segunda-feira, janeiro 17, 2022

Ode a um "se" poético...

Poeticamente falando da vida, sem abrir- lhe a boca...
Deixando as suas rotinas mais decoradas e mais bonitas.
Dando corpo às sombras e aos pensamentos, para que possam enroscar-se em mim.
Poeticamente acreditando na vida, sem lhe pedir certezas...
sem a julgar por nada e por coisa alguma.
Entro num frasco de vidro, como uma experiência ainda não concreta...
uma mistura mal amanhada de coração e muita dor.
O mundo mexe comigo...
o mundo envolve-me como um fragmento com corante,
sublima-me a razão, como se ela
sólida mas por instantes, pudesse terminar todos os seus gestos,
numa ingénua nuvem de vapor.

Poeticamente escrevendo sobre a vida,
sem a conhecer bem,
sem lhe adivinhar os rituais e os credos que a conduzem pelo presente.
Como se num poema, coubessem todas as tuas dores mais profundas
como se nele, conseguisses encontrar o ritmo das palavras,
para que as possas fazer, suspirar mais lentamente.
Como se num poema, a tua alma fosse mais límpida e com mais brilho...
Como se... este “se” que não se ausenta dentro de ti...
Este “se” que te atormenta a lucidez
e não te deixa viver,com a tua paz, sozinha e tranquila.

Odeias este “se” quando ele se apodera dos teus dedos e da tua poesia.
Poeticamente, eras um furacão que nada derrubava na passagem,
mas que sabia agitar todas as sensações.
Poeticamente, eras um mar, onde conseguias navegar sem direção
e não te importavas com nenhum naufrágio,
desde que pudesse dar à costa , com a tua alma despida.
Poeticamente, eras tempo sem medida,
com um pé no passado e o outro no presente,
sem medo de os calcar simultaneamente ,convicta e decidida.

Não te reconheces nesta poesia, falta algo para a sentires novamente tua.
Falta-lhe o coração acelerado...
Falta-lhe o erotismo dos corpos tatuados com uma só letra...
Falta-lhe a chama sedutora dos versos metáfora...
Falta-lhe a cor que encontravas, até com os olhos enterrados na escuridão...

Este “se” que não se resolve...
que não se compadece, com a tua procura amarrada firmemente,
às linhas e aos parágrafos de uma folha de papel.
Este “se” que não sente a dor dos teus dedos
pressionados contra o negro de um teclado.
Poeticamente falando da vida...
Poeticamente falando da vida...

Que vida, escrevo neste poema ?

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