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Se a lua quiser ouvir os meus passos...
hoje estará surda na escuridão...
Não caminho...
deambulo...rastejo...tropeço...
mas não firmo o chão.
Há um gemido a menos no quarto
e o meu sonho não se vem...
esquecem-se os abraços prolongados...os dedos que se tocam...
o corpo entregue com pele e perfume...
os olhos que respiram alma em todas as sombras...
mas o meu sonho acha que não consegue vir
então foge do meu peito
quiçá livre e solteiro
com o sorriso à mostra nas traseiras
ou com as lágrimas coladas à porta da frente...
Segredos trocados...
feridas lambidas num beijo...
inseguranças reveladas ao lume...
carinhos pintados de olhos fechados ...
o mar a bater nos corpos em contra-mão...
A lua está rota e o luar afinal é reflexo de um vidro riscado...
O sol é quente porque usa termo ventilador atrás das nuvens e os seus raios são só vapor...
As maçãs do Paraíso têm bicho da fruta e a Eva tem o coração podre...
Os desejos são confeccionados com chocolate branco mas o seu recheio é feito de dor negra...
A ternura é bem acolchoada nos abraços,mas afinal é forrada com penas doces e só por isso nos aquece um pouco...
Somos drogados por voar com tão pouco no peito...
Deixa-me rasgar uma ou duas palavras da boca
mesmo que a sua falta me deforme o poema...
para os Deuses sou imperfeita
o que custará em mim descobrir mais uma imperfeição?
Até no Paraíso temos lama nos pés...
Daniela Pereira
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