domingo, agosto 09, 2009

Um coração (in)válido




Se o meu coração fosse um barco
a navegar com velas vermelhas
pintadas contra o vento...
O meu amor seria a ilha deserta...
porque o meu desejo naufragou...

Se o meu coração fosse uma serra
já teria rasgado o horizonte
de alto a baixo
para encurtar as distâncias...

Se o meu coração fosse de chocolate
desconfio que hoje não se derreteria
à primeira chávena quente oferecida...
Mas não nega
que deixar de sentir frio por dentro
lhe ia saber tão bem...

Encomendei aos Céus...
Flores para dividir com a terra
que encontrar no meu caminho...
Quero tirar o cheiro a pó
que as pedras ganham
quando os passos andam de costas voltadas
a trocar a direcção às voltas da vida...
Visto malmequeres a todas as lágrimas
mais duras que chorei
e a minha dor já tão madura
há-de ostentar cravos verdes no pescoço
para se sentir original....
Porque a tristeza
quer-se sempre mais bela
para alguém a apreciar...

Sevilhanas e santolas arejadas
vão dançar em cima do destino
até ele me pedir a conta
reclamando que o meu direito à festa chegou ao fim...
Há-de haver um doce para a sobremesa
e um vinho rasca
para beber à noite num jardim...
Sonhos que ficaram á porta
com medo de pedir para entrar
e palavras rotas
que se descosem na boca
sem dinheiro para sair...

Quebrei mil tormentas
sem promessa de ver o limite da tempestade...
Dobrei perdões de joelho
ao vento que passava por mim a assobiar..
e ao fim ao cabo
nada de novo se alcança
num mar onde os sentimentos se afogam
e as recompensas ficam guardadas...

Há sempre um mar bravio que nos rouba a vida boa no meio da viagem...
Há corações inválidos que perdem o prazo para amar...
Joguem-nos borda fora que atrás vem carne branca para trincar...
Estes estão crus por dentro...sabem a sangue ao paladar...

Daniela Pereira in (In)validar
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