domingo, outubro 04, 2009

Palavra nocturna...

Escrevi o teu nome numa pedra...

Pensei em deixar-te
sozinho junto ao rio...
Ficar a ver-te parada
a adivinhar que
novos passos te iriam pisar...
Mas tive pena...
Tive pena de te ver com o corpo tão marcado
e então deixei-te adormecido
nos seios das sereias do costume...

Talvez não fosse por pena...
Talvez fossem ciúmes
ou a tristeza de saber
que não fui eu
a deixar enterrada em ti
uma marca tão profunda
e que por mim
o teu peito
ainda está livre.

Escrevi-me em ti
com o pólen das flores
onde me foste arrancar
e nada ficou
depois de todos os jardins
se despedirem das nossas noites..

Escrevi o teu nome no vento...

E ainda hoje te vejo
aos círculos voando
com todos os olhares
que deixas-te para trás das tuas costas
amontoados em caixinhas
que apertas na tua mão...

Talvez devesse soprar-te com força...
ou então atirar-te friamente contra o horizonte..
Talvez assim pudesses
também ver o chão
chegar perto de ti...

Mas hoje escrevo-te em mil folhas e nada mais...
Podemos sempre rogar
por mais asas abertas
e chuvas doces por cair..

Mas hoje escrevi o teu nome numa pedra...
por fim...

Daniela Pereira
Direitos Reservados

5 comentários:

Anónimo disse...

Olá...

Dá uma espreitadela no meu blog ;)
www.ocantinhodamimi.blogspot.com

Beijos*

Paulo César disse...

Não escrevi o teu nome em lado algum.
O teu nome cola-se-me na boca
como um cigarro que se demora nos dedos,
compassivamente,
inilidível o seu significado,
bastante.
Não escrevi o teu nome em lado algum.
Mormente, as faúlhas crepitantes que o teu corpo ainda expele;
as suas formas perfeitas, magnificamente torneadas,
os sóis cravados nos teus olhos,
o sangue na guelra, os dentes rangentes, as narinas dilatadas.
Aquela palavra jamais pronunciada.
Não escrevi o teu nome em lado algum.
A rudeza da tua ausência persiste, inextinguível,
nos corredores da memória lúcida.
Os campos de papoilas onde floresceu o nosso amor
desverdeceram-se lentamente com o frémito das badaladas das estações.
Permanecerão, contudo, as impressões das mãos nos nossos rostos, inapagáveis.
Não escrevi o teu nome em lado algum.
O ar que respiro está contaminado.
O vírus insuprível entrelaça a medula, comprime-a.
Pensas em mim? Já pouco importa! A mágoa das imagens rentes ao chão.
A ponta do fio que guardaste brilha nas suas extremidades, mas não nos une.
O amor não perdoa. A pena capital sobre as nossas cabeças. O sacratíssimo purgatório das almas.
Não! Não escrevi o teu nome em lado algum
porque o tenho na ponta da língua.

AnaMar (pseudónimo) disse...

Belo o poema, belo o amor.
Escrito a quente.

Nehashim disse...

Bom dia.

Pedras podem-se atirar para longe, mais cuidado como se grava o nome, porque se for a cinzel, poderá durar por muitos e muitos séculos.

Fraternamente :.

ManivelasdaMente disse...

Mais outro poema de nota máxima!

http://manivelasdamente.blogspot.com/