quarta-feira, outubro 27, 2004

Moribundos


Na voz muda ouço gritos lamentosos
rasgando a brisa matinal que sopra debaixo da ponte.
Gela os ossos nus dos novos moribundos
dos tempos modernos .
Desprevenidos os corpos caem em tentações
acenando com os braços perfurados pela dor fininha.
Procuram o espaço vazio ainda não molestado
na pele descolorada com o negro das nódoas tatuadas.
Pelas paredes nuas de tinta arrasta-se
uma alma que só conhece o chão por abrigo.
Os sorrisos nascem podres na sua boca desdentada
pela cárie produzida por uma cocaína barata.

2 comentários:

blueiela disse...

Kabullow,Vitor

É uma alegria tê-los por cá neste meu cantinho! :)
Se pudessem ver o meu sorriso neste momento,ele está bem rasgado.


um beijo para vocês amigos
Daniela

Paulo César disse...

O pico do álcool
(um grande poeta a morrer aos poucos...)


À hora certa
você descia pela avenida
em direcção aos mictórios
na esperança que os contornos se esbatessem
ou que pelo menos houvesse bulha entre portas.

E no cumprimento de um tal ritual bizarro
espantosamente ensaiou um cadastro a seu gosto
como se maldito fosse!

Paulo César