o teu maior pesadelo.


Rebellion (Lies)
By The Arcade Fire
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Porquê ter medo da solidão
se a solidão é a tua única companhia?
Porque choras quando olhas
Para as paredes vazias?
Foram só recordações que delas arrancaste...
Tens tela e pincéis
Então, porque não pintas novos quadros?
Tens tantas cores nos reflexos das tuas lágrimas
Porque não tentas
pintar um arco-íris nos teus olhos...
Não desistas
De imaginar que salpicas o céu
Só porque Deus
Fez os teus olhos com a cor da terra...
Porque a tua imaginação
Tem asas
Sabes bem que o chão nunca poderá ser a tua casa...

Se tiveres de voar sozinha, então não receies a solidão do teu voo porque os pássaros abrirão caminho por entre as nuvens e o sol não te faltará. Tu és como eles e vives cantando sentimentos por isso nunca te pedirão que silencies a tua dor nem que escondas os teus desejos por conveniência só porque temem as tuas tempestades.
Tens nos dedos a força da liberdade das palavras e a coragem para encher o céu com palavras apaixonadas mesmo que o mundo teime em caminhar com os olhos postos no chão...
Pelo menos tu sabes como fazer dos teus lábios rebuçados e escolhes livremente as bocas que os poderão provar... não te limitas a distribuir a mil porcos os teus beijos como se fossem guloseimas só porque por eles salivam.

Por isso...

Beija estes lábios
que em chocolate
foram moldados
e deixa-te ficar assim
perdido na minha boca
até que o meu corpo
se ofereça a ti como sobremesa.
Depois com o meu coração nas tuas mãos
caminha lentamente
até aquela janela empoeirada onde eu chorava...
Então, abre-a com cuidado
para eu não a ouvir gemer
e solta-me com os olhos fechados
porque eu só
sei voar na escuridão...

Daniela Pereira-15/04/06

sexta-feira, abril 07, 2006

Sussurros e poesia-Parte I




Shiu não digas nada, por favor! Não corrompas a lealdade deste silêncio a dois e escuta comigo o que ele nos segreda enquanto sonhamos...

Não existe mais nada numa paisagem em chamas
para além de sombras e labaredas
que abraçadas com paixão
alimentam um fogo
com sonhos húmidos.

Tens carne que cheira a queimado
cravada na tua pele
e esse odor forte
que sentes quando inspiras
vem dos meus pedaços
que no teu coração arderam.

Espera, não grites ainda ....espera que eles te queimem por completo a alma. Depois sim, grita à vontade mesmo que eu já não te oiça. Porque esse teu grito vai-me encher de prazer enquanto dispo este corpo fútil de todas as sensações humanas para deleitar os teus sentidos com as minhas miragens. Podes vir comigo se quiseres, porque nesta cama vestida com lençóis de carne há sempre lugar para mais um...
Mas não venhas já, dá-me tempo para apagar todas as luzes do quarto porque quero a tua imagem à luz de velas forrando as paredes. Só assim o quarto ficará acolhedor para te perderes em devaneios mais quentes.
E na penumbra apenas te verei a ti porque só para ti farei poesia no escuro... para o resto do mundo estarei cega e muda...

Dois corpos nus
ainda vestidos
contorcem-se de costas voltadas
num êxtase solitário.
Não existe mais nada neste quarto
que deixei em chamas...
Nada mais escuto agora
que a noite se deitou em mim...

Só estes sussurros que escapam da minha boca
tentados pela poesia que declamas com o teu corpo...

Daniela Pereira-07/04/06