segunda-feira, janeiro 10, 2022

Mutações

2022 é um novo ano. Dizemos sempre no início de cada ano, que vamos mudar, que vamos tratar mais de nós, respirar mais vezes, pensar antes de agir.. Cuidar do nosso corpo e da nossa alma. Mas raramente, o fazemos. Porquê? Sinceramente, não sei. Talvez seja apenas por preguiça, ou porque não é fácil sair da nossa zona de conforto. Nestes últimos dias, minto nestes últimos meses tenho sentido um conflito interno tremendo. Eu devo ser das pessoas, que mais se interroga e questiona, neste mundo. Dou imensa porrada em mim mesma.. Mas faço-o constantemente. Passei algum tempo, concentrada a ouvir e a mergulhar nos ensinamentos que visam, trazer tranquilidade à vida e aos nossos pensamentos. E acreditem que me esforço, para aprender com eles e aprendo. Aprendo aos poucos, mas aprendo. No entanto, por circunstâncias da vida... E muitos vão dizer, que nós, é que somos responsáveis, pelo modo como absorvemos as circunstâncias da nossa vida. A verdade, é que por vezes não entendo a necessidade, que o destino tem, ou porque é que a conjectura dos astros promove, ou porque é que as energias cósmicas oferecem ou porque é que Deus o Salvador tem tanta necessidade em testar, a nossa capacidade de adaptação a todas as "merdas" deste mundo. Porque a mais pura e dura realidade, é que às vezes cansa. E o ser humano vive 80% da sua vida a sentir-se cansado. Cansado porque corre demais para ficar em forma. Cansado porque quer ser excelente no seu trabalho e tem que mostrar evolução. Cansado porque em casa os filhos e a família exigem pão e atenção. Cansado, porque sofre perdas e acumula emoções por dentro até que transborda . A vida cansa. Morremos de medo da morte, dessa estagnação permanente do nosso ar. Mas vivemos 80% das nossas vidas, como sonâmbulos e mortos. Infelizmente, faço parte desse grupo de pessoas, que têm medo da morte, mas que também ainda não voltou a viver.
Talvez por isso, não é talvez.. Não há mas aqui.. É mesmo por isso! Porque ainda não consegui regressar à vida como desejo, que sinto uma urgência de ser perfeita. Não é amanhã, não é no ano seguinte... É hoje, é agora. Enquanto respiro e enquanto o meu corpo, ainda encontra em si forças para isso. Quero deixar a minha marca neste mundo, quero e preciso de criar algo só meu, irrepetível, único que faça toda a diferença. Qualquer pessoa, chega a um momento da vida em que só pensa em criar raízes... Descansar o corpo rodeado de amores nascidos das suas carnes. Passar os seus sonhos e lições de vida aos seus descendentes. Por circunstâncias da vida, que não pude controlar.. Talvez um karma de outra alma, que eu já fui, não posso ambicionar essa calma de prolongar o meu ser com genética e sangue. Então, tenho urgência em abraçar o mundo, em cuidar dele como se fosse um filho. O meu filho, o mais querido, o mais bonito ser que não poderei ter. Então dou tudo de mim, e quando dou tudo de mim, estupidamente, não me apercebo que abraço com muita força e que vai chegar a um momento que o sufoco. E eu sinto que tenho tanto amor para dar, que me esqueço da necessidade que também sinto em o receber. O amor deve ser uma doação, mas tenho momentos em que o suplico de volta. Mas o amor não é uma súplica, nem sequer é um pedido ou uma interrogação.. O amor é uma dávida, é um murmúrio tranquilo, é uma certeza. Por isso, eu digo com todas as letras que o mundo inteiro quero amar. Mas que ainda não sei como o fazer..
Quero amar de uma forma perfeita. E não falo do amor dos corpos, porque não sei se consigo acreditar novamente, que se consegue amar partilhando carne e gemidos. Falo de um amor maior, de um amor companheiro, de um amor telepatico, que comunica sem ver, que sente a nossa dor sem precisarmos de chorar, que pressente o princípio do nosso sorriso, sem que se lembre, sequer do que nos fez sorrir . Esse sim, é um amor perfeito. É um sacana de amor assim, que eu queria deixar no mundo, quando um dia partir. Fazer nascer, quer seja com palavras, quer seja com gestos... uma obra, que tivesse em si todo este amor. E eu morro por este sonho, por este desejo muitas vezes... Nesta busca imperfeita do meu ser. Neste castigo sangrento da culpa em cada erro que cometo. Eu morro várias vezes, e eu ensino-me cruelmente a renascer cheia de esperança, que no dia seguinte faço melhor. E quase sempre não o faço, porque regresso a mim.. a esta utopia urgente, de ser um raio de luz, que nunca um pedaço de escuridão, vai conseguir apagar. Então imagino-me, sozinha num palco, despida de merdas e de preconceitos.. Apenas eu, o mundo e as circunstâncias da minha vida. Porque a minha vida tem sido, uma peça de teatro e que bom seria, fazer dela isso mesmo, uma autêntica peça de teatro, que pudesse compartilhar com o mundo, sem me importar com julgamentos mundanos ou compaixoes. Mas queria mesmo, expor inteiramente, essa fragilidade linda e cativante, que todos escondemos no fundo mais secreto de todos nós. Podia fazer da minha vida, um longo monólogo com luzes fortes a encadear-me em cheio na alma... Um drama com tristezas profundas, daquelas que nos desidratam até à última lágrima de dor chorada. Uma comédia, uma sacana de uma comédia, de uma palhaçada de tão disparatada e confusa que ela pode ser. E o público, podia rir de mim sem medo de me ferir os sentimentos. Riam bem alto, com gargalhadas sonoras e cochichos mudos que eu ia na mesma escutar. Mas aquela seria a minha vida, é só eu a poderia representar. Não me importaria com nada, se fui perfeita, se soletrei as palavras num discurso claro, se falei demasiado depressa e me atropelei toda pelo caminho. Eu falo e escrevo depressa, sempre que o meu coração acelera.. É essa intensidade insana que me descreve. Que me afasta de um comum normal, que me aproxima dos deuses, que me permite ser guerreira, na frontalidade e dureza das batalhas, que me permite ser transparente no instante em que me obrigo a sofrer e a chorar. Que me faz questionar, as próprias questões que em mim complemento. Que me escraviza na percepção de sentir quando estou a perder. Que me deixa infeliz e derrotada num dia e no outro me faz levantar da cama com um desgraçado de um sorriso, que não sei explicar. Tenho urgência em construir, o que a vida em mim destruiu. Urgência em apanhar todas as flores e todas as pedras que a vida empurrou à força para dentro de mim, e dar-lhes casas e jardins para sempre. Para sempre, mesmo depois de eu partir.. Jamais irão apanhar chuva ou sentir qualquer frio. As pedras não irão mais ferir ou matar, nem fazer filhos fundidas no cimento cinzento das campas. As pedras vao construir casas, vão abrigar almas e animais sem abrigo. Dar lares e conforto, até aos mortos e condenados. As flores vão perfumar os mestres das obras e soprar nas pétalas carinhos e abraços, para o mais longe que o vento as conseguir soprar. E irão pousar nos regaços mais tristes e nos olhos mais esgotados. Quero investir em milagres e em sonhos, e não pensar que me irei desiludir. Quero ao menos tentar e isso terá que me chegar. Querem ver-me atrás das portas, escondida do mundo e virada para a parede da minha vergonha? Ou livre e completa no milagre de vida que na minha alma invento? Continua..numa reflexão perto de si.

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